quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Lua Nova

Domingo. Começo de noite abafado. Uma fila quilométrica para entrar. Sessão lotada. Ansiedade. Dois terços do público ali presente deveriam ter metade da minha idade. Metade da platéia era do sexo feminino. Gritos histéricos. Suspiros abafados. Sussurros engraçadinhos. Um cheiro desagradável de biscoito recheado sabor morango pairava no ar. Filme dublado. Sentiu o drama? Esta foi a minha sessão de Lua Nova.

Lua Nova não é o filme do ano. Definitivamente não. Não tem os melhores efeitos especiais (todavia superiores ao primeiro filme), não é bem cuidado, não é bem tratado, o roteiro de Melissa Rosenberg é premeditado e as interpretações passam longe de algo convincente, fazendo até o pior ator de Malhação enrubescer. Mesmo assim é um sucesso. Como explicar? Sem falar que nem o próprio romance dos protagonistas, tão badalado e alardeado, tem tanta ênfase na trama. Lua Nova é um lixo de luxo, um produto desleixado com excesso de autoconfiança. Presunçoso, prepotente e um enorme sucesso. E no meio dessa história toda sinto que o chato sou eu. Investiram mais dinheiro, corrigiram os erros, melhoraram o pouco que tinha de bom, intensificaram a ação (embora ainda dê certa aparência de descaso), puseram um diretor mais experiente no comando (Chris Weitz, dono de um currículo eclético que vai de American Pie a A Bússola de Ouro) e no frigir dos ovos deram vida a um filme vazio, sem conteúdo significativo, que aposta (e apela desmedidamente) no retorno do público feminino. É um upgrade do mais do mesmo.

A trama dessa vez enfoca o relacionamento de Bella e Jacob Black (o péssimo Taylor Lautner). O elitismo caucasiano vampiresco é deixado um pouco de lado para o surgimento da raça dos lobisomens. Após um fora de Edward e de noites infindáveis de depressão e pesadelos, a insossa heroína encontra refúgio na amizade sincera de Jacob. Daí sai a metáfora sobre a castidade e entra quase que indiscretamente uma nova sobre a afloração dos hormônios. Jacob se metamorfoseia num lobo raivoso depois de sentir atração (excitação?) por Bella. Corta o cabelo, se tatua, começa a comportar-se de forma mais rude (ui!) e ganha massa muscular. Isto, é bom ressaltar, é mera desculpa esfarrapada para a exibição gratuita e sem fundamento de tórax e abdomens sarados para levar o mulheril ao ensandecimento. Entenda-se, apelação.

De alguma forma, isto pode até fazer algum sentido. Vejamos: Edward é romântico, cavalheiro e culto. Jacob é solitário e bruto, porém apaixonado. E na confusão de sentimentos, Bella se vê dividida entre o pálido e gélido vampiro e o bronzeado e aquecedor lobisomem. A tradução do sonho de qualquer adolescente, que é ser disputada por dois homens que carregam consigo as características opostas que elas tanto admiram. Mas vamos falar sério, o que diabos esses dois caras viram na Bella? Ela é uma garota sonsa, lerda, desequilibrada, desastrada e carrega sempre a mesma expressão compungida. Se a Bella é o arquétipo das adolescentes de hoje, Deus, que raios de mulheres elas serão no futuro? Mas há alguns momentos de ação! E eles, de certo modo, compensam a falta de algo mais interessante no enredo. Porém não apagam o constrangimento da hemorragia de frases clichês que escorre da tela. No fim, a única coisa digna de nota no filme é a presença enigmática e andrógina dos Volturi, a casta mais nobre dos vampiros. Ali, naquele instante em que roubam a cena, esquece-se um pouco do sentimentalismo piegas e concentra-se na mitologia atualizada dos sugadores de sangue. Fim. Quer ir com sua namorada, boa sorte, o risco é seu. Mas lembre-se de levar um I-Pod junto. Ele pode lhe ser de grande valia.

NOTA: 7,5

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Crepúsculo

Bom, falar de Crepúsculo em tempos de Lua Nova é algo um tanto ultrapassado. Mas, visto que o estrondoso sucesso do segundo filme da saga elevou Stephenie Meyer ao status de J.K. Rowling, resolvi tirar a crítica do primeiro filme do limbo e postar com um ano de atraso. Quero que fique bem claro que nunca foi intenção minha expô-la aqui. Não assisti ao filme no cinema, apenas em DVD. E atualmente nem ando colocando resenhas de filmes que assisto em casa. Mas o lançamento de Lua Nova me fez resgatar aquele velho insight, já um tanto apagado e esquecido, reavaliá-lo e colocar à mostra pra quem quiser ver.

Crepúsculo é tipo de filme que todo mundo gosta de denegrir, mas no fundo adora. Eu admito que pessoalmente relutei bastante em vê-lo, mas acabei cedendo. Não foi por preconceito não, foi puro desinteresse na trama. Trama que, aliás, não é mais nenhuma novidade. A diretora Catherine Hardwicke até que se esforça para fazer um trabalho digno, autoral, mas é evidente que cada tomada, cada close, cada suspiro, enfim, cada detalhe foi milimetricamente planejado para o filme tornar-se um produto lucrativo e não uma obra de qualidade - se é que alguém acreditava nisto. O primeiro livro da saga, com sua prosa rápida e envolvente, não tinha foco de destino. Qualquer um que o lesse poderia gostar e ponto final. Mas ao ser adaptado para o cinema, naquele joguete típico de “vamos arrumar um público-alvo”, enxugaram a história e centraram no que os fãs queriam ver: o romance pueril entre Edward e Bella. Não que seja ruim, porém, constatando-se que o filme é um mero produto de entretenimento e não uma adaptação de respeito (como os capítulos 3, 4 e 5 de Harry Potter, por exemplo), isso chega a ser entediante. Mas a estratégia deu certo e o filme foi um sucesso. Se funcionou bem no primeiro, funcionará bem no segundo. E por aí vai.

Crepúsculo tem tomadas chatas e enjoativas - principalmente as aéreas da floresta, algumas até um tanto vergonhosas. Tem momento de dar sono. Mesmo assim é um filme mediano. As cenas de ação são apressadas e mal planejadas (culpa da total falta de experiência da diretora com as mesmas), mas até que convencem, principalmente no clímax. O filme ganha pontos mesmo cada vez que parte do clã de vampiros “do mal” entra em cena, e também por não estereotipar os adolescentes, fugindo do comum dos filmes que os têm como protagonistas. Falando neles, é inegável que Crepúsculo seja um filme teen e que agrade em sua maioria as mulheres. Não por causa da palidez plástica do Robert Pattinson, mas por conta do cavalheirismo extremo de seu Edward, sua forma de cortejar, de demonstrar amor por Bella, de lutar por ela e, claro, sua imensa força de vontade em não sorver seu sangue. E é aqui onde entra a metáfora da castidade criada pela autora que fez os livros da série viraram febre e as fãs soluçarem no escurinho do cinema. Edward é um príncipe encantado de presas afiadas e Pattinson até que segura bem a onda como galã da vez, apesar de certa canastrice em determinados momentos. Já a Bella de Kristen Stewart parece perdida, meio zonza, meio fora de órbita. Difícil dizer às vezes se as expressões que faz são de medo ou de admiração. A trilha sonora meio pop, meio emo dá uma levantadinha no astral do longa e seu desfecho, apesar de piegas, tem um diálogo agradável entre os protagonistas. Nada mais. Crepúsculo faz parte de um plano e ele está funcionado, como já disse Kevin Smith em sua genial palestra na Comic Con deste ano. Daí é só esperar mais do mesmo daqui pra frente.

