terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Madagascar 2 - A Grande Escapada

Já não fazem desenhos animados como antigamente. Embora a frase expresse certa nostalgia e venha carregada com um tom melancólico, não são esses sentimentos que eu quero passar. Já não fazem desenhos animados como antigamente. A resposta? Que ótimo! Pois é, nada de contos de fadas, lições de moral, inocência ou mesmo finais felizes piegas. Os personagens dos longas de animação deixaram o Olimpo da perfeição (embora quase todos tivessem falhas de caráter, no fim descobriam que o importante é ser bom) e vieram habitar nosso mundo de imperfeições. E, não é de se admirar, estão cada dia mais parecidos conosco.

Madagascar 2 cumpre bem a regra das continuações animadas: é mais legal que a primeira parte, é mais ágil, mais divertida e carrega na overdose de piadas. Foi-se o tempo em que os comediantes eram os únicos que divertiam o público. Madagascar 2 é mais engraçado que 90% das comédias disponíveis nas prateleiras de recém-lançamentos das locadoras da vida. Fato. Daí ter sido um sucesso. Crianças adoram. E como elas nunca vão sozinhas aos cinemas... Se o primeiro Madagascar divertia os adultos com seus protagonistas cheios de neuroses e paranóias, suas referências cinematográficas, sua ironia e sarcasmo; a segunda parte parece querer só agradá-los. Porque, além de aumentar de forma cavalar os já citados pontos positivos, expressa bem o mundo louco e agitado em que vivemos, com uma sociedade cheia de tipos invejosos e que apresenta uma organização de fachada, com dilemas psicológicos impostos a cada um de nós diariamente: imaturidade, individualidade, incertezas sobre o que realmente queremos ser, escolhas erradas, amores fúteis - leia-se, atração pelo corpo, e revoltas contra o sistema, sem sequer sabermos qual real motivo da revolta (a cena da greve dos macacos é um bom exemplo dessa revolta, e qualquer semelhança com muita greve por aí não é mera coincidência.

Madagascar 2 também tem um ritmo acelerado demais. E não há porque negar que também seja de uma insanidade total. Se a cena inicial com um flashback da vida do leão Alex passa uma imagem errada do clima do longa, a cena seguinte, ao som da contagiante ‘Eu Me Remexo Muito’, nos situa novamente naquela realidade que conhecemos 3 anos antes. E as piadas são histriônicas. Não há um segmento sequer que não seja de rachar o bico. Mesmo nos momentos em que as piadas são visivelmente desnecessárias, não dá pra contar a risada. Só pra se ter uma dimensão das situações, a cena do desastre aéreo é mais engraçada do que todo o longa Apertem os cintos, o Piloto Sumiu!. Sem exageros.

Tudo está no seu lugar e todo mundo recebeu mais inspiração do roteiro. Se os pingüins eram os verdadeiros astros do primeiro filme, aqui eles ficaram com a sua real condição de coadjuvantes. Alex, Gloria, Marty e Melman deixaram as complicações com a falta de adaptação com um ambiente hostil de lado para cair, literalmente, na gandaia da savana. O filme só perde um pouco o ritmo quando foca nos humanos de verdade. Sinceramente, eles parecem menos humanos que os animais que os rodeiam. Estereotipados e eticamente nauseantes, se envolvem numa trama paralela de sobrevivência na selva que, apesar de essencial para o desfecho do longa, é praticamente descartável. O que importa é que, no final, todo mundo “remexeu” bastante. E já que eles resolveram ficar (ops, spoiler), que mantenham o ritmo de agora na inevitável e já aguardada parte três. E que o rei Julian venha novamente sem ter tomado o seu Gardenal.

NOTA: 9,0

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

007 - Quantum of Solace

Não há nada pior do que gerar muita expectativa. Após o sucesso estrondoso de um longa, não é de espantar que o seu sucessor venha carregado de expectativas e com o peso de ser melhor em todos os aspectos. Cassino Royale provou que James Bond podia ser truculento, grosseiro e cru, além de ter os pés bem fincados na realidade e vir cercado de uma qualidade técnica inigualável. Quantum of Solace conseguiu manter o caráter e as características desse novo Bond encarnado por Daniel Craig, porém, faltou conteúdo, o recheio que confirmaria aquela qualidade, e até um pouquinho de bom senso. Apesar da ação realista, o público não é idiota. Daí ter frustrado tanta gente.

Hoje o pior inimigo de James Bond é uma sombra chamada Jason Bourne. Bourne, bem se sabe, foi criado tendo 007 como inspiração, ganhou cinismo pelas mãos do diretor Paul Greengrass, e terminou inspirando o jeito de ser do próprio Bond (o tal feedback da cultura pop). Bourne e Bond são personagens completamente diferentes em se tratando de personalidade e caráter, contudo, seus métodos de “trabalho” são análogos. E isto é péssimo, principalmente se levarmos em conta que O Ultimato Bourne ainda salta na mente. Entre entretenimento adulto e diversão escapista, o agente inglês preferiu a segunda opção. Não fui um dos muitos que se frustraram ao fim da sessão, mas confesso que, apesar de ter gostado, no total o filme não correspondeu as minhas expectativas. Craig ainda continua perfeito como este novo 007 e o diretor Marc Forster até que segurou bem as pontas. Só que faltou história. Nada contra o roteiro de Paul Haggis, mas a impressão que ficou foi que Forster queria mesmo era filmar ação, justo ele que prima bastante por história. Sem falar que, em determinados momentos, a trama fica um tanto confusa ao misturar a jornada pessoal de Bond e seu trabalho de espionagem envolvendo uma grande organização terrorista (a Quantum). Já com relação a ação, ela pulula ao borbotões. Quem foi apenas vê-la, deve ter perdido o fôlego. Daniel Craig bate com carro, cai de telhado, bate com lancha, corre, cai, pula de avião, corre no meio do fogo... de uma coisa eu tive certeza: o analgésico dele é bom pra caramba.

Não tinha porque reclamar. O importante mesmo é que toda a estética dos filmes de 007 estava presente. E isso já basta para a alegria de qualquer fã (como eu). Uma cena de ação antes dos créditos; a abertura estilizada cheia de siluetas femininas (a música insossa do Jack White e da Alicia Keys não azeda o caldo); um pouquinho de espionagem ali; um cadinho de ação beirando o inverossímil ali; uma Bond girl elegante, cheia de atitude e com uma forte bagagem emocional; muitos comentários sarcásticos, o charme irresistível de outrora e um desfecho que nos deixa sem saber o que esperar da próxima aventura. Ou seja, sem a obrigação de superar seu antecessor. Exagerado, excessivo ou frustrante, não importa. O certo é que ele caminha para se tornar, além do brucutu, o canalha que a gente sempre admirou. Para o bem ou para o mal.

