domingo, 29 de agosto de 2010

Eclipse

Meus amigos costumam perguntar por que eu gasto meu dinheiro vendo os capítulos da saga Crepúsculo no cinema. Como resposta, e com a convicção de um doutor em sociologia, respondo que enfrentar a histeria hormonal coletiva é uma experiência antropológica. E é mesmo. Quando me dispus a assistir Eclipse, quase um mês depois de seu lançamento, todo o furor já havia passado. Mas ainda assim, com a sessão quase vazia, dava para sentir de forma sobrenatural os suspiros e gritinhos das meninas. E isto só prova uma coisa: os filmes dos vampirinhos apaixonados que brilham à luz do sol são realmente um fenômeno. E só são porque, como já havia dito antes, cada fotograma é milimetricamente programado para agradar seu público-alvo. Não há no texto conteúdo cerebral qualquer ou algum traço de liberdade criativa na direção. É tudo muito bonitinho, mas nem um pingo saudável. Como um hambúrguer de fast food. Eclipse não apresenta uma evolução esperada para continuações de uma série. É só mais do mesmo, mais uma vez. É impressionante como até certos enquadramentos são semelhantes com alguns dos outros capítulos. E mesmo sabendo que os filmes desagradam boa parte da ala masculina - aqueles que não vêem sentido ou explicação naquela novela mexicana travestida de filme de monstro, aprendi a vê-los de forma diferente: não os levando a sério. E, vamos ser francos, não há por que levá-los a sério. Tomei Eclipse por comédia-romântica (sério!). E visto por esta ótica, o filme se torna até bem divertido. Devo admitir que Eclipse seja sim o mais divertido dos três. Quando o diretor David Slade assumiu o comando deste episódio, surgiu a esperança (vã) de que, pelo currículo do cara (é dele o sangrento 30 Dias de Noite), a saga tomasse um rumo surpreendente ou inesperado. Mas não. Como é um produto de estúdio, nada de sangue jorrando ou altas doses de adrenalina, apenas romance capenga e piegas com algumas pitadas de ação parca e um blábláblá explicativo desnecessário que menospreza a inteligência da platéia (se é que há vida inteligente dentre os fãs de Crepúsculo). Resumindo, tudo muito asséptico num filme ruim que se acha cool. David Slade por sua vez, tendo suas artérias e veias rompidas hemostasiadas, tratou de compensar sua frustração inserindo piadas ácidas que, de certo modo, só fariam sentido para aqueles que se sentem nauseados com os devaneios apaixonados de Edward e Bella. Alguns diálogos ainda continuam intragáveis, mas as piadinhas com os adolescentes valem o ingresso. O filme também não desperta tensão e nem procura dar raciocínio lógico aos acontecimentos. A cena de abertura atesta bem isto: é escura, mal editada e sem sentido aparente. A partir daí começa uma ciranda de bons contra maus misturada com romance casto e briga de egos narcisistas. Slade também não diz a que veio e, como um gato castrado, só mantém a preguiça dos longas anteriores. Tudo é mastigado demais (mesmo sabendo que o texto foi limado ao extremo), há closes dispensáveis, travellings sem sentido, a edição é por vezes acelerada e a trilha é pop deprê demais. Mas num filme feito para adolescentes, quem vai ligar pra isso? Mesmo assim há momentos de pura diversão. Momentos que antes causavam um embrulho no estômago por serem tão clichês acabam provocando um riso involuntário, como nas cenas do beijo roubado, do pedido de casamento e quando Bella se declara para Jacob. É realmente difícil conter a gargalhada. Falando em Jacob, olha, parece que o sucesso mexeu com a cabeça de Taylor Lautner. Com seu personagem mais convencido e prepotente, ele próprio se tornara assim. Sendo ele um péssimo ator, faz caras e bocas e expressões corporais como se estivesse atuando numa peça de Tennessee Williams. Coitado. Agora, desperdício de talento foi colocar a Bryce Dallas Howard no papel da ruiva Victoria e dar-lhe meros 20 minutos totais ao longo de quase 2 horas de filme. Por fim Eclipse continua sendo um monte de cocô. Só que dessa vez o colocaram num saco e jogaram no meio de uma sala lotada. Ainda causa nojo e repulsa, mas acabou sendo engraçado da forma como foi armado. Boa sorte Bill Condon! NOTA: 8,0

2 comentários:

tha disse...

Olha, reza para que as fãs da série não descubram seu blog. Reza.
hahahahahahahaaha

Yvna Cordeiro disse...

Que bom que existe alguem que realmente fala a verdade dessa droga de filme...ou melhor, de saga!
Eu sou cinéfila...adoro...assisto de tudo e troco tudo por um bom e vleho cineminha...mas por incrível que pareça quase adormeci vendo essa bendita saga...sério...por três vezes.
Infelizmente, terei que resistir ao sono e terminar essa tragica tragetória, só pra no final de tudo, falar com a maior das convicções que realmente todos são uma grande MERDA!