Depois que Quentin Tarantino deu Pulp Fiction ao mundo (uma versão anabolizada de Cães de Aluguel), o público, ávido por aquele estilo verborrágico e violento, esperou ansioso por um novo aperfeiçoamento, um novo Tempo de Violência. Triste decepção quando Jackie Brown estreou – um filmão, diga-se de passagem. Seis anos de hiato até Kill Bill. E justamente depois dele o mundo já não sabe mais o que esperar da mente do diretor. O que vier então, será de enorme agrado.
Bastardos Inglórios é um deleite para qualquer amante do cinema. Não é ousadia dizer que é uma nova obra-prima do diretor. O filme é um atestado de competência, um certificado autenticado de maturidade. Da magistral cena de abertura ao irônico diálogo final, Tarantino se mostra cada vez afinado com a direção. E é impressionante como ele faz o filme que quer, sem ter que dar satisfação ou justificativa, querendo apenas ver aquilo que gosta e provar a si mesmo que consegue fazer uma obra melhor que a outra, independente do gênero. Tarantino é um gênio do cinema. Que me perdoem os amantes de Buñuel, Truffaut, Bergman, mestres incontestáveis da arte cinematográfica, mas o gênio em questão pertence a outro estilo, outra geração. Ele é um grande conhecedor da arte que, ao invés de reciclá-la em sua plenitude, reverencia o cinema B, um celeiro de idéias tão criativas quanto absurdas, mas nem por isso menos interessantes. Tarantino bebe da fonte de diretores cult, de mestres polêmicos e execrados. Tarantino consegue ser Kurosawa, Leone, Peckinpah e Scorsese sem jamais perder sua própria identidade. É atual e anacrônico quando quer.
Nesta fábula de guerra, Brad Pitt é o tenente Aldo Raine (um caipira canastrão sem uma gota sequer de glamour), líder de um grupo de rebeldes judeus que, distante e a parte do real enfoque da II Guerra Mundial, estão ali num propósito único e pessoal: matar o maior número de nazistas possível. O longa é dividido em capítulos que, vistos separados, poderiam funcionar como episódios individuais. Há sim conexão entre eles – um dá continuidade ao outro –, mas cada um tem detalhes que os tornam únicos, seja o ponto de vista, o estilo ou mesmo o modo como foram filmados. Tarantino capricha bem na ambientação em cada um deles. Sua câmera capta tudo, não deixa nada de fora ou fora de foco. Tarantino brinca de Kubrick a contento. Pudera, ele tem savoir-faire pra isso. A fotografia de Robert Richardson é aberta e límpida, destoando um pouco do que se normalmente exige de um filme de guerra. E a trilha sonora, como bem sabemos, é um personagem à parte nos filmes do diretor, que mistura os acordes de Enio Morricone com música erudita, marchas de guerra e David Bowie sem nunca soar absurdo. Cada música se encaixa perfeitamente na cena, como se tivesse sido criada exatamente para aquele momento. Os diálogos também são de uma fluidez fora do comum, nunca soando tediosos, mesmo em inglês, alemão, francês ou italiano. Há também a violência tarantinesca. Neste caso, longe de ser sádica, doentia ou exagerada, em Bastardos Inglórios ela é, por vezes, poética. O cinema de Quentin Tarantino é uma brincadeira só. E ainda há Christoph Waltz e Mélanie Laurent para roubarem a cena. O primeiro, no papel de um coronel da SS, é dono de qualquer seqüência em que esteja presente com um sarcasmo e cinismo brilhante. A segunda, no papel de uma gélida judia loira em busca de vingança, ilumina as cenas em que está presente com sua beleza. No fim Tarantino, mais uma vez, deu o melhor de si, subvertendo mais um gênero de forma especial. Seja com poesia, humor negro ou violência gráfica, Tarantino prova mais uma vez que é único e consegue fazer o que mais ninguém faz de forma genial. Uma pérola para se discutir durante longos dias nas rodas de amigos.
NOTA: 9,5
Bastardos Inglórios é um deleite para qualquer amante do cinema. Não é ousadia dizer que é uma nova obra-prima do diretor. O filme é um atestado de competência, um certificado autenticado de maturidade. Da magistral cena de abertura ao irônico diálogo final, Tarantino se mostra cada vez afinado com a direção. E é impressionante como ele faz o filme que quer, sem ter que dar satisfação ou justificativa, querendo apenas ver aquilo que gosta e provar a si mesmo que consegue fazer uma obra melhor que a outra, independente do gênero. Tarantino é um gênio do cinema. Que me perdoem os amantes de Buñuel, Truffaut, Bergman, mestres incontestáveis da arte cinematográfica, mas o gênio em questão pertence a outro estilo, outra geração. Ele é um grande conhecedor da arte que, ao invés de reciclá-la em sua plenitude, reverencia o cinema B, um celeiro de idéias tão criativas quanto absurdas, mas nem por isso menos interessantes. Tarantino bebe da fonte de diretores cult, de mestres polêmicos e execrados. Tarantino consegue ser Kurosawa, Leone, Peckinpah e Scorsese sem jamais perder sua própria identidade. É atual e anacrônico quando quer.
Nesta fábula de guerra, Brad Pitt é o tenente Aldo Raine (um caipira canastrão sem uma gota sequer de glamour), líder de um grupo de rebeldes judeus que, distante e a parte do real enfoque da II Guerra Mundial, estão ali num propósito único e pessoal: matar o maior número de nazistas possível. O longa é dividido em capítulos que, vistos separados, poderiam funcionar como episódios individuais. Há sim conexão entre eles – um dá continuidade ao outro –, mas cada um tem detalhes que os tornam únicos, seja o ponto de vista, o estilo ou mesmo o modo como foram filmados. Tarantino capricha bem na ambientação em cada um deles. Sua câmera capta tudo, não deixa nada de fora ou fora de foco. Tarantino brinca de Kubrick a contento. Pudera, ele tem savoir-faire pra isso. A fotografia de Robert Richardson é aberta e límpida, destoando um pouco do que se normalmente exige de um filme de guerra. E a trilha sonora, como bem sabemos, é um personagem à parte nos filmes do diretor, que mistura os acordes de Enio Morricone com música erudita, marchas de guerra e David Bowie sem nunca soar absurdo. Cada música se encaixa perfeitamente na cena, como se tivesse sido criada exatamente para aquele momento. Os diálogos também são de uma fluidez fora do comum, nunca soando tediosos, mesmo em inglês, alemão, francês ou italiano. Há também a violência tarantinesca. Neste caso, longe de ser sádica, doentia ou exagerada, em Bastardos Inglórios ela é, por vezes, poética. O cinema de Quentin Tarantino é uma brincadeira só. E ainda há Christoph Waltz e Mélanie Laurent para roubarem a cena. O primeiro, no papel de um coronel da SS, é dono de qualquer seqüência em que esteja presente com um sarcasmo e cinismo brilhante. A segunda, no papel de uma gélida judia loira em busca de vingança, ilumina as cenas em que está presente com sua beleza. No fim Tarantino, mais uma vez, deu o melhor de si, subvertendo mais um gênero de forma especial. Seja com poesia, humor negro ou violência gráfica, Tarantino prova mais uma vez que é único e consegue fazer o que mais ninguém faz de forma genial. Uma pérola para se discutir durante longos dias nas rodas de amigos.
NOTA: 9,5
2 comentários:
Simplesmente Genial, ou seria uma obra prima?!
Antes de presenciar A Origem...tinha Bastardos Inglórios solitário e pulsante na minha cabeça...deslumbrante!
Hoje acho a mesma coisa...só que agora ele tem um acompanhante.
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