NOTA: 7,0

Se Beber Não Case

É tudo questão de timing. Não tem essa de ser metido a engraçado, fazer o público rir a custa de palhaçadas histéricas ou de escatologia verbal. Para se fazer comédia o ator tem que ter timing, ser engraçado por natureza. E diferente do que muitos pensam, fazer comédia não é fácil. Não é para qualquer um. Do humor ingênuo de Chaplin e Keaton, passando pelo non sense do Monty Python, o pastelão dos Trapalhões, até o humor de confronto tão em uso atualmente, a comédia sempre está se reciclando, por mais que o que seja feito hoje em dia seja uma saraivada de tudo o que já foi feito antes. Mas ao se fazer humor com o improvável, surge um novo alento para nossos olhos. E quando um filme com três caras desconhecidos se torna uma das maiores bilheterias do ano com uma censura 18 anos, pode olhar que aí tem coisa.

Se Beber Não Case é o improvável do óbvio. É uma comédia pra lá de engraçada, sem nenhum nome tão conhecido no elenco, realizada por um diretor talentoso, porém apelativo, sem tanto apelo junto ao grande público. O diretor Todd Phillips tem no currículo apenas uma comédia digna de nota, Dias Incríveis, de 2003 (que, confesso, sou fã). Então não existe pressão nem expectativa da parte de ninguém no lançamento de qualquer projeto seu. Quando Se Beber Não Case estreou na surdina em pleno verão norte-americano, quem apostaria que um projeto sem nomes de peso iria fazer sucesso? Pois fez. Com uma premissa pra lá de manjada – uma despedida de solteiro que dá errado – nasceu a melhor comédia adulta do ano. E não se admire se você achar aquilo tudo familiar, qualquer semelhança com qualquer ressaca sua é mera coincidência.

A história começa quando quatro amigos resolvem celebrar o último dia de vida antes do casamento de um deles (Justin Bartha) em Las Vegas. O problema é que depois de uma noitada daquelas e de uma ressaca homérica, ninguém se lembra de absolutamente nada e, para piorar, o noivo sumiu. Se esta breve sinopse já te fez rir, prepare-se para as surpresas. Agora, diferente do filme-modelo dessa classe de comédias (A Última Festa de Solteiro, com Tom Hanks), Se Beber Não Case não foca na noite de esbórnia e luxúria dos amigos, e sim nas conseqüências da mesma. Os outros três sobreviventes interpretados por Bradley Cooper, Ed Helms e Zach Galifianakis (este último é um achado e desde já merece o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante) partem numa epopéia pela cidade dos cassinos em busca de noivo e de descobrir o que realmente aconteceu. Acredite, quanto menos você souber a partir daqui melhor.

Se Beber Não Case é um caso extra nos cinemas. Uma comédia adulta, com pessoas adultas que se comportam como adultas. Por isso, nada de passar constrangimento com atitudes infantis. O constrangimento aqui se resume ao fato de um pileque apocalíptico ter praticamente acabado com a memória de uma farra espetacular. E é nesse outro quesito que a comédia ganha mais pontos. Todd Phillips não faz o óbvio de explicar a cada frame de filme o que houve na noite anterior, pelo contrário, ele reserva as piadas para o resultado e as seqüelas do que ocorreu. O destino do noivo e as diabruras dos outros três amigos ficam apenas na imaginação. Somos espectadores ativos da história e compartilhamos com eles a total falta de senso perante aquela ressaca. O que eles sabem é o que nós sabemos. E o que eles descobrem nós descobrimos com eles durante toda a projeção. O que é motivo de vergonha para eles, é motivo de riso para nós. E lá pelas tantas, já no fim do filme, quando já passamos por quase todo tipo de reação por conta daquela noite de loucuras e quando praticamente não importa mais o que realmente aconteceu, eles encotram a máquina digital que registrou tudo. E junto com eles fazemos uma promessa de ver aquilo por uma única vez e esquecer toda aquela infâmia. E é no ápice do final feliz, no subir dos créditos que reside toda a graça do filme. Se você não rachar o bico de tanto rir no fim do filme, pode procurar um analista. Ou o seu pulso. E se você achar que Se Beber Não Case é um filme chato e sem graça, não se preocupe. Ninguém vai notar se você sumir. Pode voltar pro Zorra Total que ninguém vai te crucificar por isto. Cê tá pagando, né!?

NOTA: 9,0

sábado, 19 de setembro de 2009

Up - Altas Aventuras

O dicionário da língua portuguesa classifica obra-prima como ‘a mais notável obra de um autor’. Raros foram os casos de artistas que, de tão geniais, criaram mais de uma. William Shakespeare, Leonardo Da Vinci, os Beatles, Alfred Hitchcock... e a Pixar. Ok, a Pixar Animation é um estúdio cinematográfico. Porém, o conglomerado de cabeças pensantes que ali trabalham ostenta com austeridade sua marca ao ponto de se omitirem como pessoas e lançam com este selo de qualidade uma nova obra-prima a cada ano. Up - Altas Aventuras é o mais novo clássico a seguir este padrão.

Contrariando qualquer aposta demérita numa história que tem como protagonista um senhor de 78 anos, o diretor Pete Docter surpreende a todos ao fazer funcionar a perfeição as aventuras capitaneadas por este improvável herói. E é incrível como a coisa realmente funciona bem. Carl Fredricksen é um viúvo rabugento e desolado a beira de ser mandado para um asilo quando resolve içar a casa com alguns milhares de balões e partir em busca do Paraíso das Cachoeiras, um ponto exótico entre o Brasil, Venezuela e Guiana, antigo sonho aventureiro de sua falecida esposa. Carl não quer apenas recuperar o tempo perdido, ele quer também, quase no fim da vida, encontrar a si mesmo. E ao levar consigo o garoto Russel como bagagem indesejada, ele não somente tem que aturar sua tagarelice como tem outra lição a aprender: lidar com um filho que nunca teve. Carl, com seus modos rudes e antiquados, é o total oposto de Russel, um escoteiro boa-praça precoce como as crianças de hoje em dia e cheio de bugigangas tecnológicas típicas de sua geração. Neste caso, os opostos definitivamente se atraem. E se completam. Russel busca a atenção e o carinho de um pai ausente e Carl carece exercer o dom paternal guardado no seu coração. E é na química entre essa dupla tão díspar que repousa toda a grandiosidade de Up.

Up não é só uma mera animação 3D, é uma homenagem às animações de antigamente, à arte absoluta de fazer cinema. Enquanto Wall*E ambicionava ultrapassar os limites entre realidade e ficção, Up em contraponto quer apenas contar uma bela história sobre superação ao mesmo tempo em que deixa uma bela mensagem sobre nunca ser tarde para realizar nossos sonhos. Oscilando momentos de humor genial (qualquer cena com Russel e a ave Kevin ou com a matilha de cachorros “falantes”) e melancolia (qualquer instante em que Carl senta para avaliar sua vida são de fazer chorar até o mais insensível dos adultos), o diretor Pete Docter reafirma a máxima de Walt Disney que diz que para cada sorriso deve haver uma lágrima. E a lindíssima e discreta trilha sonora de Michael Giacchino contribui significantemente para melhor fluência desses momentos. Up poderia ser a cereja no topo do bolo da Pixar, mas parece que esse delicioso bolo nunca chega ao fim. Up também marca o crepúsculo de uma fase e a aurora de uma nova dimensão. Up - Altas Aventuras desponta com folgas como o melhor filme do ano até aqui. Algo inquestionável. E o velho Walt, esteja onde estiver, deve estar cheio de orgulho de seus pupilos.

