quinta-feira, 13 de novembro de 2008

007 - Quantum of Solace

Não há nada pior do que gerar muita expectativa. Após o sucesso estrondoso de um longa, não é de espantar que o seu sucessor venha carregado de expectativas e com o peso de ser melhor em todos os aspectos. Cassino Royale provou que James Bond podia ser truculento, grosseiro e cru, além de ter os pés bem fincados na realidade e vir cercado de uma qualidade técnica inigualável. Quantum of Solace conseguiu manter o caráter e as características desse novo Bond encarnado por Daniel Craig, porém, faltou conteúdo, o recheio que confirmaria aquela qualidade, e até um pouquinho de bom senso. Apesar da ação realista, o público não é idiota. Daí ter frustrado tanta gente.

Hoje o pior inimigo de James Bond é uma sombra chamada Jason Bourne. Bourne, bem se sabe, foi criado tendo 007 como inspiração, ganhou cinismo pelas mãos do diretor Paul Greengrass, e terminou inspirando o jeito de ser do próprio Bond (o tal feedback da cultura pop). Bourne e Bond são personagens completamente diferentes em se tratando de personalidade e caráter, contudo, seus métodos de “trabalho” são análogos. E isto é péssimo, principalmente se levarmos em conta que O Ultimato Bourne ainda salta na mente. Entre entretenimento adulto e diversão escapista, o agente inglês preferiu a segunda opção. Não fui um dos muitos que se frustraram ao fim da sessão, mas confesso que, apesar de ter gostado, no total o filme não correspondeu as minhas expectativas. Craig ainda continua perfeito como este novo 007 e o diretor Marc Forster até que segurou bem as pontas. Só que faltou história. Nada contra o roteiro de Paul Haggis, mas a impressão que ficou foi que Forster queria mesmo era filmar ação, justo ele que prima bastante por história. Sem falar que, em determinados momentos, a trama fica um tanto confusa ao misturar a jornada pessoal de Bond e seu trabalho de espionagem envolvendo uma grande organização terrorista (a Quantum). Já com relação a ação, ela pulula ao borbotões. Quem foi apenas vê-la, deve ter perdido o fôlego. Daniel Craig bate com carro, cai de telhado, bate com lancha, corre, cai, pula de avião, corre no meio do fogo... de uma coisa eu tive certeza: o analgésico dele é bom pra caramba.

Não tinha porque reclamar. O importante mesmo é que toda a estética dos filmes de 007 estava presente. E isso já basta para a alegria de qualquer fã (como eu). Uma cena de ação antes dos créditos; a abertura estilizada cheia de siluetas femininas (a música insossa do Jack White e da Alicia Keys não azeda o caldo); um pouquinho de espionagem ali; um cadinho de ação beirando o inverossímil ali; uma Bond girl elegante, cheia de atitude e com uma forte bagagem emocional; muitos comentários sarcásticos, o charme irresistível de outrora e um desfecho que nos deixa sem saber o que esperar da próxima aventura. Ou seja, sem a obrigação de superar seu antecessor. Exagerado, excessivo ou frustrante, não importa. O certo é que ele caminha para se tornar, além do brucutu, o canalha que a gente sempre admirou. Para o bem ou para o mal.

NOTA: 8,5