NOTA: 8,5

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Imagens do Além

Sabe aquela introdução da crítica de O Orfanato lá embaixo? Pois é, todo aquele blá, blá, blá, se é que alguém leu, também poderia servir de abertura aqui. Se O Orfanato é um exemplo de como se faz um filme de terror dos bons, Imagens do Além é o contra-exemplo. O longa tem simplesmente todos os defeitos que não deveriam aparecer em filmes do gênero. Tudo, mas tudo mesmo, que deveria ser evitado para não se cair na vala comum está presente. E o pior: ninguém parece incomodado com isto.

A história se passa no Japão. E é dirigida por um nipônico. Mas, diferente do que se pense, o longa é uma refilmagem de uma obra trash tailandesa. E o elenco americano só denota que, no meio dessa salada toda, o azeite é hollywoodino. Então, não é de se espantar a desgraça que esta marca às vezes proporciona. Sem ligar um pouco para a introdução coincidentemente fantasmagórica de Encontros e Desencontros (recém-casados se mudam para o Japão, ele fotógrafo, ela a esposa abandonada perdida num país estranho), somos jogados numa trama onde o espírito de uma mulher supostamente atropelada começa a perseguir os protagonistas e aparecer em fotos sem alguma explicação aparente. O problema é que a “surpresa” de todo esse mistério é, pra ficar dentro do tema espiritual, psicografada antes da metade da projeção. A partir daí, salvo alguma exceções como a presença assustadora da atriz Megumi Okina que interpreta o espectro amaldiçoado e a cena arrepiante dos vultos entre os disparos dos flashs fotográficos no escuro, o filme todo é um amontoado de clichês evitáveis. Parece até que os sustos - a maioria bem anti-climáticos, é bom ressaltar - eram mais importantes do que o clima aterrorizante em si, apesar do esforço evidente do diretor em querer preservá-lo. Faltou savoir-faire.

E ainda tem a dupla principal. Os dois até que se esforçam, mas não convencem como um casal. Não há química. A magérrima Rachael Taylor é quem se sai melhor na equação, embora vacile quando dá alguns pitis. Contudo, é intragável demais o modo como se envolve tão profundamente na história toda e não perde a sanidade. Maldita natureza humana, certo!? E Joshua Jackson (quem? Ah, o Pacey Witter de Dawson’s Creek), bom, melhor nem comentar. Pelo menos o final “cada um tem o que merece” ou “aqui se faz, aqui se paga” não deixa gancho para uma continuação. Hollywood um dia aprende, eu tenho fé.

NOTA: 6,0

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Orfanato

Terror é um generozinho de filme difícil de resenhar. Não liguem para o contraste, mas é mais ou menos como a comédia: a graça das piadas depende muito do seu estado de espírito. Não vou entrar em detalhes qualitativos, mas com o terror, a “graça” do filme também depende do seu humor. Às vezes o filme é uma porcaria, mas assistido num clima perfeito rende bons sustos. Todavia, um filme de apuro técnico invejável muitas vezes passa batido por excesso de expectativa. Essa discussão renderia uma redação, porém, tudo isso era apenas para ilustrar um detalhe: existem exceções à regra. E, apesar de raros, alguns filmes de terror te envolvem mesmo. Mesmo que você não queira. E O Orfanato é um deles.

O longa de estréia do mexicano Juan Antonio Bayona tem uma premissa simples. Envolve passado, crianças, paranóia, paranormalidade e espíritos. Filmes com enredo comum, quando bem conduzidos, rendem pérolas como Os Inocentes e Os Outros; nas mãos mercenárias de um diretor operário somam ao trash obras dispensáveis como O Amigo Oculto. Sob a direção de Bayona e com o amparo na produção de Guillermo del Toro (expert em orfanatos desde que fez A Espinha do Diabo), o filme não só é bem conduzido como evolui a cada corte. E apesar do óbvio, não esperem fantasminhas japoneses carregados de maldições. A diferença toda do longa está no fugir do óbvio, do não saber o que está acontecendo. Nada é explícito, ninguém morre sem motivo, nem sustos fáceis são jogados desnecessariamente. A “graça” está no bom jogo de mostrar pouco e aos poucos. O clima desconhecido e angustiante rege o tom aterrorizante. Os fantasmas aqui habitam seu purgatório particular, não querem mexer com ninguém e nem querem ser ouvidos. Nós, vivos, é que entramos sem ser convidados no seu mundo sobrenatural, e o sumiço de uma criança é o estopim que força-nos à curiosidade mórbida de descobrir o querem e se têm algo a nos contar. Maldita natureza humana!

Bem amarrado e de um primor técnico de fazer corar alguns longas de terror e suspense de Hollywood (a fotografia e a trilha sonora são bons exemplos), o filme até peca em determinados momentos, mas, de seu início arrasador (os créditos de abertura bem que poderiam ter saído da mente bizarra de Tim Burton) até seu clímax com uma reviravolta de trincar os dentes, não há quem não se envolva por inteiro. E seu final “feliz” vem apenas para comprovar uma tese de que mortos não fazem mal a ninguém, nós é que fazemos mal a eles. Ops, espero não ter estragado nada. Acho que a mestra das resenha dos filmes de terror, Thalita, não cometeria essa gafe. Quer saber, não entreguei nada não. Se você não viu, veja porque o filme é uma obra-prima a ser descoberta.

NOTA: 9,5

O Incrível Hulk

Ele voltou, o Hulk voltou! E voltou justamente num período de transição, fazendo seus estragos básicos como parte do plano da Marvel de dominação global. E, sinceramente, não foi exatamente da forma como eles planejaram. O segundo filme do Hulk é bom. E só. E nem adianta botar a culpa no Batman porque o mesmo só entrou em cartaz um mês depois. De quem foi a culpa, então? Da falta de experiência do diretor Louis Leterrier? Do ego de Edward Norton? Das pretensões exageradas da Marvel? Ou mesmo de Ang Lee, que fez o filme errado (ou certo) na época errada? Deus dirá.

