segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Corrida Mortal

Você colocaria uma arma na mão de uma criança? Não, óbvio. Porém, ao fim da sessão de Corrida Mortal, a sensação que ficou foi que a Universal havia feito este absurdo com o diretor Paul W.S. Anderson. Anderson, claro, não é mais nenhuma criança, mas tem idéias tão malucas quanto uma. Dono de uma filmografia irregular pontuada por adaptações de vídeo-games, continuações bastardas de séries mortas e refilmagens desnecessárias (neste balaio apenas um filme original e verdadeiramente bom, O Enigma do Horizonte), além de idéias pra lá de bizarras, o cara ao menos tem autoridade de ter fazer o que bem entende com suas obras. E depois de assistir o ultra-divertido e exageradamente violento mais novo filme dele fica a questão: o que ele tem de tão especial para o estúdio financiar uma insanidade dessas? No frigir dos ovos, puseram uma arma na mão de uma criança.

Que fique bem claro: Corrida Mortal não é uma obra-prima do cinema. Por isto mesmo tratei de deixar meu senso crítico no sofá e entrei na platéia do público-alvo: aqueles moleques nerds loucos por adrenalina. Diversão escapista? Não. Diversão descerebrada. O filme é uma re-imaginação do clássico cult Corrida da Morte - Ano 2000, e por ser o que é, pouco lembra o original. Aqui realmente as corridas são mortais e acontecem dentro de um presídio de segurança máxima. Daí vocês tiram os tipos de competidores. E em meio a um bolo de clichês prisionais, temos Jason Statham como protagonista. Statham, bem se sabe, é uma espécie de Marcos Pasquim inglês - por fazer sempre o mesmo papel, só que com mais “talento” e mais agressividade (ou seria agressividade menos cômica?). Um legítimo anti-herói brutamontes do século XXI. Resumindo, uma escolha acertada para o papel. Sai da frente dele, então.

A trama em si é uma mera desculpa para as corridas, estas sim o óxido nitroso do filme. Parecidas com um jogo de vídeo-game live action, cada volta é mais carregada de ação e violência que muito filme inteiro por aí. Difícil conter o entusiasmo com as “batalhas” dos carros. As corridas são tão insanas que causam um torpor de euforia em qualquer ser humano que as assistas. Sem falar nos carros, verdadeiras máquinas de matar. A cena com o Encouraçado é impressionante de tão absurda. Ah, o filme ainda tem Joan Allen, canastrona até o último fio de cabelo, como a durona diretora do presídio e uma decotadíssima Natalie Martinez para elevar ainda mais a taxa de testosterona sanguínea. Mas, quem liga para elas quando Jason Statham está ao volante!? O filme só perde o fôlego no dispensável final feliz com um discurso paterno visivelmente pessoal do diretor. Depois de tanto corre-corre, tanto faz. Vale a pena assistir.

NOTA: 8,0

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Fim dos Tempos

A lei natural diz que devemos aprender com os nossos erros. E mais: o dito popular acrescenta que insistir no erro é um atestado de burrice. Quando isto acontece com reles mortais como nós, às vezes ninguém nem se importa. Quando acontece com fenômenos intelectuais como o diretor descendente de indianos M. Night Shyamalan, autor de filmaços como O Sexto Sentido e Corpo Fechado, um simples descontentamento vira uma discussão infindável. O fato é que Shyamalan passou de gênio a genioso, de intelectual a burro em meros 4 anos. Seria praga? Não. Tudo culpa do próprio ego. De ambições maiores que as necessidades. Pois é.

Chegamos a Fim dos Tempos. O suposto pedido de desculpas aos fãs por ter concebido o (exageradamente) criticado A Dama n’Água, seu fracasso anterior. Sim amigos, sei que não é mais nenhuma novidade, mas Fim dos Tempos fracassou também. E mereceu. Não estou aqui para destronar o longa como fizeram alguns críticos especializados, e sim para atestar o fato de não ter gostado da obra. A começar, a escolha equivocada de Mark Wahlberg para encabeçar o elenco. Se Shyamalan conseguiu extrair ótimas performances de Bruce Willis, Mel Gibson, Joaquin Phoenix e Paul Giamatti é porque eles tem talento para isto. Já Wahlberg não passa de um atorzinho limitado dono de uma única expressão facial (canastrona). O mesmo pode ser dito de Zooey Deschanel, que faz a esposa em crise psicológica de Wahlberg. O diretor errou até na inserção do coadjuvante rouba-cena. Neste caso, não que John Leguizamo seja um ator ruim, mas seu personagem tem pouco destaque e sai de cena cedo demais. Até um dos grandes méritos do diretor – o de conduzir crianças com excelência – parece ter se perdido com o seu toque de Midas. A menininha da trama é péssima e sua personagem chata. Que saudades da Abigail Breslin.

