quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Lua Nova

Domingo. Começo de noite abafado. Uma fila quilométrica para entrar. Sessão lotada. Ansiedade. Dois terços do público ali presente deveriam ter metade da minha idade. Metade da platéia era do sexo feminino. Gritos histéricos. Suspiros abafados. Sussurros engraçadinhos. Um cheiro desagradável de biscoito recheado sabor morango pairava no ar. Filme dublado. Sentiu o drama? Esta foi a minha sessão de Lua Nova.

Lua Nova não é o filme do ano. Definitivamente não. Não tem os melhores efeitos especiais (todavia superiores ao primeiro filme), não é bem cuidado, não é bem tratado, o roteiro de Melissa Rosenberg é premeditado e as interpretações passam longe de algo convincente, fazendo até o pior ator de Malhação enrubescer. Mesmo assim é um sucesso. Como explicar? Sem falar que nem o próprio romance dos protagonistas, tão badalado e alardeado, tem tanta ênfase na trama. Lua Nova é um lixo de luxo, um produto desleixado com excesso de autoconfiança. Presunçoso, prepotente e um enorme sucesso. E no meio dessa história toda sinto que o chato sou eu. Investiram mais dinheiro, corrigiram os erros, melhoraram o pouco que tinha de bom, intensificaram a ação (embora ainda dê certa aparência de descaso), puseram um diretor mais experiente no comando (Chris Weitz, dono de um currículo eclético que vai de American Pie a A Bússola de Ouro) e no frigir dos ovos deram vida a um filme vazio, sem conteúdo significativo, que aposta (e apela desmedidamente) no retorno do público feminino. É um upgrade do mais do mesmo.

A trama dessa vez enfoca o relacionamento de Bella e Jacob Black (o péssimo Taylor Lautner). O elitismo caucasiano vampiresco é deixado um pouco de lado para o surgimento da raça dos lobisomens. Após um fora de Edward e de noites infindáveis de depressão e pesadelos, a insossa heroína encontra refúgio na amizade sincera de Jacob. Daí sai a metáfora sobre a castidade e entra quase que indiscretamente uma nova sobre a afloração dos hormônios. Jacob se metamorfoseia num lobo raivoso depois de sentir atração (excitação?) por Bella. Corta o cabelo, se tatua, começa a comportar-se de forma mais rude (ui!) e ganha massa muscular. Isto, é bom ressaltar, é mera desculpa esfarrapada para a exibição gratuita e sem fundamento de tórax e abdomens sarados para levar o mulheril ao ensandecimento. Entenda-se, apelação.

De alguma forma, isto pode até fazer algum sentido. Vejamos: Edward é romântico, cavalheiro e culto. Jacob é solitário e bruto, porém apaixonado. E na confusão de sentimentos, Bella se vê dividida entre o pálido e gélido vampiro e o bronzeado e aquecedor lobisomem. A tradução do sonho de qualquer adolescente, que é ser disputada por dois homens que carregam consigo as características opostas que elas tanto admiram. Mas vamos falar sério, o que diabos esses dois caras viram na Bella? Ela é uma garota sonsa, lerda, desequilibrada, desastrada e carrega sempre a mesma expressão compungida. Se a Bella é o arquétipo das adolescentes de hoje, Deus, que raios de mulheres elas serão no futuro? Mas há alguns momentos de ação! E eles, de certo modo, compensam a falta de algo mais interessante no enredo. Porém não apagam o constrangimento da hemorragia de frases clichês que escorre da tela. No fim, a única coisa digna de nota no filme é a presença enigmática e andrógina dos Volturi, a casta mais nobre dos vampiros. Ali, naquele instante em que roubam a cena, esquece-se um pouco do sentimentalismo piegas e concentra-se na mitologia atualizada dos sugadores de sangue. Fim. Quer ir com sua namorada, boa sorte, o risco é seu. Mas lembre-se de levar um I-Pod junto. Ele pode lhe ser de grande valia.

NOTA: 7,5