Uma regra bem aplicada com relação a um lançamento de um filme é que você jamais gere muita expectativa antecipadamente. O temor da frustração é até plausível. O primeiro Homem de Ferro é inegavelmente um ótimo filme, apesar da má impressão que deixava. Daí é impossível não almejar algo ainda melhor na seqüência - até porque o segundo trailer do filme deixa qualquer um salivando de ansiedade. Desde que assumiu o controle de suas próprias produções no cinema em 2008 a Marvel anda semeando terreno para a criação de um grande evento de seu universo (ganha um doce quem falou Vingadores). E mais uma vez aposta todas as suas fichas no poder do reator Ark no peito do Vingador Dourado. Homem de Ferro 2 segue a risca a regra das continuações dos filmes da editora/estúdio: é maior e melhor. Corresponde as expectativas e não decepciona. Sucesso again! Homem de Ferro 2 começa exatamente onde o primeiro terminou. Após se revelar ao mundo como o piloto do traje do herói de metal, Tony Stark enfrenta novos problemas. O governo deseja para si a tecnologia do traje; a principal concorrente da Stark Internacional, as indústrias Hammer, vê a oportunidade de fornecer armamento para o exército americano ao mesmo tempo que pretende controlar a tecnologia tão desejada pelo governo; sua exposição tira da sombra um antigo inimigo, além de o próprio Stark se ver envenenado pela mesma tecnologia que o mantém vivo. Com tanta coisa a acontecer é até de se esperar que o trem descarrile no decorrer do percurso. Mas não. O diretor Jon Favreau demonstra aqui total domínio na condução. Com mais liberdade e mais dinheiro na mão, ele não quis fazer uma seqüência que fosse maior apenas em tamanho e barulho, mas sim um filme superior também qualitativamente. E para isso manteve o mesmo padrão criativo do primeiro (até a abertura com uma música do AC/DC permanece, saindo ‘Back in Back’ e entrando ‘Shoot to Thrill’). Sem ter mais que se preocupar com origem, o diretor nos joga diretamente dentro da história como se fossemos bem íntimos de todo a mitologia do herói. Contando com o apoio de um elenco afiado - e completamente à vontade em seus papéis, Favreau abraça com confiança extrema o texto do ator/roteirista Justin Theroux e conduz o longa com experiência e carinho de fã. Algo que, convenhamos, é essencial num projeto desses. Homem de Ferro 2 parece ser um filme curto e rápido demais, só que não é. O seu desenrolar é que é bastante envolvente. E apesar da inserção de novos personagens e vilões (sim, vilões), Favreau não perde tempo com apresentações e nem se enrola nas subtramas. Tudo é bem desenvolvido e resolvido. Nem uma ponta fica solta. Longe de querer abraçar um tom realista, algo tão vigente em Hollywood, o diretor faz um filme de HQ no sentido mais amplo da palavra. Ele não quer, de maneira alguma, humanizar Tony Stark, muito menos tornar as ações do Homem de Ferro moralistas. Stark tem inúmeras falhas de caráter, é arrogante, prepotente, garanhão, egocêntrico e às vezes repulsivo. Ele não se tornou herói para aplacar o trauma de ser assim. Ele se tornou herói por acaso. E justamente por conta disto, abusa ainda mais dos adjetivos citados a pouco. Stark não sabe o verdadeiro peso da armadura que veste. Ele deu ao mundo paz, mas a mesma não é eterna. As ameaças que seguem são bem maiores do que ele possa esperar. Robert Downey Jr. mais uma vez dá um show na pele de Stark. Bem, ele basicamente já é o próprio Tony Stark. Seus diálogos com Gwyneth Paltrow (outra que também está perfeita no papel) são tão espontâneos que parecem todos improvisados. Don Cheadle entra para substituir Terrence Howard como o Coronel James Rhodes e, quer saber, não nos faz nem notar. Ele abraça tão bem o personagem que parece ter vindo junto com o time do primeiro filme. Sem falar que ainda teve o prazer de vestir a armadura da Máquina de Guerra e lutar ao lado (e de igual pra igual) com Tony Stark. Samuel L. Jackson retorna com mais tempo como Nick Fury e dá ao papel aquele sarcasmo típico do personagem. Quanto aos novatos, Scarlett Johansson como a Viúva Negra já mostra porque merece estar na equipe dos Vingadores em 2012 e pela primeira vez é bem aproveitada num filme de ação (sim, ela arrebenta alguns traseiros de forma espetacular) e Mickey Rourke não passa do trivial no papel de Ivan Vanko (mas deve ter se divertido um bocado com aqueles chicotes eletrificados). Mas quem rouba o filme mesmo é Sam Rockwell como Justin Hammer. Falastrão, ambicioso e inescrupuloso, o ator desaparece como o típico vilão de HQs sem poderes, daqueles que acham que podem dominar o mundo e que ninguém pode detê-los. É um caricato bem interpretado. E ainda equilibra de forma incomum um tom ingênuo e megalômano. As cenas de ação continuam poucas, mas são infinitamente superiores as do primeiro filme. O filme vai numa crescente alternado bem os ótimos diálogos com as ótimas cenas de ação até culminar num gigantesco ápice no alucinante clímax final com Stark e Rodhes, cada um em sua armadura, dando cabo de uma hoste de armaduras-robô deixando qualquer fã de quadrinhos em estado de graça. Homem de Ferro 2 não é só a seqüência de um sucesso da Marvel, é o filme da Marvel, aquele que abre as portas para algo maior que está para vir. É o carro abra-alas do desfile do universo Marvel que chegará a apoteose com Os Vingadores. Duvida? Alguém aí esperou pra ver o martelo do Thor no final dos créditos? NOTA: 9,0