terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Madagascar 2 - A Grande Escapada

Já não fazem desenhos animados como antigamente. Embora a frase expresse certa nostalgia e venha carregada com um tom melancólico, não são esses sentimentos que eu quero passar. Já não fazem desenhos animados como antigamente. A resposta? Que ótimo! Pois é, nada de contos de fadas, lições de moral, inocência ou mesmo finais felizes piegas. Os personagens dos longas de animação deixaram o Olimpo da perfeição (embora quase todos tivessem falhas de caráter, no fim descobriam que o importante é ser bom) e vieram habitar nosso mundo de imperfeições. E, não é de se admirar, estão cada dia mais parecidos conosco.

Madagascar 2 cumpre bem a regra das continuações animadas: é mais legal que a primeira parte, é mais ágil, mais divertida e carrega na overdose de piadas. Foi-se o tempo em que os comediantes eram os únicos que divertiam o público. Madagascar 2 é mais engraçado que 90% das comédias disponíveis nas prateleiras de recém-lançamentos das locadoras da vida. Fato. Daí ter sido um sucesso. Crianças adoram. E como elas nunca vão sozinhas aos cinemas... Se o primeiro Madagascar divertia os adultos com seus protagonistas cheios de neuroses e paranóias, suas referências cinematográficas, sua ironia e sarcasmo; a segunda parte parece querer só agradá-los. Porque, além de aumentar de forma cavalar os já citados pontos positivos, expressa bem o mundo louco e agitado em que vivemos, com uma sociedade cheia de tipos invejosos e que apresenta uma organização de fachada, com dilemas psicológicos impostos a cada um de nós diariamente: imaturidade, individualidade, incertezas sobre o que realmente queremos ser, escolhas erradas, amores fúteis - leia-se, atração pelo corpo, e revoltas contra o sistema, sem sequer sabermos qual real motivo da revolta (a cena da greve dos macacos é um bom exemplo dessa revolta, e qualquer semelhança com muita greve por aí não é mera coincidência.

Madagascar 2 também tem um ritmo acelerado demais. E não há porque negar que também seja de uma insanidade total. Se a cena inicial com um flashback da vida do leão Alex passa uma imagem errada do clima do longa, a cena seguinte, ao som da contagiante ‘Eu Me Remexo Muito’, nos situa novamente naquela realidade que conhecemos 3 anos antes. E as piadas são histriônicas. Não há um segmento sequer que não seja de rachar o bico. Mesmo nos momentos em que as piadas são visivelmente desnecessárias, não dá pra contar a risada. Só pra se ter uma dimensão das situações, a cena do desastre aéreo é mais engraçada do que todo o longa Apertem os cintos, o Piloto Sumiu!. Sem exageros.

Tudo está no seu lugar e todo mundo recebeu mais inspiração do roteiro. Se os pingüins eram os verdadeiros astros do primeiro filme, aqui eles ficaram com a sua real condição de coadjuvantes. Alex, Gloria, Marty e Melman deixaram as complicações com a falta de adaptação com um ambiente hostil de lado para cair, literalmente, na gandaia da savana. O filme só perde um pouco o ritmo quando foca nos humanos de verdade. Sinceramente, eles parecem menos humanos que os animais que os rodeiam. Estereotipados e eticamente nauseantes, se envolvem numa trama paralela de sobrevivência na selva que, apesar de essencial para o desfecho do longa, é praticamente descartável. O que importa é que, no final, todo mundo “remexeu” bastante. E já que eles resolveram ficar (ops, spoiler), que mantenham o ritmo de agora na inevitável e já aguardada parte três. E que o rei Julian venha novamente sem ter tomado o seu Gardenal.

NOTA: 9,0