Peço desculpas a todos que por aqui passam por andar um pouco atrasado nas minhas postagens. Primeiro por estar sem PC há quase um mês (já resolvido). Segundo, por estar um pouco sem tempo. Gostaria de me desculpar também com os amigos blogueiros, já que, devido ao segundo ponto da questão, andei um pouco relapso quanto às minhas visitas semanais. A todos agracio com os três últimos longas vistos e apreciados - espero que degustem bem as críticas - e a promessa de não mais atrasar tanto. Grato pelo carinho dos que aqui passam vez ou outra.
Um abraço a todos,
Henrique Lima.
Sabe, concordo com Alan Moore: Watchmen nunca deveria ter sido adaptado para o cinema. Isto é apenas uma opinião pessoal, mesmo porque eu gostei pra caramba do filme. Mas acho que deveriam ter deixado quieto. Depois de quase 3 horas de filme, o diretor Zack Snyder merece parabéns pelo trabalho hercúleo que fez. O cara realmente é um visionário. Mas deveria ter deixado quieto. Diferentemente de 300, cujo filme implorava pela arte conceitual de sua fonte de inspiração, Watchmen - O Filme deixa aquela mesma sensação indigesta que estragou Sin City: a de que filmaram os quadrinhos da graphic novel. E isto, caros amigos, era um ponto que poderia ter sido evitado.
Watchmen é um ótimo filme sim, porém cheio de pecados. Pecados que, insisto, poderiam ter sido evitados e que condenam qualquer um ao inferno por macular algo sacro. É certo que tanto a HQ quanto o filme são destinados ao público adulto e que suas idéias são motivo para inúmeras discussões ao longo de semanas, mas, apesar de tudo, Snyder ainda conseguiu fazer uma obra de difícil assimilação. Adaptações não são direcionadas apenas para fãs da fonte, iniciantes também querem ir ao cinema. E para estes, a obra não é de bom agrado. Outro ponto: Snyder exagerou demais na violência. Na HQ já era um tanto exagerada, mas o diretor parece querer agradar os sádicos. Confesso que até eu fiquei chocado em determinadas seqüências. E neste ponto, Snyder tratou de fazer um filme exclusivamente para homens. E mesmo tendo uma heroína junto dos vigilantes mascarados, ela foi moldada para o público masculino. Isto afasta grande parte do público feminino. E por último, momentos importantes foram esvaziados para, talvez, aliviar a tensão do longa. Um exemplo: a cena da consumação sexual do Coruja com a Espectral ganhou ares cômicos e constrangedores ao ser acompanhada de uma trilha sonora errada e de analogias desnecessárias. Sacrilégio absoluto!
Ainda assim, Watchmen é um ótimo filme, porém sem o impacto da HQ. Simplesmente porque toda aquela paranóia do roteiro já existia no papel e que, ao longo de 20 anos, foi dissecada e clonada em outras mídias e adaptações. Mas há o que se louvar no filme. Os créditos iniciais exploram muito bem a mitologia da série e, sem exageros, é o melhor momento do longo por sua criatividade. O Dr. Manhattan está mais imponente e Roscharch, o real protagonista da obra, dá personalidade ao longa toda vez que entra em cena. O clímax também é espetacular, contudo, seu novo desfecho quebrou o clima da história. Por mais absurdo que fosse, o ataque de um monstro gigante ainda faria mais sentido do que o final ‘bem sacado’ imposto pelos roteirista e pelo cineasta. Por isso é que deveriam ter deixado quieto. Watchmen poderia ter se tornado o melhor filme do ano, entretanto, acabou por ser só um ótimo filme. A verdadeira obra-prima continua sendo aquela escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons. Uma pena.
NOTA: 8,5
Verdade seja dita: a Dreamworks não quer ser a Pixar. Por um lado é uma pena, já que o estúdio de Toy Story e Wall*E está anos-luz a frente de todos em termos de tecnologia e tem uma preocupação exemplar de gerar obras-primas. Mas, por outro lado, é uma boa já que o estúdio do Shrek está mais preocupado em tirar sarro de tudo e de todos, criar personagens insanos e incorretos e mundos cheios de entranhas curiosas - e, consequentemente, gerar franquias ao explorá-las. Além de conceber ótimas histórias e nos presentear com uma boa dose de diversão inteligente. E, bem, caso vire uma obra-prima foi por mero acaso das circunstâncias. Monstros vs. Alienígenas não foge ao lado bom dessa verdade.
Não quero parecer ousado ou ultrajante, mas Monstros vs. Alienígenas foi a primeira animação a que assisti que realmente só tem graça se vista no cinema. A fotografia sem dimensões dá espaço para um visual grandioso e riquíssimo em detalhes. Em outras palavras, é impressionante. Nisto pesa o fato de o filme ter sido criado para ser exibido em 3D estereoscópio. Ah, e este foi um dos meus temores: assistir um filme em 3D sem a imersão que os óculos especiais proporcionam e ver uma animação que, por desculpa do uso dessa tecnologia, atiraria objetos o tempo todo na platéia. Com exceção de uma ou duas cenas, praticamente isso não é visto. O efeito 3D é mais de profundidade. Daí gerar uma curiosidade mórbida de assisti-lo com os tais óculos graças à ação ligeira e a grandiosidade da fotografia.