NOTA: 10

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Mulher Invisível

Existe uma música dos anos 1980 de autoria de Ritchie e Bernardo Vilhena chamada A Mulher Invisível. A letra não tem nada a ver com nada, fala de uma mulher invisível (!) que passa por tudo e por todos sem ser notada (!!). E numa das frases dessa música retrô-futurista os autores a descrevem como “pura energia”. Talvez tenha sido pensando nesta bendita frase que o diretor Cláudio Torres criou a personagem de Luana Piovani no filme A Mulher Invisível. E não. Antes que alguém pense que o filme é baseado na música, ou sequer tenha sido inspirado em sua letra, não. Apenas seus títulos são homônimos.

Em seu 3º longa-metragem (Traição não conta), Cláudio Torres mescla as qualidades de seus dois anteriores - a surrealidade do roteiro e o protagonista perdido em si de Redentor e a comédia escrachada de A Mulher do Meu Amigo - e funde tudo numa aposta mais lucrativa, porém arriscada: a comédia romântica. Para o papel principal convocou Selton Mello. Daí abre-se uma discussão: Torres fez isso como prova de confiança, já que o ator tem talento de sobra para entreter o público, ou como jogada de marketing, já que ele é garantia de bilheteria certa? Não se sabe. O fato é que Selton segura o filme inteiro nas costas sem fazer muito esforço. Ele interpreta Pedro, um jovem boa-pinta, bem de vida e feliz com a mulher de sua vida... até levar um baita fora dela e cair numa depressão desmedida. Ele perde a razão de viver e aos poucos vai perdendo tudo, o emprego, as coisas de casa, os amigos e a sanidade. E é aí que surge Amanda. Interpretada com certa presunção por Luana Piovani, a dita cuja é o expoente da mulher ideal: prestativa, carinhosa, tarada, vidrada em futebol, compreensiva e dedicada. Ah, e adora andar de lingerie pela casa. Maravilha! O problema, como bem sabemos, é que mulher ideal não existe e Amanda é apenas fruto da imaginação e do desespero de Pedro. E ele é o único que não sabe disto. Eis que as confusões estão apenas começando.

Não obstante o fato de Luana Piovani desfilar quase o tempo inteiro em trajes sumários, é Selton Mello quem é dono do filme inteiro. O cara é realmente demais e cria uma empatia instantânea com a platéia. Bom ator e ótimo comediante, Selton dá um show principalmente quando está atuando sozinho. Ele engraçado até quando não faz graça. As cenas da ida ao cinema e da descoberta da não existência de Amanda são de rachar o bico. O roteiro em si não traz nenhuma novidade, mas abre espaço suficiente para Selton brilhar. Além dele e de Luana, Torres também desenvolve bem os coadjuvantes, ancorando-os na personalidade esquizofrenicamente apaixonada de Pedro. Maria Manoella faz a vizinha xereta que nutre uma paixão platônica pelo protagonista; Vladimir Brichta interpretando pela enésima vez o canalha de bom coração é o melhor amigo e Fernanda Torres dá vida a um tipo de Vani mais “normal”. E mesmo apostando pesado na comédia, o diretor não foge do óbvio das regras dos romances e conclui a obra com um infalível final feliz. Se estas duas palavras juntas não te agradam, não tema, até lá você já tem comprada a piada e as inúmeras risadas compensam o desfecho clichê. De sobremesa, Cláudio Torres deixa uma música-chiclete do Ramones tocar ao longo dos créditos finais e empurra uma moralzinha básica de que uma desilusão amorosa pode doer, mas também pode ser bastante engraçada. Que atire a primeira pedra quem nunca se sentiu um boboca depois de um fora.

NOTA: 9,0

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

G.I. Joe - A Origem de Cobra

Antes de me aventurar na sessão de G.I. Joe - A Origem de Cobra veio à mente aquela pergunta que atiçou o meu apetite cinéfilo ao longo desse três meses de verão norte-americano: “será que vai ser este?”. Contudo, não havia muito que se esperar de uma adaptação pouco fiel e descaradamente exagerada (vide o trailer) do desenho Comandos em Ação dos anos 1980 dirigida pelo homem que deu Van Helsing ao mundo. Bom, em meio a uma enxurrada de filmes-pipoca - quase todos continuações de franquias de sucesso - que não cumpriram o que prometiam e embora não houvesse uma grama de expectativa quanto a sua duvidosa qualidade, G.I. Joe até surpreende. É um sopro de originalidade (sic) e fecha a temporada como o filme mais divertido do ano. Menos mal.

Visto pela ótica de um pirralho de 10 anos que brinca de forma histérica no chão da sala com um punhado de action figures dos Joes, o longa é um alento para qualquer delírio juvenil. E, bem, não é preciso ter um QI 180 para ir ao cinema ver esse tipo de filme de ação, já que boa parte de nós deixa a sanidade em casa antes de sentar na poltrona da sala escura. E o diretor Stephen Sommers, sabendo bem disto, resgata de forma nada sutil aquele moleque sedento de adrenalina e aventura que reside no subconsciente de cada um de nós. Tido como uma espécie de Rei Midas ao contrário (subverte qualquer relíquia da cultura pop que toca), o diretor é um enfant terrible em Hollywood, causando medo nos céticos a simples menção de seu nome. Mas, apesar do preconceito, Sommers é bem intencionado e realizou um ótimo trabalho no comando do filme dos Joe, embora tenha descaracterizado alguns personagens (Breaker, por exemplo, virou árabe). E mesmo com um visual século XXI, os Joes ainda são os mesmos de 20 anos atrás. Proferem frases clichês, possuem armamento e toda uma parafernália militar surreal, encaram qualquer perigo com a pacificidade de um monge e os momentos de ação são inacreditáveis. Uma palavra: beleza!

Não espere um roteiro coeso ou alguma lógica nas traquitanas dos Joes (cérebro pra quê mesmo?), muito menos um conhecimento mais profundo de cada personagem. Em quase 2 horas de filme Sommers tem pressa pra tudo e gera um filme acelerado demais e sem um pingo de moralismo. Ainda assim consegue deixar bem claro e bem explicitado para o público quem é quem e de que lado está. E orquestra de forma racional todas as cenas de ação - uma lição que Michael Bay insiste em não aprender. Um bom exemplo é a espetacular seqüência pelas ruas de Paris (desde já a melhor cena de ação do ano!). Também não espere ótimas atuações do elenco. Mas pelo visto nenhum dos atores parece se importar em fazer cara de mau e exercitar sua canastrice - afinal, se envolver num filme desse porte não compromete a carreira de ninguém. Dennis Quaid, Marlon Wayans e Channing Tatum estão muito bem à vontade. Rachel Nichols e Sienna Miller também e aproveitam a exposição para exibir seus “dotes artísticos”. Sommers não deixa ninguém constrangido, nem os atores nem o público, e ao fim do espetáculo ainda brinda a platéia com a explosiva nova música do Black Eyed Peas no correr dos créditos finais. Fim de papo. G.I. Joe - A Origem de Cobra é como um passeio no parque de diversões. Agrada e diverte enquanto dura. E deixa um bem-vindo sorriso no rosto durante um longo tempo depois.