O fato é que o Hulk não é um personagem carismático quanto, por exemplo, o Homem de Ferro - que, mesmo sem tanta popularidade, fez fortuna nas bilheterias um mês antes. E, apesar de ser querido entre os nerds (e as crianças), não é um herói para todos os públicos. Mas o detalhe de não ter arrecadado o que se esperava não está ligado somente a este fator. Como eu disse lá em cima, o filme é apenas bom. Não surpreende, empolga pouco e deixa aquela desagradável sensação de que poderia ser melhor. Mas não desanime: o filme tem seus momentos. Por favor, só não queiram que eu compare o Hulk que Ang Lee dirigiu em 2003 com este O Incrível Hulk. Para mim é o mesmo que comparar um Filé à Parmegiana com um Filé com Fritas. Dois pratos que, apesar do componente principal ser o mesmo, têm sabores completamente diferentes. Sem falar que há quem prefira mais um do que o outro. Então, são dois filmes bons e pronto. Assunto cinefágico encerrado.

Vamos aos prós: Edward Norton se enquadra melhor no papel de Bruce Banner. Nada contra Eric Bana (como disse Seth Rogen em Ligeiramente Grávidos, vamos beber está noite em homenagem a ele), o cara é um ótimo ator, mas era marrento e neurótico demais para o papel. Já Norton, com seu físico franzino e olhar de desespero, lembra bastante o Banner de papel como a pessoa mais improvável do mundo para se tornar um monstro verde, tal qual Bill Bixby, o ator que personificou o cientista na antiga série de TV. O filme tem mais ação, mais destruição, está carregado de referências ao universo Marvel, o Hulk está mais crível e tem um oponente à altura para brincar no clímax. Os contras: a edição é brusca (acredite, em 10 minutos de perseguição pelas favelas do Rio de Janeiro, sem pausa, Norton corre das 5 da manhã às 6 da tarde), o roteiro promove certas grosserias (em 17 dias Banner vai do Brasil aos Estados Unidos a pé!), está repleto de tomadas desnecessárias e, por vezes, chatas - principalmente aquelas que emulam a já citada série de TV, Liv Tyler não convence como cientista e o humor (quê?), com exceção de uma cena bem sacada, é forçado demais. De resto, “Hulk esmaga”. Nem vale o fato de o filme deixar um gancho para uma seqüência (que incluiria o vilão Líder). Devido a baixa bilheteria só veremos o Gigante Esmeralda no filme dos Vingadores. Em tempo: o melhor (mesmo) do filme é a ponta de Robert Downey Jr. como Tony Stark. Depois do sucesso acachapante de Batman - O Cavaleiro das Trevas, espera-se que a Marvel aprenda a lição. Que venha o próximo herói da lista.

NOTA: 7,5

Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

A vingança é um prato que se come frio. Será que existe alguém nunca escutou isto? Só que, pensando bem, por que não esquentar o prato depois de pronto? A metáfora do dito popular evidencia bem a falta de pressa do algoz em concretizar um ato tão brutal, ao mesmo tempo que denota certo prazer com sua conclusão. E a minha brincadeira extra-metafórica, apesar de abrir um entendimento diferente do óbvio, serve apenas para aludir a idéia bizarra de vingança do protagonista deste filme. O barbeiro Benjamin Barker, depois conhecido pelo nome de Sweeney Todd, é apenas mais um personagem entre tantos já retratados nas mais diferentes formas de arte (e na vida real) que não se apressam em “descontar” certos traumas do passado. Porém, é o primeiro que resolve, da forma mais grotesca possível, requentar o prato antes de comê-lo. Alguém se habilita a provar?

A história de Sweeney Todd não é nova, e já foi levada ao cinema pelos menos umas 6 vezes. Entretanto, este Sweeney Todd, na forma de musical e baseado numa encenação teatral é, no mínimo, a mais curiosa. Se a história em si - barbeiro assassino usa o corpo de suas vítimas para rechear as tortas de sua ex-senhoria, já é bizarra por demais, encontrou em Tim Burton (um diretor com um fascínio patológico por tipos fora do comum) seu regente mais que perfeito. Sim, Burton assinando um musical. Até que não é novidade, já que ele flertava com o gênero desde O Estranho Mundo de Jack. E assinando um verdadeiro musical em essência e conteúdo ele se mostra bastante experiente e seguro. E não há porque negar: Sweeney Todd é um produto Burton desde os créditos de abertura. Nunca a Inglaterra vitoriana foi tão gótica. E por mais que se pense que o filme é uma grande porcaria, acredite, ele é uma grata surpresa. Garanto que, fã ou não do diretor, você vai adorar a obra. Até mesmo se não suportar ver atores cantando. Seguindo a risca a nova cartilha dos musicais, aqui ninguém pára a ação para cantar a ação, apenas continuam a fazer o que estão fazendo e cantam os diálogos com a maior naturalidade. Cortesia do roteiro coeso de John Logan e da orquestração perfeita de Stephen Sondheim, o idealizador em pessoa da versão teatral em que o longa se baseou. O maestro mistura bem o gótico com o depressivo e o lírico com festivo sem perder o tom um só minuto. E sim, pela primeira vez em 14 anos Danny Elfman não assina a trilha sonora. Mas ele não foi esquecido pelo maestro. Os acordes aterrorizantes da abertura bem que lembram os do ex-Oingo-Boingo.

Tudo isso ainda não foi motivo para convencê-lo a encarar uma sessão? Pois bem, ainda temos Johnny Depp como protagonista. Mais uma vez o ator provou ser o ideal para encarar um personagem fora do comum. E todos nós sabemos que ele rende mais que o esperado nas mãos de Tim Burton. Seu Sweeney Todd, apesar de ser a cara de Bento Carneiro (o vampiro brasileiro!), é interpretado com tanta perfeição que parece ter sido feito exclusivamente para ele. A empatia com o público é imediata, por mais sanguinário que seu personagem seja. A gente até torce para que ele mate mais. E o mais incrível é que ele encontrou em Helena Boham-Carter sua parceira legítima. A química entre os dois é surpreendente. É como se eles tivessem nascidos um para o outro. Atuando pela primeira vez juntos, eles deixam um gostinho de ‘quero mais do dois’ a cada segundo que não estão juntos. Um bom exemplo dessa química é quando os dois cantam quanto valeria cada torta medida pelo status da vítima que irá recheá-la. Veja e comprove.

Ainda incrédulo? Bom, o filme não é só sangue, trevas, vingança e canções depressivas. Burton ainda pinta seqüências com o seu colorido infantil e fantasioso. A melhor cena do filme foge de seu próprio padrão: em devaneios, a senhorita Lovett canta como seria o mundo apenas dela e de Todd, e apresenta o melhor de si, do Depp ator e do Burton diretor. Mesmo que o clímax não seja tão apoteótico e o final fuja um pouco do que se espera - sendo até um tanto intragável -, você já foi manipulado pelo trio durante quase duas horas e nem percebeu. Em meio a tantos filmes sérios e blockbusters sem cérebro, Sweeney Todd ainda é um ótimo aperitivo. Goste você de torta ou não.

