
O grande erro dos produtores neste suposto Capítulo Final foi se confiar demais no nome da franquia ao invés de bolarem uma história mais envolvente e criativa - como fizeram, por exemplo, com Toy Story 3. E também não observaram que a série já dava sinais de desgaste em Shrek Terceiro (culpa talvez da saída de Andrew Adamson da direção). Podem até ter corrigido alguns erros do longa anterior, todavia, a confiança exacerbada na “marca” gerou um produto sem convicção, com auto-estima demais, ambição demais (é o primeiro dos quatro em 3D) e desejo de agradar de menos. Aquele Shrek anarquista e grosseirão ficou no passado. O ogro agora tem uma vida pacata e enfastiosa igual a qualquer mortal que resolva casar e constituir família. Então, qual seria a aventura ideal para um cara pai de família e de vida nitidamente bucólica? Simples, tirando-lhe tudo e fazendo-o correr para recuperar. Ao moldarem o roteiro no melhor estilo A Felicidade Não se Compra, eles criaram uma trama excessivamente adulta com pouca diversão e sem trajetória consistente, com desenrolar óbvio e sem surpresas - Shrek quer apenas ter sua vidinha de volta. As crianças, não tão bobas quanto pensam, ficaram boiando.
O início do longa sintetiza bem isso ao mostrar o dia-a-dia da família Shrek. O que começa engraçado vai aos poucos se tornando cansativo e irritante, tanto para o ogro domado quanto para a platéia. Sem falar que o filme dá alguns pulos temporais estranhos (a trama começa realmente antes da parte dois e ignora a aventura anterior em partes). E ao entrar em cena o duende Rumpelstilskin, que guarda rancor do ogro por ele ter atrapalhado uma de suas falcatruas mágicas, nosso herói faz um pacto com o mesmo em troca de sua vida de solteiro por 24 horas. Mas o duende o engana e cria um mundo paralelo onde Shrek nunca nasceu, Fiona é líder de uma gangue de ogros rebeldes e o reino de Tão Tão Distante encontra-se em frangalhos. A partir daí a trama vira uma chatice só com Shrek tentando resgatar sua vida de volta ao descobrir, pasmem, que era feliz e não sabia. O diretor Mike Mitchell aposta bastante no romantismo para tentar agradar o público (só o beijo do amor verdadeiro trará tudo ao normal). E ao apostarem no duende traiçoeiro como vilão da vez, diretor e roteiristas esqueceram os pequenos fãs da série, já que seu nome impronunciável traria certa rejeição ao personagem.
O uso do 3D também não ajuda muito na fluidez da trama. As cenas de ação são meras desculpas para o efeito funcionar. E os personagens secundários ficaram a contragosto em segundo plano para que Shrek pudesse, novamente, fazer Fiona se apaixonar por ele. O Burro ficou insuportável e o Gato, agora sedentário e obeso, apenas repete seus cacoetes tão manjados. As poucas piadas às vezes funcionam bem. Há sim alguns momentos inspirados, como o fato das cúmplices de Rumpelstilskin terem TODAS as feições da Bruxa Má do Oeste de O Mágico de Oz (inclusive derreterem quando molhadas), a cena em que Shrek aproveita seu dia de ogro ao som de ‘Top of the World’ do The Carpenters, o moleque emburrado de voz rouca que pede insistentemente seu rugido e a inserção involuntária da música ‘Hello’ de Lionel Ritchie (acredite você vai rolar de rir!). Mas todo aquele cinismo e sarcasmo que fizeram a fama do ogro verde desapareceram, e quem agora ostenta a bandeira do politicamente incorreto é o amoral duende, de longe a melhor coisa do longa. Com um desfecho abusivamente otimista, Shrek para Sempre não fecha este último capítulo com chave de ouro. A série se encerra com um filme pouco divertido e meio desgostoso. Uma pena.
NOTA: 8,0
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