NOTA: 9,0

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Harry Potter e o Enigma do Príncipe

Vou falar: não sofro de guilty pleasure. Por isto, não tenho a mínima vergonha de admitir que gosto de Harry Potter. Vou mais além e digo que o meu filme preferido da série cinematográfica é Harry Potter e a Câmara Secreta. Mas, como um terço dos fãs do bruxo adolescente, conheço Hogwarts apenas pelos filmes. Pouco me importa se a cada novo longa eles deixam muita coisa dos enormes calhamaços escritos por J.K. Rowling de fora. Os filmes de Harry Potter esquentam a cada novo capítulo. Mas parece que resolveram dar uma esfriada e esta nova empreitada apesar de muito boa, torna-se a mais fraca até aqui.

Tido como a primeira parte da trilogia de encerramento da série nos cinemas, Harry Potter e o Enigma do Príncipe parece querer mesmo ser tratado como um filme de abertura. É o primeiro longa dos seis que não deve ser visto como um capítulo independente. De certa forma exige conhecimento da saga ao mesmo tempo que parece querer fechar um cerco de conclusões. HP e o Enigma do Príncipe também é o primeiro capítulo a terminar aberto, deixando muita coisa inconclusiva e, por incrível que pareça, não é tão envolvente como os demais. Parece também ser o mais longo por se tornar cansativo em determinados momentos. Harry Potter agora tem que lutar contra um mal mais presente, menos abstrato. Hogwarts deixou de ser um lugar seguro e até o mundo dos trouxas está ameaçado. Por conta disto o diretor David Yates, novamente no comando da aventura, caprichou ainda mais no tom sombrio, utilizando de uma fotografia escura em seu favor. Pouco se vê de luz, e o que é visto parece ser de um dia nebuloso. E embora a maldade e o perigo sejam palpáveis e um senso de apreensão e urgência dite a velocidade da história, Yates pisou no freio e se concentrou menos em batalhas e cenas de ação, deixando os sentimentos e a relação entre os personagens serem a espinha dorsal do filme.

Um dos grandes acertos deste novo filme é a temática adolescente. Harry, Ronny e Hermione sabem que não são mais crianças e tentam lidar com o afloramento incontrolável de seus hormônios. Também sabem que ainda não são adultos, contudo, se sentem obrigados a lidar com situações que exigem extrema maturidade. Yates também estreita ainda mais a relação de admiração recíproca entre Dumbledore e Harry, tornando-a quase paternal. E ainda abre espaço para, enfim, grandes atores como Alan Rickman, Michael Gambon e Jim Broadbent (a mais nova surpresa da série) brilharem. Até Tom Felton (o Draco Malfoy) ganha mais espaço na trama. Mesmo assim, HP e o Enigma do Príncipe é um filme lento, menos intrínseco e impactante (muito embora haja a morte de um personagem principal no final). Faltou um clímax marcante. Mesmo com duas seqüências tensas e, até certo ponto, assustadoras - as cenas no milharal e na caverna com os zumbis -, faltou aquele grande momento de ação. David Yates estava mais interessado em contar a história que levará o desfecho, preparando terreno para, quem sabe, encerrar a saga de forma mais apoteótica. Harry Potter está amadurecendo a cada novo capítulo, mas ainda não quer usar de toda sua força. Ele não tem pressa porque isto pode custar sua vida. A grande batalha se aproxima. E nós estaremos aguardando ansiosos pelo seu início.

NOTA: 8,0

terça-feira, 21 de julho de 2009

A Era do Gelo 3


O diretor Carlos Saldanha parece que levou bomba nas provas de História do ensino fundamental. Esta é única razão para explicar a inclusão de dinossauros em plena era glacial. Ele parece não se importar com isto. Pra ser sincero, nem eu. Nem o público que anda lotando as sessões de seu novo longa diariamente. A Era do Gelo 3 é simplesmente a melhor comédia do ano. Sim amigos, vocês leram bem: comédia. Esqueça os humoristas super-stars. Se quiser rir de verdade, sem culpa, sem apelação, sem grosserias, vá assistir um bom desenho animado!

A Era do Gelo 3 torna-se uma pérola cômica graças a química perfeita entre seu trio principal. Neste filme, apesar de alguns dilemas pessoais abalaram a amizade dos três, eles estão mais afiados do que nunca. Sem falar no trio de dubladores brasileiros, cada vez melhores em seus papéis. As vozes de Diogo Vilela, Tadeu Melo e Márcio Garcia já sem confundem com a personalidade de Manny, Sid e Diego. Parece que eles nasceram para dublá-los. Por mais que seja um simples desenho em CGI, desde o capítulo 2 que a série se assume como comédia. Sem a obrigação roteirística de ser um celeiro de citações e referências como os longas da Dreamworks ou mesmo ter um passo a frente em termos de narrativa e tecnologia como as obras da Pixar, a série quer apenas divertir crianças e adultos.

Com o roteiro amarrado nas lições sobre amizade e família, A Era do Gelo 3 conquista o público pela ingenuidade e pelas inúmeras confusões armadas pelos personagens. Engraçados por natureza, Manny, Sid e Diego são os irmãos Marx dos desenhos animados; os três patetas do período glacial. O que eles querem mesmo é nos fazer rir. E o diretor Carlos Saldanha, como bom brasileiro, dá o público o que ele gosta de ver. Neste 3º filme as piadas vêm aos montes. Você ri até quando não há motivo pra rir. Entre uma piada e outra (é bom avisar que o espaço entre elas é curtíssimo) há uma história sobre ter de lidar com a paternidade, a necessidade da família, a perda dos instintos naturais e, claro, companheirismo. Mesmo com tudo isso a trama não é tão envolvente quanto a dos capítulos anteriores, mas as piadas e as cenas de ação vertiginosas - outra marca da série - compensam bem este detalhe. Jogar dinossauros na era do gelo realmente foi mera desculpa esfarrapada.

Há também outros acertos. Personagens velhos e sem graça cedem lugar a novos e mais interessantes membros da trupe. Os irritantes irmãos gambás Crash e Eddie recebem um merecido segundo plano para Buck brilhar. Desde já o personagem animado mais legal da década. São dele os melhores diálogos e as melhores cenas. A doninha caolha é uma mistura dos psicóticos pingüins de Madagascar com o inquieto Hammy de Os Sem-Floresta e temperado com uma boa dose da tagarelice do Burro de Shrek. O antigo dono das melhores cenas, o esquilo Scrat, tem seu ritmo aceleradamente pastelão freado graças a presença de, vejam só, uma namorada. Suas cenas ainda continuam engraçadas, porém com outro estilo de piadas, destoando um pouco do clima do novo longa e de suas anteriores caçadas infindáveis em busca da noz inalcançável (que até fica de coração partido!). Neste caso, a namorada só surgiu para atrapalhar. Pior pra ele, melhor pra nós.