NOTA: 8,0

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas

O melhor filme do ano! Indiscutível. Incontestável. Absoluto. A desvantagem de ser cinéfilo metido a crítico, é que é quase impossível ser imparcial nas resenhas. Não dá pra ser com Batman. Logo de cara vem aquele eterno dilema cinematográfico: pode uma continuação ser melhor que o filme original? A resposta, como já se foi provado algumas vezes, é sim. No caso de O Cavaleiro das Trevas, o dilema é outro: existirá alguém que faça qualquer coisa melhor doravante? Duvido. Não se trata apenas de um filme. Estamos diante de um evento cinematográfico do porte de um ...E o Vento Levou, um Ben-Hur, um O Poderoso Chefão. É um épico. No final da sessão você fica com a impressão de que viu a história acontecer. Críticos preconceituosos e velhotes antiquados sem infância tomem essa: a partir de agora, os filmes de heróis baseados em HQs subiram de nível e já podem figurar facilmente no panteão dos clássicos. Quem diria.

Antes do filme estrear, o que se ouvia era que O Cavaleiro das Trevas seria o Matrix Reloaded dessa nova franquia. Pois bem, depois de assisti-lo, conclui que o longa está mais para O Império Contra-Ataca. Tal qual o capítulo do meio da saga criada por George Lucas, este Batman evolui na qualidade, amplia a mitologia, deixa o clima mais sombrio e pesado, bombardeia o espectador com reviravoltas de arrepiar e aumenta a dose da ação, tornando-a necessária para o desenrolar da trama. E que cenas de ação, hein!? Sem falar que vemos o vilão mais insano dos quadrinhos se tornar o maior vilão da história do cinema. Esqueça a interpretação espalhafatosa de Jack Nicholson no filme de Tim Burton. O Coringa desse novo Batman é mais perigoso e anárquico que qualquer outro que se tenha notícia. É bom que se saiba que eu voto a favor do Oscar póstumo a Heath Ledger. E não o de coadjuvante, mas o de ator principal, afinal, o filme é todo dele. Em nenhum mísero instante você consegue enxergar ou lembrar do cara que já foi cowboy gay e galã cabeludo de filme teen. O que vemos é um ator de verdade, sem maneirismos, dando tudo de si sem se esforçar, rendendo mais que o esperado e encarnando, literalmente, um ser complicado, sem alma, passado ou futuro. Alguém que não tem nada a perder e não está nem aí pra ninguém. O Coringa aqui ainda é um palhaço. Só que não mais daqueles que só te fazem rir, mas dos que te fazem chorar de medo. Se o filme merece todos os elogios que anda angariando, é por conta de Heath Ledger.

Mas não é só isso. Para se tirar dez numa prova, você precisa acertar todas as questões sem errar uma vírgula sequer, correto? Christopher Nolan assim o fez. E até mais do que precisava. Se você olhar bem, vai notar que Bruce Wayne/Batman tem o mesmo destaque que todos os outros personagens. Todos têm o seu momento. Todos têm o seu mérito. Não estão ali apenas para fazer figuração, eles são parte da trama, parte da vida de Batman. E Nolan dá espaço para grandes atuações de todos. Ponto para Christian Bale e Gary Oldman que, como veteranos, abraçam de vez seus personagens. E para Aaron Eckhart que descobriu a essência de Harvey Dent, o “cavaleiro branco” e do vilão Duas-Caras, criado, como Batman, da tragédia. Só resenti que a Maggie Gyllenhaal tenha tido menos tempo de cena que sua antecessora no papel de Rachel Dawes, Katie Holmes. Mas sua saída era necessária. Era um dos catalisadores do caos. Falando em caos, diga-se que o filme é sobre ele. Sobre descontrole e insanidade. E Nolan provou mais uma vez que é um dos melhores diretores deste século, pois em meio a tanta bagunça, tramas paralelas e reviravoltas, ele não perdeu sua sanidade e o controle em momento algum.

Digamos também que o filme é sobre a linha tênue que separa o herói do vilão, a razão da emoção. É sobre perdas, sobre responsabilidade, sobre escolhas e decisões difíceis. É sobre achar sua cara-metade, a parte que completa sua personalidade, seja ela um palhaço sádico, seja ela parte do seu rosto desfigurado. É sobre bem e mal e sobre como os dois podem ter o mesmo peso numa balança. Some-se a tudo isso uma fotografia dark grandiosa (Oscar?) e cenas de te fazer pular de emoção da poltrona e o resultado final, é sim, o melhor filme do ano. Pena que o espaço aqui é limitado, porque eu poderia passar o dia inteiro falando bem de O Cavaleiro das Trevas. Para mim, o ano pode se encerrar aqui.

NOTA: 10

Juno

Olha, eu não sou hipócrita. Filme bom de verdade pra mim tem que me deixar feliz dos créditos iniciais ao finais. Tem que me surpreender. Juno estava há pouco na minha lista de prioridades. Porém, admito, fui assisti-lo com um certo medo de me decepcionar, algo comum de minha parte ao gerar expectativa demais perante tantos elogios e críticas positivas. Mas, que surpresa foi a minha quando o filme acabou. Descobri que o melhor filme do ano passado era o mais improvável de todos. Se os irmãos Coen, Paul T. Anderson e Ridley Scott provaram ao mundo como se faz cinema de verdade, Jason Reitman, diretor de Juno, quis apenas contar uma corriqueira história de amor. Apoiado no roteiro extraordinário de Diablo Cody, ele não fez só um filme. Perpetuou um clássico. Pode ter certeza.

A espinha dorsal do longa é a simplicidade. É o fato de que as melhores coisas da vida se escondem nos atos mais simples do nosso cotidiano. E a Juno interpretada por Ellen Page é a personagem feminina mais completa já vista no cinema desde Scarlett O’Hara. Sério. Juno é tipo de garota que qualquer um queria ter como namorada; qualquer pai queria ter como filha e qualquer garota daria a alma para ser. Se seu parceiro em cena, Paulie Bleeker (o péssimo Michael Cera), é sem sal demais, Juno é um sachê de Sazon, que realça o sabor e dá cor a todas as cenas que os dois fazem juntos.

