A vingança é um prato que se come frio. Será que existe alguém nunca escutou isto? Só que, pensando bem, por que não esquentar o prato depois de pronto? A metáfora do dito popular evidencia bem a falta de pressa do algoz em concretizar um ato tão brutal, ao mesmo tempo que denota certo prazer com sua conclusão. E a minha brincadeira extra-metafórica, apesar de abrir um entendimento diferente do óbvio, serve apenas para aludir a idéia bizarra de vingança do protagonista deste filme. O barbeiro Benjamin Barker, depois conhecido pelo nome de Sweeney Todd, é apenas mais um personagem entre tantos já retratados nas mais diferentes formas de arte (e na vida real) que não se apressam em “descontar” certos traumas do passado. Porém, é o primeiro que resolve, da forma mais grotesca possível, requentar o prato antes de comê-lo. Alguém se habilita a provar?
A história de Sweeney Todd não é nova, e já foi levada ao cinema pelos menos umas 6 vezes. Entretanto, este Sweeney Todd, na forma de musical e baseado numa encenação teatral é, no mínimo, a mais curiosa. Se a história em si - barbeiro assassino usa o corpo de suas vítimas para rechear as tortas de sua ex-senhoria, já é bizarra por demais, encontrou em Tim Burton (um diretor com um fascínio patológico por tipos fora do comum) seu regente mais que perfeito. Sim, Burton assinando um musical. Até que não é novidade, já que ele flertava com o gênero desde O Estranho Mundo de Jack. E assinando um verdadeiro musical em essência e conteúdo ele se mostra bastante experiente e seguro. E não há porque negar: Sweeney Todd é um produto Burton desde os créditos de abertura. Nunca a Inglaterra vitoriana foi tão gótica. E por mais que se pense que o filme é uma grande porcaria, acredite, ele é uma grata surpresa. Garanto que, fã ou não do diretor, você vai adorar a obra. Até mesmo se não suportar ver atores cantando. Seguindo a risca a nova cartilha dos musicais, aqui ninguém pára a ação para cantar a ação, apenas continuam a fazer o que estão fazendo e cantam os diálogos com a maior naturalidade. Cortesia do roteiro coeso de John Logan e da orquestração perfeita de Stephen Sondheim, o idealizador em pessoa da versão teatral em que o longa se baseou. O maestro mistura bem o gótico com o depressivo e o lírico com festivo sem perder o tom um só minuto. E sim, pela primeira vez em 14 anos Danny Elfman não assina a trilha sonora. Mas ele não foi esquecido pelo maestro. Os acordes aterrorizantes da abertura bem que lembram os do ex-Oingo-Boingo.
Tudo isso ainda não foi motivo para convencê-lo a encarar uma sessão? Pois bem, ainda temos Johnny Depp como protagonista. Mais uma vez o ator provou ser o ideal para encarar um personagem fora do comum. E todos nós sabemos que ele rende mais que o esperado nas mãos de Tim Burton. Seu Sweeney Todd, apesar de ser a cara de Bento Carneiro (o vampiro brasileiro!), é interpretado com tanta perfeição que parece ter sido feito exclusivamente para ele. A empatia com o público é imediata, por mais sanguinário que seu personagem seja. A gente até torce para que ele mate mais. E o mais incrível é que ele encontrou em Helena Boham-Carter sua parceira legítima. A química entre os dois é surpreendente. É como se eles tivessem nascidos um para o outro. Atuando pela primeira vez juntos, eles deixam um gostinho de ‘quero mais do dois’ a cada segundo que não estão juntos. Um bom exemplo dessa química é quando os dois cantam quanto valeria cada torta medida pelo status da vítima que irá recheá-la. Veja e comprove.
Ainda incrédulo? Bom, o filme não é só sangue, trevas, vingança e canções depressivas. Burton ainda pinta seqüências com o seu colorido infantil e fantasioso. A melhor cena do filme foge de seu próprio padrão: em devaneios, a senhorita Lovett canta como seria o mundo apenas dela e de Todd, e apresenta o melhor de si, do Depp ator e do Burton diretor. Mesmo que o clímax não seja tão apoteótico e o final fuja um pouco do que se espera - sendo até um tanto intragável -, você já foi manipulado pelo trio durante quase duas horas e nem percebeu. Em meio a tantos filmes sérios e blockbusters sem cérebro, Sweeney Todd ainda é um ótimo aperitivo. Goste você de torta ou não.
NOTA: 8,0
2 comentários:
literalmente o filme é uma porcaria a única coisa que gostei e ainda um pouquinho foi a musica da joana o resto lixo ,me desculpe quem gostou mais o filme é de um mal gosto !sem nexo,sem nada me arrependi de ver!
Como fã de Tim Burton e de Johnny Depp, cega e parcial que sou, seria praticamente impossível que eu viesse aqui dizer que não gostei do filme, né.
Confesso que assisti com medo. Porque a sinopse era tão boa, com um diretor tão bom, com atores tão bons... A chance de eu criar uma espectativa grande demais e me decepcionar era bem alta.
Mas isso não aconteceu e eu amei o filme com todas as minhas forças!
Postar um comentário