NOTA: 9,0

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Transformers: A Vingança dos Derrotados

Me deu dor de cabeça! Olha, eu já suportei asteróides em rota de colisão com a terra, o ataque japonês a Pearl Harbor, carros sendo jogados de um caminhão cegonha, rodas de trens sendo arremessadas contra carros e os Autobots lutando contra os Deceptcons no centro de Los Angeles; mas confesso que este Transformers: A Vingança dos Derrotados me deu dor de cabeça. Se a ordem era avacalhar na seqüência, Michael Bay conseguiu. Se a lei é dobrar e ampliar tudo o que tinha de bom no primeiro filme, Michael Bay cumpriu. Aliás, com seu fascínio sádico por explosões e destruição, acabou transformando a continuação de um dos melhores filmes de 2007 numa verdadeira bagunça.

Uma das coisas mais legais do primeiro Transformers era a novidade. A surpresa de ver os robôs quadrados do desenho animado ganharem contornos mais realistas e lutarem entre si de forma bruta numa trama que, apesar de longa, trazia um tom mais sério e mais adulto. E mesmo sendo um legítimo filme de Michael Bay e embora houvesse uma grande descrença que aquilo tudo pudesse funcionar, o longa agradou e surpreendeu. Mas o diretor resolveu chutar o balde. Com mais dinheiro nas mãos e a ambição de criar algo bem maior e que arrecadasse mais dinheiro, Bay transformou o filme inteiro numa grande piada. E daquelas de mau gosto, diga-se de passagem. O roteiro de Ehren Kruger, Roberto Orci e Alex Kurtzman (estes dois últimos, acreditem, os mesmos do novo Star Trek) foi escrito para que nada fosse levado a sério. Nem a trama e muito menos os robôs, o que aproxima mais ao clima infantil da nova série animada. E o diretor aproveita bem esse desleixo dos roteiristas e dá ao público o que mais sabe fazer: ação desnorteante e muita, mas muita firula estilística. Em meio a uma trama simples, meia dúzia de non sense e muita piada chula e apelativa, Bay remenda tudo com muita destruição e barulho. Se você tiver labirintite, por favor, assista a outro filme.

Mas algumas coisas até se salvam. Os efeitos visuais ainda são os verdadeiros astros do filme. A interação dos robôs com o ambiente e com os humanos beira a perfeição. Infelizmente Optimus e Bumblebee têm seu tempo em cena diminuído para abrir espaço para quase meia centena de novos robôs - alguns, inclusive, completamente descartáveis como certa duplinha metida engraçadinha. Entre os humanos, Shia LaBeouf ainda é o maior destaque, apesar de carregar o chatíssimo Ramon Rodriguez na sua cola querendo roubar a cena. Tenho que confessar uma coisa: mesmo Michael Bay sendo um diretor previsível e, de certo modo, intragável, o cara sabe comandar um espetáculo como ninguém. Vide a cena de briga na floresta e luta final dos robôs em cima das pirâmides. Até a edição está menos frenética que de costume (mas o slow-motion é usado em abundância). Visualmente impressionante e notadamente descartável, este é Transformers 2. Além de longo, cansativo, barulhento e um tanto divertido. E me deu dor de cabeça. Ao menos uma propaganda merece menção: mulheres comprem o sutiã da Megan Fox, este agüenta muita correria e até explosões no deserto!

NOTA: 8,5

sábado, 27 de junho de 2009

Star Trek

Há uma verdade absoluta que diz que o bom filme é aquele que agrada o público e a crítica. Em outras palavras, o retorno financeiro e o porta-voz do marketing. Mas a crítica especializada é um mero detalhe quando no público há gregos e troianos, sérvios e croatas, católicos e protestantes, xiitas e sunitas. Daí o verdadeiro bom filme é aquele que agrada ambas as partes: os fãs radicais e os iniciantes. E Star Trek, 11º longa-metragem da série cinematográfica derivada do seriado televisivo dos anos 1960 criado por Gene Roddenberry, consegue essa homérica proeza. Você realmente vai adorar o filme, independentemente de não ser um trekker, nerd, geek ou freak.

Ao ser escolhido para dirigir a parte zero da franquia e dar-lhe novo fôlego, o diretor J.J. Abrams, sumidade entre os nerds, pôs a mão numa colméia cheia de abelhas italianas ferocíssimas. E embora este seja apenas o seu 2º longa nos cinemas, Abrams mostrou uma segurança incrível no comando desta nova empreitada. Mas isto não seria possível caso não tivesse sido bem amparado pelo roteiro coeso, inteligente e bem amarrado de Roberto Orci e Alex Kurtzman. Abrams criou o filme perfeito para a série. Até mesmo os que jamais puseram os olhos num Jornada nas Estrelas vão sair íntimos dos personagens e termos ao fim da sessão. Não é exagero dizer que o diretor conseguiu ir além dos confins da fronteira final.

O novo longa foca o nascimento e o crescimento do capitão Kirk e do Sr. Spock. E em como dois seres completamente distintos e de visões diferentes se tornaram a dupla mais famosa da cultura pop. Nada do companheirismo suspeito de Sam e Frodo ou do dinamismo disfarçado de Robin e Batman. Kirk e Spock eram amigos de verdade e, não me entendam mal, se completavam. Além de ficção científica, Star Trek fala da amizade entre dois homens e de como o surgimento da mesma definiu o rumo das missões da Entreprise. Kirk tendo que aceitar seu fado genético e Spock tendo que lidar com o dilema ilógico de não querer ter emoções. Chris Pine e Zachary Quinto abraçam com amor seus papéis e ainda o fazem parecer o mesmo personagem que tanto admiramos ao manterem certos cacoetes pessoais criados pelos seus interpretes clássicos. O Kirk de Pine ainda continua prepotente e canastrão como o de William Shatner e o Spock de Quinto ainda é frio e incisivo como o de Leonard Nimoy (que, aliás, também está no filme!). Fascinante.

E mesmo com a trama girando em torno da dupla, Abrams ainda dá espaço para toda tripulação - Uhura, Checov, Sulu, McCoy e Scott. Todos estão bem desenvolvidos e tem seu espaço, deixando até em certos momentos a condição de ilustres coadjuvantes e sendo importantes no desenrolar da ação. Falando em ação, não há porque negar que as cenas espaciais são empolgantes à beça. Difícil se conter na cadeira tamanha a euforia que elas proporcionam. O diretor põe na dose certa suspense, emoção e humor numa mesma seqüência, deixando-a mais instigante e crível, jamais abusiva, da forma como ele sempre fez em suas criações televisivas. Star Trek agora abraça o futuro. Futuro este já anunciado há 40 anos, tão familiar e nem um pouco surpreendente para os dias de hoje, mas um tanto exagerado e, convenhamos, um tanto jurássico se olharmos para trás. Esta é a evolução do cinema. Esta é a evolução da franquia. E depois deste renascimento, esperamos que, de agora em diante, Star Trek tenha uma vida longa e próspera.

NOTA: 9,5

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Exterminador do Futuro: A Salvação

McG é o Dr. Victor Frankenstein do cinema. Ao ser escolhido para ressuscitar a franquia Terminator, o diretor se encheu de excitação, fascínio e admiração pelo posto que assumira, se dedicou ao máximo a labuta e obrigou o mundo a se orgulhar do que concebeu. O resultado porém, tal o monstro de Frankenstein, é ao mesmo tempo impressionante e assustador. McG deu vida a O Exterminador do Futuro: A Salvação montando-o com pedaços dos outros três filmes da saga. O 4º filme é descaradamente o novo começo da franquia, agora situada no futuro já plantado por James Cameron há 25 anos. E ao ver aquele corpo morto na íntegra (o futuro apocalíptico dominado pelas máquinas) caminhar pela tela, dá até para ouvir o grito empolgado do doutor, digo, do diretor: ‘It´s alive!’