Juno pensa, fala, age e ama diferente de qualquer adolescente que você conheça. Por isso não é um estereotipo, nem um clichê - é apenas melhor que todas as outras. E o fato de ter engravidado num vacilo, mesmo com a maturidade que tem, não altera sua personalidade. Tudo no filme é perfeito. Olha, a opinião é pessoal, mas para qualquer um que tenha um pouco de sensibilidade e realmente goste de cinema, não há porque discordar da afirmação. A trilha sonora e a fotografia indie, a edição caprichada, os diálogos... ah, os diálogos. Eles fluem com uma naturalidade tão grande que a cada novo fotograma uma pérola é proferida por alguém. São tantas palavras expressivas, tantas citações, tanta cultura pop que a Diablo Cody mais parecia um Tarantino de saias. Só ele mesmo para inserir uma discussão sobre clássicos de H. G. Lewis e Dario Argento sem parecer banal. Os coadjuvantes também ajudam no resultado final. J. K. Simmons está exemplar como o pai moderno de Juno. Jason Bateman e Jennifer Garner como o casal que adotará a “coisa” que Juno carrega no ventre também. O primeiro representa a ala masculina frustrada com a vida que leva. Alguém que precisa reavaliar sua vida e o seu conceito de amor. Sua alma gêmea pode estar no lugar em que você menos imagina e não na mulher mais bonita que você encontra. Já ela representa a ala feminina careta, a ala daquelas parceiras que privam os maridos e namorados do que gostam só porque aquilo as desagrada. Mas demonstra uma sensibilidade fora do comum. Enfim, os superlativos, como se vê, são intermináveis.

Para encerrar, li uma crônica do jornalista Dagomir Marquenzi há alguns dias, que fala a respeito das seqüelas que os grandes filmes deixam na gente. Pois bem, Juno deixou uma seqüela irreversível em mim. No desfecho da obra, quando Juno e Paulie formam um dueto e entoam a belíssima Anyone Else By You, eu queria mais algumas horas de Juno no meu DVD. Me enchi de falsa esperança de ver um impossível Juno 2 ou Juno 3. A adolescente Juno, com ou sem barriga, era o que eu queria que minhas filhas fossem. Só não sei se seria um pai compreensivo como o dela. Bom, é melhor parar a conversa por aqui.

NOTA: 10

Kung Fu Panda

Meu filho de 5 anos praticamente não riu quando assistiu Kung Fu Panda. Eu também não. Mesmo assim, a nova animação da Dreamworks é divertida pra caramba. Não espere a ironia inteligente de Shrek. Nem os bichos neuróticos de Madagascar. Ou mesmo a crítica escancarada de Os Sem-Floresta. O que temos aqui são bichos fofinhos que lutam Kung-Fu. É uma história de obstinação, de confronto entre o bem e mal, recheada de filosofia oriental e muita lição de moral. Vendo por este lado, o longa não faria feio se trouxesse o slogan da Disney na abertura. Entretanto, há um diferencial: a dose cavalar de humor. Só que, neste caso, não aquele humor sarcástico e histriônico que é marca registrada daquelas animações citadas, e sim, o pastelão, daqueles que enrubesceria qualquer personagem metido a engraçadinho do estúdio do Mickey; daqueles simples e inocente, igualzinho o protagonista do longa.

Mas se o humor é babaca e só agrada às crianças igualmente babacas (você riu?), a animação é de encher os olhos. Se Wall*E quis provar que poderia extrapolar os limites entre a animação e a realidade, Kung Fu Panda faz questão absoluta de mostrar que é, legitimamente, uma animação. E que limites também podem ser quebrados dentro do próprio gênero. Isto é o legal do filme. Seu início vertiginoso, narrado em tom de fábula pelo protagonista Po, mais parece um desenho de Genndy Tartakovsky. Segue-se a ele a história do panda balofo que quer ser lutador de Kung-Fu e acaba, involuntariamente, caindo no caminho da escolha do novo Guerreiro Dragão, surpreendendo a todos e a si mesmo. Bom, basta ter 5 anos para saber que fim o longa vai tomar, mas até lá, somos agraciados com cenas espetaculares de luta e paisagens deslumbrantes. Se existisse Oscar de Melhor Fotografia para um longa de animação, Kung Fu Panda seria o grande candidato à vitória.

Só que o filme não é panda o tempo inteiro. Além de Po, ainda temos os Cinco Furiosos (a Tigresa, a Garça, o Louva-a-Deus, a Víbora e o Macaco), o mestre Shifu e o vilão Tai Lung. Estes dois últimos são o destaque do longa. O primeiro, sábio e ágil, parece uma mistura de Yoda com Pai Mei. O segundo, ágil e mortal, bem que parece com Jet Li em seus raros momentos de vilania. Pois é, e as referências, outra marca registrada da Dreamworks, não param um só instante. É quase impossível não ficar puxando pela memória a penca de filme de artes marciais que você conhece e que, com certeza, serviram de inspiração para algum lance da animação. Mas aqui, as lutas deslancham sem a necessidade de cabos. Por serem animais de movimentações distintas - e por ser um desenho, claro -, a agilidade com que lutam é crível o bastante a ponto de nos deixar com um sorriso infantil no rosto quase o tempo todo. Resumindo tudo: genial.

E se o protagonista em sua santa inocência, apesar do carisma e da simpatia, não convence como guerreiro e só te faz rir (ei, essa era a intenção, não era!?), os coadjuvantes temperam o caldo. Entre cenas de cair o queixo (a fuga de Tai Lung e a luta na ponte são bons exemplos), humor infantil e um desfecho moralistamente óbvio, salvaram-se todos. Agradou a meu filho. Agradou a mim também. Mas, quem sabe eles não melhoram numa possível seqüência. Nós dois estaremos lá de novo, pode ter certeza.

NOTA: 9,0

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Cloverfield - Monstro

Eu juro que não vomitei. Nem fiquei enjoado. Muito menos tonto. Agora, uma coisa é certa: a câmera na mão que registra todo o longa Cloverfield - Monstro é um recurso, por vezes, cansativo. Eu, em minha santa empolgação, às vezes gritava inconsciente ao cinegrafista: “Segura essa merda direito!”. Coisa de nerd. Pois é, e foi justamente por eles (e pra eles) que Cloverfield nasceu. Para o bem, óbvio.

Em meio a tanto caos e destruição, a sensação de insegurança que ronda o filme é quase palpável. Depois dos atentados ao World Trade Center em 2001, qualquer metáfora sublinhar vira paranóica coletiva. É como se fossemos inúteis perante um mal desconhecido. “Será que são terroristas?”, pergunta alguém após o primeiro impacto à chegada de, er, algo. E é aqui que o filme realmente começa. Minutos antes somos apresentados rapidamente aos protagonistas numa festa de despedida de um deles, Rob (Michael Stahl-David). Tudo devidamente registrado numa câmera digital. Eis que de repente, o susto dá lugar a curiosidade. A curiosidade - mesmo ante um perigo eminente - dá lugar ao fascínio (como na cena espetacular da cabeça da Estátua da Liberdade caindo no meio de Nova York). Até que o pânico e o desespero vem a tona e tomam conta de todo mundo. Se não fosse a maldita campanha de marketing viral que tomou a internet e transformou o filme em cult antes mesmo de estrear, a agonia proporcionada pelo medo do desconhecido também tomaria conta da platéia. Sem falar no desnecessário subtítulo nacional que, de cara, já estraga a surpresa. Mesmo assim a tensão ainda é crônica.

