terça-feira, 17 de março de 2009

RocknRolla - A Grande Roubada

“O que é um RocknRolla? Não é só rock, drogas e idas ao Pronto Socorro. (...) É tudo isso junto.” A frase que abre o novo filme de Guy Ritchie explica bem o que é: uma avalanche de tudo o que ele próprio já fez. E tal qual uma noite de excessos deixa uma headaches daquelas em seguida. Recebido como um retorno do cineasta ao seu celebrado início de carreira, quando era visto como uma versão inglesa e nervosa de Quentin Tarantino, o longa deixa um pouco a desejar. Não que o filme em peso seja ruim, longe disso, apenas não merece tanto celeuma.

Apesar da má recebida sensação de déjà-vu, o longa tem seus méritos. A começar, é carregado da boa ironia corrosiva do diretor, bem ilustrada nos diálogos afiadíssimos (“Se houver uma Terceira Guerra Mundial será por causa dele”; “Está vendo aquele maço de cigarros? Todas as verdades da vida estão dentro dele”), a edição ainda é ágil e estilizada e a trilha sonora pop-rock continua no tom certo. Porém, falta o humor tresloucado de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e os personagens bizarros e bem construídos de Snatch, sua obra-prima. Falta também certo grau de ineditismo, o que, de certa forma, faz de RocknRolla uma mistura dos outros dois longas citados. Se não temos Jason Statham como protagonista temos Gerard Butler (com menos prognatismo que de costume) com mais graça e menos marra. Se não temos Brad Pitt como coadjuvante temos Tom Wilkinson (mais careca que de costume) e Thandie Newton (mais ardilosa que de costume), só que sem o peso do nome para se destacar. Sem falar que Guy Ritchie carrega o triste estigma de ser ex-marido de Madonna. Claro, isto pouco tem a ver com o filme - ou melhor, nada tem a ver, mas o peso do nome da pop star o afastou um pouco da mídia como bom cineasta, culminando num descrédito junto ao público. Ô carma...

Como nos outros filmes do diretor, a trama cheia de personagens surreais gira em torno de um objeto. Depois de duas espingardas e um diamante, o da vez é um quadro que nunca é mostrado. E desta vez, há tanta informação jogada ao mesmo tempo que deixa a história um tanto confusa até mais ou menos sua metade. Com mais personagens em cena que de costume, as várias sub-tramas que se interligam chegam um pouco a atrapalhar. Pelo menos Ritchie acerta no tom de suas criaturas, ainda os fazendo perigosos, excêntricos e atabalhoados. E ainda imprime bem a violência, outra marca registrada sua. Esta, inclusive, foi injustamente criticada por exceder no exagero. Neste ponto discordo de quem criticou seu excesso. Ritchie foi até mais suave que de costume. Não temos, por exemplo, um Vinnie Jones espancando ninguém na porta de um carro. No fim temos uma boa reciclagem de filmes bons. Palmas para Guy Ritchie! Que o diretor se mantenha no topo e faça mais. E menos do mesmo agora. Também, com Sherlock Holmes seria impossível...

NOTA: 7,5

segunda-feira, 16 de março de 2009

Se Eu Fosse Você 2

Em time que está ganhando não se mexe. A máxima do futebol também é aplicada com sucesso no cinema. E, num caso raro para o cinema nacional - o país do futebol, é bom ver um mesmo time vencer de novo. E de goleada. Em meio à eterna disputa da indústria cinematográfica brasileira em busca de espaço na longa fila de filmes comerciais norte-americanos, Se Eu Fosse Você 2, seqüência do maior sucesso nacional de 2006, surgiu como um trator e tirou do caminho alguns arrasa-quarteirões ianques (ou “enlatados americanos” para os ufanistas xiitas) e se tornou a maior bilheteria do país desde a retomada. Surpresa? De maneira alguma. Faro popular. Coisa que o diretor Daniel Filho, com sua larga experiência, tem de sobra. Dar ao público o que ele quer e pronto.

Longe de ser chato ou enfadonho, Se Eu Fosse Você 2 consegue arrancar risadas até daqueles que não botam fé alguma em produções nacionais com elenco global. Apesar de roteiro carecer de originalidade (digamos que o filme é uma mistura liquidificada de Sexta-Feira Muito Louca com Um Espírito Baixou em Mim e O Pai da Noiva) a dupla central consegue, graças a uma química perfeita, nos fazer esquecer este importante detalhe. Tony Ramos e Glória Pires retomam o papel do casal que troca de corpo e agora, bem mais a vontade, entram de cabeça nos personagens e seguram o filme inteiro nas costas, não se intimidando em realizar cenas constrangedoras para fazer o público rir. E ainda parece que se divertiram a beça. Principalmente Tony, que desde o Manolo da novela As Filhas da Mãe de Sílvio de Abreu não fazia um personagem cômico tão cativante. As cenas em que ele, encarnando a esposa, entra no apartamento de um amigo para urinar e a que entra como reserva num jogo de futebol são de chorar de tanto rir.

Já entre os coadjuvantes o destaque vai para Isabelle Drummond. A ex-Emília faz a filha do casal, então com 18 anos, que tem a ingrata tarefa de comunicar aos pais que está grávida. A partir daí a trama gira em torno dos preparativos do casamento da mesma. Mas as piadas, visuais e verbais, ainda continuam a saltar da tela como sapos na sua porta num dia de chuva. Algumas até forçadas, é verdade, mais ainda assim fazem a platéia rir. Se Eu Fosse Você 2 também é atrativo por ser uma continuação independente, ou seja, não precisa exatamente dos eventos do filme original para deslanchar. O filme só peca realmente no final, clichê e piegas, e ainda deixa uma descarada brecha para uma terceira parte, para quem sabe fechar com louvores a primeira franquia de sucesso do cinema brasileiro. Quem não gosta nem um pingo destes filmes de apelo popular (tipo os cinéfilos “cabeça” que só querem ver arte para divagar baboseiras em seus blogs sobre a lógica da arte) vai chiar bastante. Mas vendo pelo lado bom, esta é a fórmula do sucesso. Sucesso de público que há muito não se via. Deixe o preconceito de lado e corra pra ver enquanto ainda dá tempo.

NOTA: 9,5