sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Crepúsculo

Bom, falar de Crepúsculo em tempos de Lua Nova é algo um tanto ultrapassado. Mas, visto que o estrondoso sucesso do segundo filme da saga elevou Stephenie Meyer ao status de J.K. Rowling, resolvi tirar a crítica do primeiro filme do limbo e postar com um ano de atraso. Quero que fique bem claro que nunca foi intenção minha expô-la aqui. Não assisti ao filme no cinema, apenas em DVD. E atualmente nem ando colocando resenhas de filmes que assisto em casa. Mas o lançamento de Lua Nova me fez resgatar aquele velho insight, já um tanto apagado e esquecido, reavaliá-lo e colocar à mostra pra quem quiser ver.

Crepúsculo é tipo de filme que todo mundo gosta de denegrir, mas no fundo adora. Eu admito que pessoalmente relutei bastante em vê-lo, mas acabei cedendo. Não foi por preconceito não, foi puro desinteresse na trama. Trama que, aliás, não é mais nenhuma novidade. A diretora Catherine Hardwicke até que se esforça para fazer um trabalho digno, autoral, mas é evidente que cada tomada, cada close, cada suspiro, enfim, cada detalhe foi milimetricamente planejado para o filme tornar-se um produto lucrativo e não uma obra de qualidade - se é que alguém acreditava nisto. O primeiro livro da saga, com sua prosa rápida e envolvente, não tinha foco de destino. Qualquer um que o lesse poderia gostar e ponto final. Mas ao ser adaptado para o cinema, naquele joguete típico de “vamos arrumar um público-alvo”, enxugaram a história e centraram no que os fãs queriam ver: o romance pueril entre Edward e Bella. Não que seja ruim, porém, constatando-se que o filme é um mero produto de entretenimento e não uma adaptação de respeito (como os capítulos 3, 4 e 5 de Harry Potter, por exemplo), isso chega a ser entediante. Mas a estratégia deu certo e o filme foi um sucesso. Se funcionou bem no primeiro, funcionará bem no segundo. E por aí vai.

Crepúsculo tem tomadas chatas e enjoativas - principalmente as aéreas da floresta, algumas até um tanto vergonhosas. Tem momento de dar sono. Mesmo assim é um filme mediano. As cenas de ação são apressadas e mal planejadas (culpa da total falta de experiência da diretora com as mesmas), mas até que convencem, principalmente no clímax. O filme ganha pontos mesmo cada vez que parte do clã de vampiros “do mal” entra em cena, e também por não estereotipar os adolescentes, fugindo do comum dos filmes que os têm como protagonistas. Falando neles, é inegável que Crepúsculo seja um filme teen e que agrade em sua maioria as mulheres. Não por causa da palidez plástica do Robert Pattinson, mas por conta do cavalheirismo extremo de seu Edward, sua forma de cortejar, de demonstrar amor por Bella, de lutar por ela e, claro, sua imensa força de vontade em não sorver seu sangue. E é aqui onde entra a metáfora da castidade criada pela autora que fez os livros da série viraram febre e as fãs soluçarem no escurinho do cinema. Edward é um príncipe encantado de presas afiadas e Pattinson até que segura bem a onda como galã da vez, apesar de certa canastrice em determinados momentos. Já a Bella de Kristen Stewart parece perdida, meio zonza, meio fora de órbita. Difícil dizer às vezes se as expressões que faz são de medo ou de admiração. A trilha sonora meio pop, meio emo dá uma levantadinha no astral do longa e seu desfecho, apesar de piegas, tem um diálogo agradável entre os protagonistas. Nada mais. Crepúsculo faz parte de um plano e ele está funcionado, como já disse Kevin Smith em sua genial palestra na Comic Con deste ano. Daí é só esperar mais do mesmo daqui pra frente.