Mas, e o filme, é bom? Com certeza. Principalmente por conta de sua metragem (84 minutos), que não deixa a destruição desenfreada exceder os limites da paciência. Porém, mesmo curto, parece que o filme não vai acabar nunca. Juro por Deus. E, como eu disse no início, o corre-corre e câmera na mão, além da escuridão, deixam-no arrastado e, de certa forma, cansativo. De ruim, só. Não me importam certos detalhes supérfluos do tipo ‘por que a bateria da câmera não acaba’ ou ‘por que o cara continuava a filmar no meio de tanta destruição’; isto eu deixo para aqueles cinéfilos-cabeça que querem achar defeitos óbvios em um longa de ficção (dããã). Para quem gosta mesmo de filmes de monstros e de uma boa ação despretensiosa, Cloverfield é um prato cheio. E fora a inspiração nítida em Godzilla e no bagre gigante do recente O Hospedeiro (digamos que o tal monstro seja uma mistura dos dois), esta pérola produzida e idealizada por J. J. Abrams é um caldeirão de referências pop. Fazendo uma comparação bizarra, Cloverfield é uma mistura improvável de A Bruxa de Blair com Vôo United 93. Como esses dois longas, também é uma experiência e tanto.

NOTA: 8,5

Antes Só do Que Mal Casado

Vou lhes contar uma coisa sobre os irmãos Farrelly: os dois são mestres no segmento do humor grosseiro e escatológico. Você já sabia disto? Que bom. Só que, justamente por ostentar esse título entre o público, eles acabam o desgostando a cada novo longa-metragem. Eles nos devem uma nova comédia babaca nos moldes de Debi & Lóide e Kingpin. Chega de tentar ser romântico perante tanta situação inconveniente. Os caras padecem da Síndrome de Shyamalan (ou Shyamalan padece da Síndrome Farrelly, tanto faz). Tal qual o diretor indiano, os irmãos sempre deixam a expectativa de um novo filme à altura de seu maior sucesso. A diferença básica é que, Shyamalan, depois de O Sexto Sentido, conseguiu fazer outras obras-primas de tamanha importância, apesar dos protestos. Já os Farrelly, depois de Quem Vai Ficar com Mary?, tentam - e não conseguem - fazer sempre outro Quem Vai Ficar com Mary?. Eita, carma. Earl explica...

Este Antes Só do Que Mal Casado não foge a regra. O filme até que é bom, arranca altas risadas em determinadas cenas em sua primeira parte, com piadas de extremo mau gosto (e sem gel no cabelo). Mas em sua segunda parte... é aí que residem todos os problemas da comédia. Onde foi que eles erraram? Justamente no ponto de tentar salvar um filme que não estava precisando - e nem querendo - ser salvo com romantismo desnecessário. O que começou como uma comédia engraçadíssima terminou como uma comédia romântica piegas.

Na primeira parte, temos Ben Stiller (bisando a parceira com os Farrelly de Quem Vai Ficar com Mary?) e a loira Malin Akerman dando um show de humor nas situações mais histéricas e constrangedoras possíveis (esperem para ver as cenas de sexo entre os dois). Além de um Jerry Stiller, pai do protagonista dentro e fora das telas, sacana e desbocado. O que surpreende nesta primeira metade, é que a força motriz do longa não é Stiller e sua eterna cara de azarado, e sim, a atriz sueca Malin Akerman. A mulher consegue passar da meiguice ao histrionismo com a maior naturalidade do mundo. É com ela que estão as cenas mais engraçadas. De namorada dos sonhos, ela se transforma em pesadelo de esposa. Só que, quando tudo ia bem, no meio do caminho surge Michelle Monaghan como uma luz no fim do túnel do protagonista. Pois é, foi a partir daqui que o filme se perdeu tentando se encontrar. Nada contra a moça, ela até que é boa atriz. Mas o seu semblante, em determinados momentos, evidencia bem a situação: ela não queria estar ali. Como disse bem minha esposa no fim da sessão, “a outra sempre atrapalha e estraga”.

Mesmo com algumas cenas hilárias em sua segunda metade, o foco principal virou a busca pela mulher ideal e uma nova chance para o amor. Blá, blá, blá. Se a trilha sonora pop encanta (com meia dúzia de clássicos de David Bowie), a química entre Ben Stiller e Michelle Monaghan desencanta. A redenção do protagonista se torna a maldição do filme. E apesar do final boboca, fique atento aos créditos finais, onde a suequinha ninfomaníaca aparece no meio deles para fechar sua participação com chave de ouro. Essa moça tem futuro. Já com relação aos Farrelly, melhor sorte da próxima vez.

NOTA: 6,0

quarta-feira, 25 de junho de 2008

O Gângster

Já não se fazem mais filmes como antigamente. Essa foi a certeza que tive quando assisti a O Gângster. Por mais clichê que possa parecer o comentário, ele é o que melhor define a obra. “Já não se fazem mais filmes como antigamente”. A frase devia estar exposta no pôster assinada por algum crítico meia-boca de algum jornal ou revista de renome do país. O Gângster é o tipo de filme raro hoje em dia. Do tipo adulto, cerebral, linear e envolvente. Mais ou menos do tipo que se fazia nos anos 1970, onde os cineastas pariam arte, mesmo nadando contra a corrente do correto; onde se faziam filmes com amor, mesmo contra as imposições dos estúdios e ainda eram um sucesso. O Gângster não é um mero retrato daquela época, ele é daquela época em todos os sentidos. E justamente por este motivo dá pra perceber que, iguais a ele, já não se fazem mais como antigamente.