É clara a ambição dele em fazer de T4 uma obra que fugisse do rótulo fácil de “filme de verão” e tentar provar de uma vez por todas que consegue fazer algo melhor que As Panteras. O resultado, como já falei, empolga e decepciona. Ao recomeçar a saga de um ponto interessante (o futuro), McG tentou realizar uma continuação independente, isto é, uma seqüência que, apesar da cronologia confusa de datas, poderia viver sem seus antecessores. Entretanto, o mal que assola Hollywood – aquele que obriga os grandes filmes a abrir espaço para a já certa continuação – manda toda sua independência e originalidade pelo ralo. Seqüências têm que surpreender ao serem o que são, e não precisam necessariamente trazer derivados na sua cola. Mesmo assim, McG dirige o filme com uma sinceridade admirável; controla todo aquele histrionismo peculiar que lhe deu fama de exagerado e consegue transmitir todo o carinho que tem pelo material ao conduzir a trama com maestria. Até Danny Elfman com seus acordes eloqüentes mantêm-se discreto ao reger a trilha sonora.

Mas o futuro da saga, literalmente, é algo complexo de se lidar e McG, infelizmente, ainda não é um diretor de cacife para lidar com tamanha complexidade. Seu Frankenstein claudica e não é pouco. Uma das coisas mais legais dos filmes anteriores, principalmente dos dois primeiros, era a tensão ininterrupta, o fato de algo praticamente indestrutível estar na cola dos protagonistas o tempo inteiro, sem trégua, sem descanso, e a ação espetacular vinha desses momentos de correria. Neste não há aquele suspense angustiante, não há mais a esperança vã de que o futuro possa ser mudado. Já estamos nele e a guerra entre humanos e máquinas é concreta. O óbvio toma conta da batalha. As cenas de ação são bem coreografadas (vide a seqüência com as motoexterminadoras), mas fogem do controle às vezes. Existem porque tem que existir (ora bolas, é um filme de ação!), só que não fazem mais parte do contexto da história.

John Connor agora assume o posto de líder ao qual tanto profetizaram e Christian Bale segura bem este legado. Mas é na grata surpresa Sam Worthington que repousa toda a alma do longa. Seu Marcus Wright é o ponto de equilíbrio da guerra. Mezzo humano, mezzo máquina, ele mescla bem a humanidade hipócrita dos sobreviventes com a sagacidade e sensatez fria dos robôs. E por incrível que pareça, demonstra mais humanidade do que todos ali. À parte disso, McG também aproveita alguns momentos para homenagear James Cameron. Peraí, homenagear? Por favor, o filme é uma continuação de fatos não uma refilmagem. Ninguém morreu, não há necessidade de se copiar cenas de outros filmes como forma de respeito ao criador. O filme em si, por existir, já é uma homenagem. Bastasse isto. Até a ponta do T-800 “interpretado” por Schwarzenegger parece mais um tributo do que algo realmente essencial à história. O Exterminador do Futuro: A Salvação diverte muito, mas McG ainda vai ter que ralar bastante para chegar ao PhD de Cameron. Só que depois desse Frankenstein que ele criou e depois de sua conclusão esperançosa e piegas, não é de espantar que ele venha com um A Noiva de Frankenstein na próxima. Hum...

NOTA: 8,0

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Anjos e Demônios

Fato: eu não li Anjos e Demônios, a primeira obra de Dan Brown que apresenta o professor de simbologia Robert Langdon. Daí fui assistir a adaptação cinematográfica, a segunda com o professor de simbologia Robert Langdon, leigo de sua fonte. Conclusão? Gostei, mas com um tantinho de desgosto. Olha, não quero bancar o chato, o crítico metido a besta que vê problema onde não tem, mas como bom apreciador você tem que ter os pés no chão e a cabeça no lugar. E Anjos e Demônios, o filme, é a típica parte dois de uma franquia que não ambiciona ser melhor que o original, sendo, na verdade, um típico filme de verão cheio de fórmulas que entretém, sem ousadia, rotulado e descartável.

Se O Código Da Vinci já era uma adaptação irregular por deixar muita coisa da história no chão para se adequar as regras hollywoodianas, imagino que, se comparado a obra literária, Anjos e Demônios seja uma porcaria. E sou atrevido em dizer que a culpa deste mau-agrado é de duas pessoas: Ron Howard e Akiva Goldsman. Este, o roteirista mais formuláico dos EUA, tem a proeza de não inovar nunca na estética. Pode conferir que, mesmo em mãos de diretores diferentes, seus textos seguem uma cartilha básica. E ainda é mestre em criar frases de efeito vergonhosas. Nem a escrita ágil de Dan Brown sai ilesa de seu padrão. Com relação a Ron Howard, bem, não há muito o que falar. É de surpreender que um cineasta com tantos filmes no currículo ainda trabalhe como peão de produtor, sem um pingo de criatividade técnica e sem marca autoral. O pior é que ele ainda pensa que é um grande diretor, dando zoons e closes em objetos sem qualquer motivo aparente. Ao menos sabe orquestrar bem momentos de tensão e cenas de ação ligeiras. Mas a experiência do corre-corre de O Código Da Vinci, intensificada em Anjos e Demônios, o faz pensar ser um John Frankenheimer. Easy Ron, easy!

A trama, menos verborrágica e instigante que O Código Da Vinci, traz como foco central a sociedade secreta Illuminati e seu plano de dizimar o Vaticano com uma bomba de antimatéria. É ágil e acelerada e dosa bem tensão e ação. Entretanto, o excesso de suspense e dramaticidade em algumas cenas acaba por diminuir sua força. Ewan McGregor como o camerlengo Patrick McKenna até se esforça para não parecer canastrão, enquanto a pouca expressiva Ayelet Zurer, que interpreta a Dra. Vittoria Vetra, mais parece um objeto de figuração em algumas cenas. Mas temos Tom Hanks para levantar a moral do filme! Pela segunda vez bancando o Harrison Ford, Hanks não precisa se esforçar muito para cativar a platéia. Se Hanks ri, o público sorri de volta. Além disto, o filme também ganha pontos por mostrar as entranhas do Vaticano (de forma bem casta, é bom ressaltar) e por proporcionar um tour terrestre e panorâmico pelos pontos turísticos de Roma. E caminha bem até o clímax, heróico em demasia, absurdo em concepção, que deixa um tanto óbvia e sem impacto a reviravolta final. Por fim, não há como não categorizar Anjos e Demônios como um mero sub-produto de Indiana Jones (do tipo de A Lenda do Tesouro Perdido), e até que não faria feio se fosse exibido como inédito no Supercine num sabadão chuvoso. Agora com licença, deixem-me voltar ao trabalho, tenho que mudar o mundo. Valeu pela dica professor Langdon.

NOTA: 8,0

terça-feira, 12 de maio de 2009

X-Men Origens: Wolverine

Confesso que fiquei com uma incomoda questão ao fim da sessão de X-Men Origens: Wolverine: será que eu li muita HQ ou será que li pouca? Afinal, não entendi a avalanche de críticas detrativas que soterrou o filme. Sério mesmo. Ok, o filme não é a 7ª maravilha do cinema, nem muito menos é adulto e visceral como Batman - O Cavaleiro das Trevas (as comparações, inclusive, já estão cansando), até porque, como se vê, a Marvel caminha na contramão da DC. Agora, como produto de entretenimento e espetáculo de ação – justamente a forma como foi concebido – o primeiro filme solo do mutante mais popular dos quadrinhos cumpre bem o seu papel. E, ao final, não deixa o dissabor que X-Men: O Confronto Final deixou.

