quarta-feira, 30 de julho de 2008

Juno

Olha, eu não sou hipócrita. Filme bom de verdade pra mim tem que me deixar feliz dos créditos iniciais ao finais. Tem que me surpreender. Juno estava há pouco na minha lista de prioridades. Porém, admito, fui assisti-lo com um certo medo de me decepcionar, algo comum de minha parte ao gerar expectativa demais perante tantos elogios e críticas positivas. Mas, que surpresa foi a minha quando o filme acabou. Descobri que o melhor filme do ano passado era o mais improvável de todos. Se os irmãos Coen, Paul T. Anderson e Ridley Scott provaram ao mundo como se faz cinema de verdade, Jason Reitman, diretor de Juno, quis apenas contar uma corriqueira história de amor. Apoiado no roteiro extraordinário de Diablo Cody, ele não fez só um filme. Perpetuou um clássico. Pode ter certeza.

A espinha dorsal do longa é a simplicidade. É o fato de que as melhores coisas da vida se escondem nos atos mais simples do nosso cotidiano. E a Juno interpretada por Ellen Page é a personagem feminina mais completa já vista no cinema desde Scarlett O’Hara. Sério. Juno é tipo de garota que qualquer um queria ter como namorada; qualquer pai queria ter como filha e qualquer garota daria a alma para ser. Se seu parceiro em cena, Paulie Bleeker (o péssimo Michael Cera), é sem sal demais, Juno é um sachê de Sazon, que realça o sabor e dá cor a todas as cenas que os dois fazem juntos.

Juno pensa, fala, age e ama diferente de qualquer adolescente que você conheça. Por isso não é um estereotipo, nem um clichê - é apenas melhor que todas as outras. E o fato de ter engravidado num vacilo, mesmo com a maturidade que tem, não altera sua personalidade. Tudo no filme é perfeito. Olha, a opinião é pessoal, mas para qualquer um que tenha um pouco de sensibilidade e realmente goste de cinema, não há porque discordar da afirmação. A trilha sonora e a fotografia indie, a edição caprichada, os diálogos... ah, os diálogos. Eles fluem com uma naturalidade tão grande que a cada novo fotograma uma pérola é proferida por alguém. São tantas palavras expressivas, tantas citações, tanta cultura pop que a Diablo Cody mais parecia um Tarantino de saias. Só ele mesmo para inserir uma discussão sobre clássicos de H. G. Lewis e Dario Argento sem parecer banal. Os coadjuvantes também ajudam no resultado final. J. K. Simmons está exemplar como o pai moderno de Juno. Jason Bateman e Jennifer Garner como o casal que adotará a “coisa” que Juno carrega no ventre também. O primeiro representa a ala masculina frustrada com a vida que leva. Alguém que precisa reavaliar sua vida e o seu conceito de amor. Sua alma gêmea pode estar no lugar em que você menos imagina e não na mulher mais bonita que você encontra. Já ela representa a ala feminina careta, a ala daquelas parceiras que privam os maridos e namorados do que gostam só porque aquilo as desagrada. Mas demonstra uma sensibilidade fora do comum. Enfim, os superlativos, como se vê, são intermináveis.

Para encerrar, li uma crônica do jornalista Dagomir Marquenzi há alguns dias, que fala a respeito das seqüelas que os grandes filmes deixam na gente. Pois bem, Juno deixou uma seqüela irreversível em mim. No desfecho da obra, quando Juno e Paulie formam um dueto e entoam a belíssima Anyone Else By You, eu queria mais algumas horas de Juno no meu DVD. Me enchi de falsa esperança de ver um impossível Juno 2 ou Juno 3. A adolescente Juno, com ou sem barriga, era o que eu queria que minhas filhas fossem. Só não sei se seria um pai compreensivo como o dela. Bom, é melhor parar a conversa por aqui.

NOTA: 10

Um comentário:

Anônimo disse...

Sabe que eu também gostei!!!