sábado, 27 de fevereiro de 2010

Avatar

Quando James Cameron lançou O Segredo do Abismo há 20 anos, depois do sucesso de duas produções espetaculares, porém modestas, ele foi tachado de megalômano, ambicioso e louco. Jamais visionário. Cameron foi responsável por marcos no desenvolvimento de efeitos visuais no cinema. Deu vida a mais outras duas produções incrivelmente audaciosos até se tornar “Rei do Mundo” com Titanic, o maior sucesso da história do cinema. 12 anos se passaram desde então. Cameron fazia mistério sobre seu novo projeto. Foram 4 anos de produção intensa até o resultado final. Avatar surge nas salas de cinemas mundiais. E James Cameron, mais uma vez, criou um clássico. Não, risca isto. Cameron, mais uma vez, deu vida a um ser. E foi responsável por um divisor de águas do cinema moderno. Os cinemas convencional, digital e 3D nunca mais serão os mesmos depois de Avatar.

Em termos de narrativa Avatar não é nenhuma surpresa e é até, convenhamos, óbvio demais. É uma espécie de Dança com Lobos e O Último Samurai Sci-Fi. Cameron peca ao distinguir claramente os bons dos maus, deixando o roteiro com atmosfera infantil, além de abusar do romance deixando a história um tanto melosa. Mas no quesito visual, o diretor foi ao infinito e além. O mundo de Pandora é de uma perfeição inigualável. Em algumas cenas, tamanha a grandiosidade e a infinidade de detalhes minuciosos, é impossível não ficar boquiaberto. Cameron deu uma de Deus (na certa cansou de ser só “Rei”) e literalmente criou um mundo. O ecossistema de Pandora se assemelha um pouco ao da Terra, porém, sua fauna e sua flora, além claro da civilização nativa Na'vi, são de uma riqueza cristaliza e de um exotismo singular. Algo mágico. Um trabalho de design extraordinário. E visto que, com exceção dos atores, tudo foi criado por computador, chega até ser inacreditável que nada ali seja real de tão perfeito. E a fotografia digital do filme realça ainda mais a falta de limites entre o real e o quimérico.

Na trama simples, Jake Sully (Sam Worthington, perfeito e com uma brilhante carreira pela frente) é um ex-militar paraplégico que é levado ao planeta Pandora, habitado pelo povo Na'vi, raça humanóide com língua e cultura próprias, em substituição a sua irmão morto, para estudo e exploração do local. E nesse lugar ele acaba lutando pela própria sobrevivência e pela preservação desse povo. Além de Worthington, Cameron também conta com a presença de Sigourney Weaver no papel da Dra. Grace Augustine, uma cientista brilhante já familiarizada com os Na'vi. A presença dela deixa o filme mais seguro e humano. E ainda dá a Stephen Lang o papel de sua vida ao interpretar o coronel casca-grossa Miles Quaritch, o suposto vilão do filme. Bem, suposto porque é nítida a intenção do diretor/roteirista de passar uma mensagem ecológica. Já que ele criou um mundo, não quer que o mesmo seja maculado ou devastado, e só uma espécie irracional destruiria tamanha beleza natural. Daí é a raça humana que ostenta o papel de vilão com sua ganância e intolerância desmedidas. Em busca dos recursos naturais do planeta, os executivos burocratas e o exército americano não vêem problema em explorar e destruir a biodiversidade de Pandora. E eles terão o que querem, nem que para isso tenham que promover um genocídio coletivo. Cabe a Jake a tarefa de ser o contraponto pacifista, nem que tenha que abandonar seu lado humano e lutar ao lado dos nativos.

Cameron criou um filme longo por demais. Aos desavisados de seu estilo eloqüente e um tanto soberbo, o longa-metragem pode ser um pouco enfadonho, tornado-se empolgante depois de sua metade. Mas quem foi contemplar a mais nova obra-prima do diretor em sua íntegra, em sua essência, mesmo que não tenha sido em 3D, saiu do cinema mais que satisfeito. Cameron, além de saber trabalhar com efeitos especiais como nenhum outro diretor, é ótimo na condução de atores, lida bem com os dramas dos personagens e conduz cenas de ação com maestria. A cena da destruição da árvore da civilização e o clímax final são espetaculares. Nada novidade para quem dirigiu O Exterminador do Futuro 2 e True Lies. Cameron também não deixa que os efeitos compensem os defeitos. Nada é jogado ao acaso. Basta lembrar que em Titanic o romance entre Jack e Rose não era mero pano de fundo para a tragédia, mas o oposto. Avatar é um espetáculo visual, um marco na história do cinema. Um clássico a ser lembrado não somente por ser uma revolução técnica, mas um filme de história simples e tocante banhado com o mais alto brilho visual. A espera compensou. Nossos sinceros parabéns, James Cameron. E viva a tecnologia!

NOTA: 10

5 comentários:

Demetrius Silva disse...

Avatar é vislumbrante, com toda esta tecnologia, o cinema mais uma vez mudou, sem uma pirataria em 3D por enquanto, fez com que as salas estivessem cheias, colocando um filme sério (sem ser a animação que pra muitos ainda é coisa de criança)nos cinemas de tres dimensões. Palmas a James que fez deste filme cheio de referencias e maravilhas algo inacreditavel e que será copiado por muito tempo. Minha preocupação é desse novo cinema destruir a palicula e seu glamour que está desde os primódios da história, que sem ele não existia nada do que vimos hoje. Mas estas mudanças são smepre bem vindas e o que mais quero ver é cinema se diversificando, dando cotocos a críticas como essas minhas ou mostrando as pessoas que é possivel o cinema em 3D, a nova onde do momento.

Kleyton M. Gomes disse...

Gostei muito do filme, espero mais criatividade de outros diretores para que possamos ver filmes como esse com mais frequencia...

Rick Lima disse...

O filme é realmente surpreendente. Mas, amigo Demétrius, o 3D é a revolução do cinema. Apesar de suplantar os limites da tela e, de certo modo, virar a criatividade dos diretores para os efeitos, deixando de lado a história (como você disse em sua resenha, que o medo é que criem história banais, sem alma, para dar vida a produtos apenas visualmente incríveis), infelizmente esta vai ser a moda durante toda a década. Assim como o LP deu lugar ao CD, o VHS ao DVD, assim como a fotografia analógica deu lugar a digital, breve breve a película vai dar lugar ao 3D digital totalmente. Bom para os olhos, ruim para o cérebro. Avatar é espetacular porque é novidade. Quando inúmeros Avatares começarem a pipocar por aí vai começar a encher o saco...
Abraços.

tha disse...

Demorei pra ceder, mas depois que assisti tive que dar o braço a torcer. É um filme fantástico!

Yvna Cordeiro disse...

Bem, ainda não torci o meu braço por Avatar..tá tá tá...é belíssimo visualmente e tudo mais...mas é um filme que eu não assistiria novamente!Pode parecer bobeira esse comentário, mas sou uma pessoa que encontra prazer em repetições...e sempre que vejo um filme novamente encontro novos comentários, percepções, cenas...algo novo que me deslumbra e me faz convicta da genialidade do filme!
Não assitiria Avatar novamente, prefiro ficar com a primeira impressão...