Apesar da decepção de alguns fãs quanto à seriedade de Wolverine ou mesmo a alguns momentos de agressividade excessiva, é bom ressaltar que o personagem nas telas é quase uma cópia de sua versão em quadrinhos. Porém, um tanto diferente para aqueles que o conhecem de uma única fonte (as HQs dos anos 1990). Mas digamos que o roteiro de David Benioff mescla bem as histórias criadas por Chris Claremont e John Byrne (das quais sou fã) com a mini-série Origem de Paul Jekins e Andy Kubert sem ignorar a mitologia desenvolvida para o cinema.

Visto por uma ótica de iniciante, ou por quem é fã apenas dos desenhos animados ou da trilogia cinematográfica, o filme é um arraso. Entretanto, caso você seja um fã mais radical ou esperar a qualidade técnica de um X-Men 2, vai se frustrar. Não vou culpar o diretor Gavin Hood, que, mesmo sendo iniciantes em blockbusters, fez um ótimo trabalho. A culpa é dos produtores da Fox, opinantes e exigentes, que queriam um produto até certo ponto descartável, que gerasse dinheiro suficiente para seguir com a franquia dos mutantes no cinema. Daí o motivo de ter descontentado muita gente. Mas, convenhamos, o filme deslancha bem e tem cena memoráveis – o nascimento de Wolverine no tanque de adamantium é tão antológico quanto sua primeira aparição em X-Men - O Filme. E Hugh Jackman que, sem se esforçar mais para interpretar, deu ao papel de sua vida um tom mais apropriadamente animalesco.

Mas nem tudo é perfeito. A visível ganância dos produtores em criar franquias derivadas quebra o ritmo do filme. É chato o fato de, no terço final do filme, ficar a sensação de que a história não vai acabar e que um Wolverine 2 está na fila (e não estou nem contando com a intragável solução final dada). Certos exageros também comprometem a já duvidosa qualidade, visto que só agradam a adolescentes descerebrados que acham tudo “massa”. Além de dar pouca expressividade a certos personagens. Gambit, por exemplo, está ali apenas por mera desculpa do roteiro e não faria a mínima falta caso não tivesse dado as caras. E Deadpool, um dos personagens mais cool criados na década de 1990, tem pouco tempo em cena e ainda conseguiram estraga-lo no final. Não vou nem comentar a idéia de darem um filme solo a ele. Mesmo assim, X-Men Origens: Wolverine é um bom começo para o que supostamente vem por aí. Já que a seqüência já está agendada, quem sabe eles não dão mais liberdade ao diretor Gavin Hood. A passagem de Logan pelo Japão tem muito o que se contar. Sem falar que ainda tem a Tropa Alfa... Trilogia? Veremos.

NOTA: 9,0

segunda-feira, 27 de abril de 2009

COMUNICADO

Peço desculpas a todos que por aqui passam por andar um pouco atrasado nas minhas postagens. Primeiro por estar sem PC há quase um mês (já resolvido). Segundo, por estar um pouco sem tempo. Gostaria de me desculpar também com os amigos blogueiros, já que, devido ao segundo ponto da questão, andei um pouco relapso quanto às minhas visitas semanais. A todos agracio com os três últimos longas vistos e apreciados - espero que degustem bem as críticas - e a promessa de não mais atrasar tanto. Grato pelo carinho dos que aqui passam vez ou outra.
Um abraço a todos,
Henrique Lima.

Watchmen - O Filme

Sabe, concordo com Alan Moore: Watchmen nunca deveria ter sido adaptado para o cinema. Isto é apenas uma opinião pessoal, mesmo porque eu gostei pra caramba do filme. Mas acho que deveriam ter deixado quieto. Depois de quase 3 horas de filme, o diretor Zack Snyder merece parabéns pelo trabalho hercúleo que fez. O cara realmente é um visionário. Mas deveria ter deixado quieto. Diferentemente de 300, cujo filme implorava pela arte conceitual de sua fonte de inspiração, Watchmen - O Filme deixa aquela mesma sensação indigesta que estragou Sin City: a de que filmaram os quadrinhos da graphic novel. E isto, caros amigos, era um ponto que poderia ter sido evitado.

Watchmen é um ótimo filme sim, porém cheio de pecados. Pecados que, insisto, poderiam ter sido evitados e que condenam qualquer um ao inferno por macular algo sacro. É certo que tanto a HQ quanto o filme são destinados ao público adulto e que suas idéias são motivo para inúmeras discussões ao longo de semanas, mas, apesar de tudo, Snyder ainda conseguiu fazer uma obra de difícil assimilação. Adaptações não são direcionadas apenas para fãs da fonte, iniciantes também querem ir ao cinema. E para estes, a obra não é de bom agrado. Outro ponto: Snyder exagerou demais na violência. Na HQ já era um tanto exagerada, mas o diretor parece querer agradar os sádicos. Confesso que até eu fiquei chocado em determinadas seqüências. E neste ponto, Snyder tratou de fazer um filme exclusivamente para homens. E mesmo tendo uma heroína junto dos vigilantes mascarados, ela foi moldada para o público masculino. Isto afasta grande parte do público feminino. E por último, momentos importantes foram esvaziados para, talvez, aliviar a tensão do longa. Um exemplo: a cena da consumação sexual do Coruja com a Espectral ganhou ares cômicos e constrangedores ao ser acompanhada de uma trilha sonora errada e de analogias desnecessárias. Sacrilégio absoluto!

Ainda assim, Watchmen é um ótimo filme, porém sem o impacto da HQ. Simplesmente porque toda aquela paranóia do roteiro já existia no papel e que, ao longo de 20 anos, foi dissecada e clonada em outras mídias e adaptações. Mas há o que se louvar no filme. Os créditos iniciais exploram muito bem a mitologia da série e, sem exageros, é o melhor momento do longo por sua criatividade. O Dr. Manhattan está mais imponente e Roscharch, o real protagonista da obra, dá personalidade ao longa toda vez que entra em cena. O clímax também é espetacular, contudo, seu novo desfecho quebrou o clima da história. Por mais absurdo que fosse, o ataque de um monstro gigante ainda faria mais sentido do que o final ‘bem sacado’ imposto pelos roteirista e pelo cineasta. Por isso é que deveriam ter deixado quieto. Watchmen poderia ter se tornado o melhor filme do ano, entretanto, acabou por ser só um ótimo filme. A verdadeira obra-prima continua sendo aquela escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons. Uma pena.

NOTA: 8,5

Monstros vs. Alienígenas

Verdade seja dita: a Dreamworks não quer ser a Pixar. Por um lado é uma pena, já que o estúdio de Toy Story e Wall*E está anos-luz a frente de todos em termos de tecnologia e tem uma preocupação exemplar de gerar obras-primas. Mas, por outro lado, é uma boa já que o estúdio do Shrek está mais preocupado em tirar sarro de tudo e de todos, criar personagens insanos e incorretos e mundos cheios de entranhas curiosas - e, consequentemente, gerar franquias ao explorá-las. Além de conceber ótimas histórias e nos presentear com uma boa dose de diversão inteligente. E, bem, caso vire uma obra-prima foi por mero acaso das circunstâncias. Monstros vs. Alienígenas não foge ao lado bom dessa verdade.