Shyamalan só não perdeu a mão para a condução da trama. Nisto posso tirar o chapéu. Seu domínio de câmera ainda perfeito e seu dom de criar tensão em momentos aparentemente banais valem a locação. Porém, a história que tinha tudo para ser uma de suas mais assustadoras, acabou por esconder o pouco talento que lhe restou. Perdido entre situações chatas, acontecimentos sem explicações (continue lendo) e diálogos vergonhosos, o filme vai perdendo seu impacto a medida que seu fim se aproxima. Não faltou esforço, só boas intenções. E se sua real intenção foi criar um filme B ao estilo das produções paranóicas que pipocavam nos cinemas dos anos 1950 (tipo Os Invasores de Corpos), ficou só na intenção. Afinal, aquelas produções de outrora tinham razão para existir. Fim dos Tempos não. Passar uma mensagem ecológica? Hum, é bom prestar bem atenção caso alguém venha com essa desculpa. Em momento nenhum, incluso a explicação estapafúrdia do final, isto é evidenciado. E só. Fim dos Tempos é um caso em que o trailer é melhor que todo o filme. Ao mostrar as cenas chocantes (essas sim valem nota e não sairão tão cedo do inconsciente) em poucos minutos, o diretor deixava qualquer um salivando. Ao misturá-las a uma trama tola, a expectativa vira decepção. Bons eram os tempos antes desse "acontecimento". Fim de carreira? Bem, ainda tenho fé nele. Quem sabe na próxima vez...

NOTA: 5,0

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ressaca de Amor

Há uma nova tendência no cinema norte-americano: a dos filmes cada vez mais calcados na realidade. Ok, não falei nenhuma novidade. Só que não são apenas os filmes de ação que querem ser críveis ao grande público. A tendência anda abrangendo também as comédias românticas. Se antes as namoradas nos forçavam a assistir filmes melosos com piadas femininas sem graça e com um final clichê que as faziam suspirar e a nós corar, com essa nova onda de comédias, é bem provável que em breve o oposto venha a acontecer. O motivo mais evidente para esta reviravolta talvez seja o fato de as histórias sejam mais voltadas aos protagonistas masculinos e que os mesmos, vá lá, andem fugindo dos padrões atuais de beleza. Não é piada não.

Foi-se o tempo em que os Tom Hanks e os Freddie Prinze Jr. da vida faziam as mulheres sonhar com os homens perfeitos que interpretavam. Belos, bem decididos e românticos ao ponto de largarem tudo para ficarem com a mulher que aprenderam a amar ao longo da metragem do filme. Este tempo, claro, ainda teima em não acabar, contudo, a realidade tende a tomar conta dos sentimentos. As bilheterias estão aí para provar. Agora, não que esses anti-galãs andem atraindo o público masculino ou tenham um feromônio irresistível às mulheres, mas o fato de serem mais ‘comuns’ os torna mais identificáveis conosco. É mais fácil crer que um cara desses consiga externar seus sentimentos do que um improvável homem perfeito. O amor, como bem sabemos, também pode ser feio e nem sempre a dor leva a redenção.

Ressaca de Amor é um achado em meio tanta baboseira que é lançada mensalmente nos cinemas. A história é simples - depois de 5 anos de relacionamento, cara leva fora da namorada e terá que passar pelo longo suplício de ter que esquecê-la -, mas consegue envolver, mesmo ao longo de quase duas horas. Claro que, momentos chatos não faltam (uma ou outra sub-trama sem graça), mas o roteiro bem sacado do ator Jason Segel faz as compensações necessárias para não matar ninguém de tédio. Se o público não riu com determinada piada, ele manda uma mais engraçada na seqüência. Aliás, o próprio Jason é o protagonista da obra. Fazendo a linha ‘Will Ferrel menos histérico’, ele não tem vergonha de se expor ao ridículo e se submete com prazer a todas as humilhações as quais seu personagem é agraciado. Ponto para ele.

O filme também ganha pontos por mostrar o ponto de vista masculino (sem machismos) em relação a um fora. Em outras palavras, nos torna também vítimas. Homens também sofrem. E sofrer também pode ser engraçado. No fim, quando tudo parece se resolver, sentimentos de incertezas e contradições tomam conta dele e de sua ex-amada Sarah Marshall (Kristen Bell, também abraçando com amor sua personagem megera), eis que o que iria descambar para o previsível acaba fugindo do óbvio. A moral da história é que, para acabar com a tristeza nem sempre é necessário voltar atrás. Ou que o verdadeiro amor nem sempre está onde nós pensamos que deve estar. E isto também não é nenhuma novidade.

NOTA: 8,5