Uma das coisas interessantes de O Gângster é que você assisti a dois filmes pelo preço de um. Não são só duas histórias que seguem paralelas e se encontram depois de 135 minutos de projeção, são realmente dois filmes distintos. No comando de um, está Denzel Washington como o mafioso Frank Lucas; no do outro, Russell Crowe como o policial incorruptível Richie Roberts. O único elo entre os dois “longas”, mesmo que involuntário, é um surpreendente Josh Brolin. Rapaz, o cara está sensacional. Com um bigodão a la Danny Trejo, voz possante e atuação assustadora (no bom sentido), ele consegue ser ameaçador e peita Washington e Crowe, dois atores bem superiores a ele, e se mantém em pé de igualdade. Ponto para o diretor Ridley Scott, que orquestrou com uma pacificidade incomum uma obra-prima urbana, algo que ele devia ao público desde de Thelma & Louise de 1991. Entre seus clássicos, agora, existe um filme de visual comum, atual (mesmo passado na década de 1970), sem abusar de uma edição frenética e sem muito barulho, ou efeitos especiais de ponta.

Se os dois atores principais do filme não foram indicados ao Oscar, tudo bem. Quem se importa com indicações? Denzel Washington dá um show como o negro mais poderoso do Harlem nos anos 1970. Seu segmento mais parece um produto da Blaxploitation, tamanha a quantidade de negros e black music que adornam sua trajetória. Washington, como bom ator que é, faz seu Frank Lucas expressar muito do que sente com um simples olhar. Ele propõe uma atuação visceral e ao mesmo tempo discreta, tal qual a movimentação de seu personagem no mundo do tráfico, apesar de alguns chiliques de agressividade no melhor estilo Joe Pesci dos filmes de Martin Scorsese.

Com relação a Russell Crowe, aqui em sua terceira parceria com Ridley Scott, não se tem muito a dizer. Ele é um dos melhores atores deste século e simplesmente desaparece no personagem, tamanha sua dedicação a ele. E se ele anda, em determinados momentos, como John Nash, o matemático esquizofrênico que ele deu vida há 7 anos, isto não compromete o seu trabalho. Sua história tem a mesma desenvoltura e qualidade de um filme de Sidney Lumet, e seu Richie Roberts tem semelhanças de sobra com o Frank Serpico, interpretado por Al Pacino, num dos melhores longas do mestre em questão. Scott fez um filme dos anos 1970 que ele não conseguiu fazer naquela década. Só ressenti que o aguardado encontro entre os dois protagonistas tenha se restringido a alguns minutos, deixando uma sensação de “muita expectativa para nada” semelhante a do face/off de Al Pacino e Robert De Niro em Fogo Contra Fogo. Tudo bem que eles já se digladiaram na bagunça trash chamada Assassino Virtual, mas este encontro era diferente. Tinha o peso de uma estatueta dourada na estante. Mesmo assim compensou. Quando Washington sorri para Crowe e solta seu último 'my man' , dá pra perceber que tudo valeu a pena. E é por isto que, mesmo entre piratas, orgros, robôs gigantes, heróis aracnídeos e um espião desmemoriado, O Gângster figura, com louros, entre os melhores do ano passado. Sem nenhum dúvida ou objeção.

NOTA: 9,5

terça-feira, 27 de maio de 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

Sabe aquelas festas de revival dos anos 1980? Quem está na minha faixa de idade já deve ter ido a alguma. No início você está com aquela euforia toda. Dança, pula e canta. Só que, da metade para o fim da festa, você começa a cansar daquilo tudo e aquela animação inicial se transforma em chatice. Pois bem, sai da sessão de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal com a mesma sensação. Todo aquele prazer de ver Indy pela primeira vez na tela grande, todo o saudosismo de uma era e toda a nostalgia foram dando lugar a frustração do óbvio. Mais do mesmo. Calma, não estou dizendo que o filme é ruim, pelo contrário, é ótimo. Porém, deixa a sensação de que poderia ter sido melhor. E vontade não faltou.

Steven Spielberg e George Lucas visivelmente fizeram desta quarta aventura um filme para fãs. Eles mesmos confirmaram isto. E por esta razão, o maior trunfo da trilogia é o desastre deste novo filme: a fórmula. E é isso mesmo, o filme sendo para fãs (eu incluso), tinha uma estética a seguir. Mas... poderiam ter feito melhor. Tudo bem se Indiana Jones é um anacronismo no nosso tempo. Se é low tech demais diante da ação e edição frenética dos filmes de verão de hoje. Só que, mesmo isto sendo bom, não custava nada tirar um pouco o pé do freio e quebrar as regras do sucesso, dando um nova roupagem ao longa sem perder sua
essência. Ora bolas, se com o Batman e James Bond funcionou, porque não funcionaria com Indy?

Tudo está no seu lugar: a abertura eletrizante, o humor involuntário, a cena de ação no miolo, a perseguição exagerada e o clímax apoteótico. Harrison Ford ainda continua vigoroso; o clima da Guerra Fria funcionou bem; a antítese do herói, interpretada por Cate Blanchett, é perfeita - seu sotaque, então; e o artefato procurado era crível o bastante (e o mito em torno dele era de gelar a espinha). Mas... será possível que fui o único que não saiu 100% satisfeito do cinema? Então, vale ressaltar que foram os detalhes que baixaram um pouco a minha nota. E se ater demais a eles foi o motivo da minha insatisfação. São só detalhes, sei, mas o conjuntos deles faz toda a diferença. Um exemplo:
a cena da perseguição na floresta amazônica. Ela é exagerada demais. Ok, todas as outras perseguições dos outros filmes eram exageradas. Só que, dentro do contexto em que foram criadas - a década de 1980, elas se tornam espetaculares. Já neste novo filme, ela é, por vezes, intragável. Talvez pelo fato de querer ser nerd demais. Talvez pelo fato de Spielberg querer resgatar um espírito de duas décadas atrás. Ou talvez pelo simples fato de querer conquistar uma platéia mais cínica, ávida por ação pastelão no melhor estilo Piratas do Caribe. Macacos? Esgrima entre dois carros? Salto de um penhasco? Formigas gigantes? Por favor... Esta última, inclusive, me fez lembrar os escaravelhos de A Múmia. É o original copiando a cópia. É o feedback da cultura pop. Parafraseando Darth Vader: "The circle is now complete".

Bom, em suma, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é um ótimo filme. Porém, faltou um pouquinho de ousadia. E, convenhamos, repetir uma velha fórmula aplicando-lhe uma pitada de ousadia, sem sair do estilo e sem excessos, não faria mal a ninguém. Nem ao velho Indy. Do jeito que está, é uma aventura de primeira grandeza. Só que está longe de ser clássica. É apenas uma continuação de três filmes clássicos.


