sexta-feira, 22 de maio de 2009

Anjos e Demônios

Fato: eu não li Anjos e Demônios, a primeira obra de Dan Brown que apresenta o professor de simbologia Robert Langdon. Daí fui assistir a adaptação cinematográfica, a segunda com o professor de simbologia Robert Langdon, leigo de sua fonte. Conclusão? Gostei, mas com um tantinho de desgosto. Olha, não quero bancar o chato, o crítico metido a besta que vê problema onde não tem, mas como bom apreciador você tem que ter os pés no chão e a cabeça no lugar. E Anjos e Demônios, o filme, é a típica parte dois de uma franquia que não ambiciona ser melhor que o original, sendo, na verdade, um típico filme de verão cheio de fórmulas que entretém, sem ousadia, rotulado e descartável.

Se O Código Da Vinci já era uma adaptação irregular por deixar muita coisa da história no chão para se adequar as regras hollywoodianas, imagino que, se comparado a obra literária, Anjos e Demônios seja uma porcaria. E sou atrevido em dizer que a culpa deste mau-agrado é de duas pessoas: Ron Howard e Akiva Goldsman. Este, o roteirista mais formuláico dos EUA, tem a proeza de não inovar nunca na estética. Pode conferir que, mesmo em mãos de diretores diferentes, seus textos seguem uma cartilha básica. E ainda é mestre em criar frases de efeito vergonhosas. Nem a escrita ágil de Dan Brown sai ilesa de seu padrão. Com relação a Ron Howard, bem, não há muito o que falar. É de surpreender que um cineasta com tantos filmes no currículo ainda trabalhe como peão de produtor, sem um pingo de criatividade técnica e sem marca autoral. O pior é que ele ainda pensa que é um grande diretor, dando zoons e closes em objetos sem qualquer motivo aparente. Ao menos sabe orquestrar bem momentos de tensão e cenas de ação ligeiras. Mas a experiência do corre-corre de O Código Da Vinci, intensificada em Anjos e Demônios, o faz pensar ser um John Frankenheimer. Easy Ron, easy!

A trama, menos verborrágica e instigante que O Código Da Vinci, traz como foco central a sociedade secreta Illuminati e seu plano de dizimar o Vaticano com uma bomba de antimatéria. É ágil e acelerada e dosa bem tensão e ação. Entretanto, o excesso de suspense e dramaticidade em algumas cenas acaba por diminuir sua força. Ewan McGregor como o camerlengo Patrick McKenna até se esforça para não parecer canastrão, enquanto a pouca expressiva Ayelet Zurer, que interpreta a Dra. Vittoria Vetra, mais parece um objeto de figuração em algumas cenas. Mas temos Tom Hanks para levantar a moral do filme! Pela segunda vez bancando o Harrison Ford, Hanks não precisa se esforçar muito para cativar a platéia. Se Hanks ri, o público sorri de volta. Além disto, o filme também ganha pontos por mostrar as entranhas do Vaticano (de forma bem casta, é bom ressaltar) e por proporcionar um tour terrestre e panorâmico pelos pontos turísticos de Roma. E caminha bem até o clímax, heróico em demasia, absurdo em concepção, que deixa um tanto óbvia e sem impacto a reviravolta final. Por fim, não há como não categorizar Anjos e Demônios como um mero sub-produto de Indiana Jones (do tipo de A Lenda do Tesouro Perdido), e até que não faria feio se fosse exibido como inédito no Supercine num sabadão chuvoso. Agora com licença, deixem-me voltar ao trabalho, tenho que mudar o mundo. Valeu pela dica professor Langdon.

NOTA: 8,0

terça-feira, 12 de maio de 2009

X-Men Origens: Wolverine

Confesso que fiquei com uma incomoda questão ao fim da sessão de X-Men Origens: Wolverine: será que eu li muita HQ ou será que li pouca? Afinal, não entendi a avalanche de críticas detrativas que soterrou o filme. Sério mesmo. Ok, o filme não é a 7ª maravilha do cinema, nem muito menos é adulto e visceral como Batman - O Cavaleiro das Trevas (as comparações, inclusive, já estão cansando), até porque, como se vê, a Marvel caminha na contramão da DC. Agora, como produto de entretenimento e espetáculo de ação – justamente a forma como foi concebido – o primeiro filme solo do mutante mais popular dos quadrinhos cumpre bem o seu papel. E, ao final, não deixa o dissabor que X-Men: O Confronto Final deixou.

Apesar da decepção de alguns fãs quanto à seriedade de Wolverine ou mesmo a alguns momentos de agressividade excessiva, é bom ressaltar que o personagem nas telas é quase uma cópia de sua versão em quadrinhos. Porém, um tanto diferente para aqueles que o conhecem de uma única fonte (as HQs dos anos 1990). Mas digamos que o roteiro de David Benioff mescla bem as histórias criadas por Chris Claremont e John Byrne (das quais sou fã) com a mini-série Origem de Paul Jekins e Andy Kubert sem ignorar a mitologia desenvolvida para o cinema.

Visto por uma ótica de iniciante, ou por quem é fã apenas dos desenhos animados ou da trilogia cinematográfica, o filme é um arraso. Entretanto, caso você seja um fã mais radical ou esperar a qualidade técnica de um X-Men 2, vai se frustrar. Não vou culpar o diretor Gavin Hood, que, mesmo sendo iniciantes em blockbusters, fez um ótimo trabalho. A culpa é dos produtores da Fox, opinantes e exigentes, que queriam um produto até certo ponto descartável, que gerasse dinheiro suficiente para seguir com a franquia dos mutantes no cinema. Daí o motivo de ter descontentado muita gente. Mas, convenhamos, o filme deslancha bem e tem cena memoráveis – o nascimento de Wolverine no tanque de adamantium é tão antológico quanto sua primeira aparição em X-Men - O Filme. E Hugh Jackman que, sem se esforçar mais para interpretar, deu ao papel de sua vida um tom mais apropriadamente animalesco.

Mas nem tudo é perfeito. A visível ganância dos produtores em criar franquias derivadas quebra o ritmo do filme. É chato o fato de, no terço final do filme, ficar a sensação de que a história não vai acabar e que um Wolverine 2 está na fila (e não estou nem contando com a intragável solução final dada). Certos exageros também comprometem a já duvidosa qualidade, visto que só agradam a adolescentes descerebrados que acham tudo “massa”. Além de dar pouca expressividade a certos personagens. Gambit, por exemplo, está ali apenas por mera desculpa do roteiro e não faria a mínima falta caso não tivesse dado as caras. E Deadpool, um dos personagens mais cool criados na década de 1990, tem pouco tempo em cena e ainda conseguiram estraga-lo no final. Não vou nem comentar a idéia de darem um filme solo a ele. Mesmo assim, X-Men Origens: Wolverine é um bom começo para o que supostamente vem por aí. Já que a seqüência já está agendada, quem sabe eles não dão mais liberdade ao diretor Gavin Hood. A passagem de Logan pelo Japão tem muito o que se contar. Sem falar que ainda tem a Tropa Alfa... Trilogia? Veremos.

NOTA: 9,0