NOTA: 7,0

Se Beber Não Case

É tudo questão de timing. Não tem essa de ser metido a engraçado, fazer o público rir a custa de palhaçadas histéricas ou de escatologia verbal. Para se fazer comédia o ator tem que ter timing, ser engraçado por natureza. E diferente do que muitos pensam, fazer comédia não é fácil. Não é para qualquer um. Do humor ingênuo de Chaplin e Keaton, passando pelo non sense do Monty Python, o pastelão dos Trapalhões, até o humor de confronto tão em uso atualmente, a comédia sempre está se reciclando, por mais que o que seja feito hoje em dia seja uma saraivada de tudo o que já foi feito antes. Mas ao se fazer humor com o improvável, surge um novo alento para nossos olhos. E quando um filme com três caras desconhecidos se torna uma das maiores bilheterias do ano com uma censura 18 anos, pode olhar que aí tem coisa.

Se Beber Não Case é o improvável do óbvio. É uma comédia pra lá de engraçada, sem nenhum nome tão conhecido no elenco, realizada por um diretor talentoso, porém apelativo, sem tanto apelo junto ao grande público. O diretor Todd Phillips tem no currículo apenas uma comédia digna de nota, Dias Incríveis, de 2003 (que, confesso, sou fã). Então não existe pressão nem expectativa da parte de ninguém no lançamento de qualquer projeto seu. Quando Se Beber Não Case estreou na surdina em pleno verão norte-americano, quem apostaria que um projeto sem nomes de peso iria fazer sucesso? Pois fez. Com uma premissa pra lá de manjada – uma despedida de solteiro que dá errado – nasceu a melhor comédia adulta do ano. E não se admire se você achar aquilo tudo familiar, qualquer semelhança com qualquer ressaca sua é mera coincidência.

A história começa quando quatro amigos resolvem celebrar o último dia de vida antes do casamento de um deles (Justin Bartha) em Las Vegas. O problema é que depois de uma noitada daquelas e de uma ressaca homérica, ninguém se lembra de absolutamente nada e, para piorar, o noivo sumiu. Se esta breve sinopse já te fez rir, prepare-se para as surpresas. Agora, diferente do filme-modelo dessa classe de comédias (A Última Festa de Solteiro, com Tom Hanks), Se Beber Não Case não foca na noite de esbórnia e luxúria dos amigos, e sim nas conseqüências da mesma. Os outros três sobreviventes interpretados por Bradley Cooper, Ed Helms e Zach Galifianakis (este último é um achado e desde já merece o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante) partem numa epopéia pela cidade dos cassinos em busca de noivo e de descobrir o que realmente aconteceu. Acredite, quanto menos você souber a partir daqui melhor.

Se Beber Não Case é um caso extra nos cinemas. Uma comédia adulta, com pessoas adultas que se comportam como adultas. Por isso, nada de passar constrangimento com atitudes infantis. O constrangimento aqui se resume ao fato de um pileque apocalíptico ter praticamente acabado com a memória de uma farra espetacular. E é nesse outro quesito que a comédia ganha mais pontos. Todd Phillips não faz o óbvio de explicar a cada frame de filme o que houve na noite anterior, pelo contrário, ele reserva as piadas para o resultado e as seqüelas do que ocorreu. O destino do noivo e as diabruras dos outros três amigos ficam apenas na imaginação. Somos espectadores ativos da história e compartilhamos com eles a total falta de senso perante aquela ressaca. O que eles sabem é o que nós sabemos. E o que eles descobrem nós descobrimos com eles durante toda a projeção. O que é motivo de vergonha para eles, é motivo de riso para nós. E lá pelas tantas, já no fim do filme, quando já passamos por quase todo tipo de reação por conta daquela noite de loucuras e quando praticamente não importa mais o que realmente aconteceu, eles encotram a máquina digital que registrou tudo. E junto com eles fazemos uma promessa de ver aquilo por uma única vez e esquecer toda aquela infâmia. E é no ápice do final feliz, no subir dos créditos que reside toda a graça do filme. Se você não rachar o bico de tanto rir no fim do filme, pode procurar um analista. Ou o seu pulso. E se você achar que Se Beber Não Case é um filme chato e sem graça, não se preocupe. Ninguém vai notar se você sumir. Pode voltar pro Zorra Total que ninguém vai te crucificar por isto. Cê tá pagando, né!?

NOTA: 9,0