NOTA: 9,0

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Homem de Ferro

Por onde começar? Bom, quando eu li gibis da Marvel há, sei lá, 13, 15 anos, o Homem de Ferro não era um dos meus heróis preferidos. Nunca vi muita graça em Tony Stark. O que me envolvia era o fato de o herói não ter “poderes especiais” (como o Batman) e utilizar de armamento e tecnologia de última geração para combater o mal. Também tinha a tragédia envolvida na sua criação (os estilhaços de bomba no peito) e os dilemas morais que me agradavam. Mas nunca fui muito entendido com a mitologia do herói. Então, fui semi-leigo ver o filme no cinema. E o que percebi foi que o filme incorreu da mesma falha do longa do Quarteto Fantástico: perde tempo demais com apresentações e gracinhas e tem pouca ação de verdade. Contenção orçamentária? Ou apenas a ponta do iceberg das pretensões da editora/produtora? Não sei. Nem quero saber.

Algum mais entusiasmados podem até justificar o fato de que, por ser um filme de origem, merece o excesso de blá, blá, blá. Mas com X-Men não foi assim. Nem com Homem-Aranha. Nem com Blade! Talvez seja o fato da falta de popularidade do Homem de Ferro. Só que, parando um pouco pra pensar - aqui pesou o fato de eu ter retornado ao cinema para uma outra sessão -, toda a enrolação envolve justamente os tais dilemas morais que citei lá em cima. Tony Stark quer combater o mal que o cerca e que ninguém consegue deter. Daí novamente a comparação com Batman. Tá, mas a ação ainda é pouca. Mesmo assim, compensa. A cena com os caças é totalmente nerd em cada segundo de adrenalina. Ponto para o diretor Jon Favreau, fã do personagem. E o clímax, apesar de curtinho, é arrasador. E engraçado. Já os efeitos especiais, nem se comenta. A cena em que Tony veste a armadura oficial do Vingador Dourado é de cair o queixo tamanha perfeição dos detalhes. E foi uma ótima sacada a visão de Stark por dentro da armadura.

E os atores? Bom, Robert Downey Jr. há MUITO tempo não desenvolvia de forma tão intensa um personagem tão cheio de camadas. Debaixo de tanto metal pesado ainda existe um coração. É curiosa a mudança psicológica do personagem, saindo de uma vida irresponsável e cheia de luxo, para a uma de consciência do dever de ter que fazer alguma coisa contra um mal poderoso e onipresente. E é nesse processo que se vê o intenso envolvimento do ator, mesmo diante da pressão de encabeçar, pela primeira vez, um blockbuster. Já entre os coadjuvante, Terrence Howard é o que parece mais se divertir, talvez prevendo uma participação mais, digamos, efetiva na já certa continuação. É ele inclusive que, de certa forma, dá o gancho para a mesma. E Gwyneth Paltrow parece um pouco fora de rumo. Ela está deslumbrante, mas sua Pepper Potts nunca terá o carisma de uma Mary Jane, nem o volúpia e inteligência de uma Betty Ross. Fazer o quê? O filme é muito bom, mas como evolução é a palavra de ordem nas seqüências dos filmes da Marvel, é esperar algo maior e melhor para a parte dois. Bom, e se você não gosta de saber de algo que não sabe, pare aqui.

Agora, quem ficou na sala depois dos acordes de ‘Iron Man’ do Black Sabath que toca durante os créditos finais, teve uma surpresa. E que surpresa! Daquelas de você ficar com os olhos brilhando de felicidade. Samuel L. Jackson surgindo das sombras como o chefão da S.H.I.E.L.D, Nick Fury, e convocando Stark para um projeto secreto. Show! E atenção, Tony Stark fará uma pontinha na continuação do filme do Hulk. Fiquem atentos.

NOTA: 8,5

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Planeta Terror

Bom, já faz um tempinho que vi este filme, mas, como só hoje consegui, enfim, criar pra valer meu novo Blog, agora é que estou postando a minha primeira crítica oficial. Aos recém-chegados, sejam muito bem vindos, e aos desavisados, atenção: contém spoilers. Ah, e não esperem o melhor, ok!? Sou apenas um mero Médico Veterinário metido a crítico cinematográfico, por isto, não sou imparcial. Relevem, por favor.

Primeiramente, uma confissão: Robert Rodriguez não é um dos meus diretores favoritos. Não sou da turma que o considera um deus do entretenimento. Aliás, só gosto mesmo de um filme dele, Um Drink no Inferno - e talvez pelo fato de o roteiro ser de Quentin Tarantino. Mas o cara merece respeito por ser um diretor independente - em todos os aspectos que o termo possa atingir. Planeta Terror é o segmento dirigido por ele do projeto podreira Grind House, realizado em parceria, mais uma vez, com Tarantino. Se não é um clássico, ao menos serve de aperitivo para o aguardado À Prova de Morte do segundo.

Bom, de todo o filme, o trailer fictício de Machete é o maior destaque, sem exagero. No longa em si, não há absolutamente NADA de novo. Os sustos, as matanças, a maquiagem horrenda, os zumbis e os corpos em decomposição... tudo já foi realizado a exaustão por bambas como George Romero, John Carpenter, Sam Raimi e até Peter Jackson - inclusive, o personagem do péssimo Freddy Rodriguez mata os “monstros” com a mesma, err, técnica, do pastor de Fome Animal. Mesmo assim, o cara ainda merece respeito, pelo fato de copiar tanta coisa e ainda conseguir ser original. A imagem da Cherry Darling (Rose McGowan) com uma metralhadora na perna já é icônica.

Quem for assistir, vá esperando tudo, menos um filme de terror (que está mais para comédia de ação). O lance é entrar na brincadeira. Ou melhor: comprar a brincadeira. Aí sim você vai se divertir a beça. Mas o longa tem méritos de sobra por resgatar o clima Z das produções trash dos anos 1970 com direto a imagem de má qualidade e tudo mais. Neste ponto eu confesso que amei a brincadeira, afinal, cresci assistindo filmes nos anos 1980 em um cinema quase falido, com assentos de madeira, som mono e projetor antigo. Nostalgia pobre. A trilha sonora do próprio Rodriguez é outro atrativo à parte. Comentário: Robert, meu velho, neste quesito você é o cara. A abertura é sensacional, a cena em que o Dr. Block (Josh Brolin, perfeito) quer pegar o celular da Dakota (Mary Shelley, insana) é uma mistura perfeita de novela mexicana com os filmes de terror de Dario Argento, o rolo perdido foi uma ótima sacada e a fuga na rodovia é a cena mais hilariante já produzida num filme do gênero - com direito a muita hemoglobina, membros voando e a moto do Mini-Me de Austin Powers (!!). Só o clímax com os exageros rodriguianos típicos que derruba um pouco a qualidade - trash - do longa. De resto, como eu disse, nada de novo. Mesmo assim, você merece o meu respeito, Robert.

NOTA: 8,0