O longa da vez da Dreamworks trata de homenagear e satirizar os filmes de ficção científica B dos anos 1950, e ao faze-lo põe-se num dilema crítico: ao qual público é realmente destinado. Está certo que quem lota as sessões são os adultos, mas deveriam ter dado mais distinção nas cenas, ao invés de querer agradar a todos de uma vez. Eu pelo menos não vejo graça em piadas infantis e sei que crianças não entendem quando há uma homenagem a, por exemplo, Contatos Imediatos do Terceiro Grau. Tirando esse detalhe e o destoante, porém necessário prólogo do filme - sabendo que a personagem principal, Susan Murphy, é dublada por Reese Witherspoon e carrega nuances de sua personalidade, o início do filme mais parece uma homenagem a um dos sucessos insípidos da atriz, Doce Lar -, todo o restante do longa é um arraso.
Por fim, ao comparar Monstros vs. Alienígenas com Kung Fu Panda fica evidente a evolução na inovação técnica e no visual de cair o queixo. Também corrigiram o erro com relação às piadas. Desta vez puseram gags realmente hilariantes (a cena da apresentação dos monstros ao presidente é de chorar de rir). Contudo, faltaram aquela lições filosóficas do filme do panda Po. Há uma moral sim, porém ela passa batido ao público. Monstros vs. Alienígenas é um espetáculo pra lá de divertido e inovador, mas faltou um tantinho de ousadia criativa. Os personagens continuam insanos, mas evitam ser politicamente corretos (até porque são párias monstruosas). O roteiro é limpo e inteligente, porém criado com um único intuito: gerar dinheiro. Conseguiram. Mas o grau de satisfação não atingiu 100%. Quem sabe na próxima...
NOTA: 8,0
O Curioso Caso de Benjamin Button é um paradoxo. É um filme de David Fincher que menos se parece com um filme de David Fincher ao mesmo tempo que é todo David Fincher. Confuso? Pois não fique. Toda essa minha retórica de nada serve, foi apenas um devaneio displicente de alguém que viu uma obra-prima emanar da tela do cinema. Presenciar um evento desses em ambiente natural (a tela grande) só me faz gostar ainda mais de cinema e perceber o quanto àquelas imagens e palavras ali vivenciadas mexem com a gente de maneira inexplicável. Perdoem-me por tamanho eufemismo, mas o filme me abalou de verdade.
Que fique claro uma coisa: a única semelhança entre Benjamin Button e Forrest Gump é o fato de Eric Roth assinar o roteiro dos filmes de ambos. E só. Mesmo que alguns desocupados na internet atentem semelhanças aos dois, o filme de David Fincher em nada lembra o oscarizado longa de Robert Zemeckis. Do início ao fim O Curioso Caso de Benjamin Button é de uma melancolia indescritível. É um filme triste, por vezes engraçado, mas triste em sua concepção e conclusão. Toda a tristeza ali vista é acentuada pela fotografia em tom pastel de Claudio Miranda, pela trilha soturna de Alexandre Desplat e pela direção detalhista de Fincher. Sem falar em Brad Pitt, imerso de corpo e alma em Benjamin Button (e melhorando como ator a cada novo papel). Ele molda a personalidade e o caráter de Benjamin de forma tão crível que nos envolve de forma quase paternal no seu carma. Nós rimos com ele, torcemos por ele, vibramos com ele a cada novo feito, sofremos com ele e choramos por ele. Nós somos expectadores passivos de sua felicidade disfarçada. Já Cate Blanchett, ótima como sempre, é a outra metade Button, é a expectadora ativa de sua trajetória nada convencional. É em sua Daisy que repousa toda a história do homem que nasce velho e morre jovem. E todo o amor dele.
Por falar em amor, o roteiro de Roth foca justamente nele. Seu surgimento, seu ápice e seu inevitável fim. Porém, as questões que Fincher deixou são a respeito da vida e da morte. Digamos que esta última é uma constante no longa. Nosso fado, nossa única certeza. Button nos deixa claro que nunca se é novo demais ou velho demais para a vida. Fincher deixa uma pergunta: quando exatamente a vida começa? Ou termina? E o texto cheiro de frases edificantes não deixa nenhuma lição de moral, por incrível que pareça. A impressão que fica é que você nunca vive o suficiente; que tudo o que você viu e aprendeu ao longo da vida de nada servem quando chega à hora da morte. Benjamin Button não percebe, mas morre da pior maneira possível: tendo acabado de nascer. Aí amigo, como na vida real, as lágrimas são inevitáveis.
NOTA: 9,5