Não quero parecer ousado ou ultrajante, mas Monstros vs. Alienígenas foi a primeira animação a que assisti que realmente só tem graça se vista no cinema. A fotografia sem dimensões dá espaço para um visual grandioso e riquíssimo em detalhes. Em outras palavras, é impressionante. Nisto pesa o fato de o filme ter sido criado para ser exibido em 3D estereoscópio. Ah, e este foi um dos meus temores: assistir um filme em 3D sem a imersão que os óculos especiais proporcionam e ver uma animação que, por desculpa do uso dessa tecnologia, atiraria objetos o tempo todo na platéia. Com exceção de uma ou duas cenas, praticamente isso não é visto. O efeito 3D é mais de profundidade. Daí gerar uma curiosidade mórbida de assisti-lo com os tais óculos graças à ação ligeira e a grandiosidade da fotografia.

O longa da vez da Dreamworks trata de homenagear e satirizar os filmes de ficção científica B dos anos 1950, e ao faze-lo põe-se num dilema crítico: ao qual público é realmente destinado. Está certo que quem lota as sessões são os adultos, mas deveriam ter dado mais distinção nas cenas, ao invés de querer agradar a todos de uma vez. Eu pelo menos não vejo graça em piadas infantis e sei que crianças não entendem quando há uma homenagem a, por exemplo, Contatos Imediatos do Terceiro Grau. Tirando esse detalhe e o destoante, porém necessário prólogo do filme - sabendo que a personagem principal, Susan Murphy, é dublada por Reese Witherspoon e carrega nuances de sua personalidade, o início do filme mais parece uma homenagem a um dos sucessos insípidos da atriz, Doce Lar -, todo o restante do longa é um arraso.

Por fim, ao comparar Monstros vs. Alienígenas com Kung Fu Panda fica evidente a evolução na inovação técnica e no visual de cair o queixo. Também corrigiram o erro com relação às piadas. Desta vez puseram gags realmente hilariantes (a cena da apresentação dos monstros ao presidente é de chorar de rir). Contudo, faltaram aquela lições filosóficas do filme do panda Po. Há uma moral sim, porém ela passa batido ao público. Monstros vs. Alienígenas é um espetáculo pra lá de divertido e inovador, mas faltou um tantinho de ousadia criativa. Os personagens continuam insanos, mas evitam ser politicamente corretos (até porque são párias monstruosas). O roteiro é limpo e inteligente, porém criado com um único intuito: gerar dinheiro. Conseguiram. Mas o grau de satisfação não atingiu 100%. Quem sabe na próxima...

NOTA: 8,0

O Curioso Caso de Benjamin Button

O Curioso Caso de Benjamin Button é um paradoxo. É um filme de David Fincher que menos se parece com um filme de David Fincher ao mesmo tempo que é todo David Fincher. Confuso? Pois não fique. Toda essa minha retórica de nada serve, foi apenas um devaneio displicente de alguém que viu uma obra-prima emanar da tela do cinema. Presenciar um evento desses em ambiente natural (a tela grande) só me faz gostar ainda mais de cinema e perceber o quanto àquelas imagens e palavras ali vivenciadas mexem com a gente de maneira inexplicável. Perdoem-me por tamanho eufemismo, mas o filme me abalou de verdade.

Que fique claro uma coisa: a única semelhança entre Benjamin Button e Forrest Gump é o fato de Eric Roth assinar o roteiro dos filmes de ambos. E só. Mesmo que alguns desocupados na internet atentem semelhanças aos dois, o filme de David Fincher em nada lembra o oscarizado longa de Robert Zemeckis. Do início ao fim O Curioso Caso de Benjamin Button é de uma melancolia indescritível. É um filme triste, por vezes engraçado, mas triste em sua concepção e conclusão. Toda a tristeza ali vista é acentuada pela fotografia em tom pastel de Claudio Miranda, pela trilha soturna de Alexandre Desplat e pela direção detalhista de Fincher. Sem falar em Brad Pitt, imerso de corpo e alma em Benjamin Button (e melhorando como ator a cada novo papel). Ele molda a personalidade e o caráter de Benjamin de forma tão crível que nos envolve de forma quase paternal no seu carma. Nós rimos com ele, torcemos por ele, vibramos com ele a cada novo feito, sofremos com ele e choramos por ele. Nós somos expectadores passivos de sua felicidade disfarçada. Já Cate Blanchett, ótima como sempre, é a outra metade Button, é a expectadora ativa de sua trajetória nada convencional. É em sua Daisy que repousa toda a história do homem que nasce velho e morre jovem. E todo o amor dele.

Por falar em amor, o roteiro de Roth foca justamente nele. Seu surgimento, seu ápice e seu inevitável fim. Porém, as questões que Fincher deixou são a respeito da vida e da morte. Digamos que esta última é uma constante no longa. Nosso fado, nossa única certeza. Button nos deixa claro que nunca se é novo demais ou velho demais para a vida. Fincher deixa uma pergunta: quando exatamente a vida começa? Ou termina? E o texto cheiro de frases edificantes não deixa nenhuma lição de moral, por incrível que pareça. A impressão que fica é que você nunca vive o suficiente; que tudo o que você viu e aprendeu ao longo da vida de nada servem quando chega à hora da morte. Benjamin Button não percebe, mas morre da pior maneira possível: tendo acabado de nascer. Aí amigo, como na vida real, as lágrimas são inevitáveis.

NOTA: 9,5

terça-feira, 17 de março de 2009

RocknRolla - A Grande Roubada

“O que é um RocknRolla? Não é só rock, drogas e idas ao Pronto Socorro. (...) É tudo isso junto.” A frase que abre o novo filme de Guy Ritchie explica bem o que é: uma avalanche de tudo o que ele próprio já fez. E tal qual uma noite de excessos deixa uma headaches daquelas em seguida. Recebido como um retorno do cineasta ao seu celebrado início de carreira, quando era visto como uma versão inglesa e nervosa de Quentin Tarantino, o longa deixa um pouco a desejar. Não que o filme em peso seja ruim, longe disso, apenas não merece tanto celeuma.

Apesar da má recebida sensação de déjà-vu, o longa tem seus méritos. A começar, é carregado da boa ironia corrosiva do diretor, bem ilustrada nos diálogos afiadíssimos (“Se houver uma Terceira Guerra Mundial será por causa dele”; “Está vendo aquele maço de cigarros? Todas as verdades da vida estão dentro dele”), a edição ainda é ágil e estilizada e a trilha sonora pop-rock continua no tom certo. Porém, falta o humor tresloucado de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e os personagens bizarros e bem construídos de Snatch, sua obra-prima. Falta também certo grau de ineditismo, o que, de certa forma, faz de RocknRolla uma mistura dos outros dois longas citados. Se não temos Jason Statham como protagonista temos Gerard Butler (com menos prognatismo que de costume) com mais graça e menos marra. Se não temos Brad Pitt como coadjuvante temos Tom Wilkinson (mais careca que de costume) e Thandie Newton (mais ardilosa que de costume), só que sem o peso do nome para se destacar. Sem falar que Guy Ritchie carrega o triste estigma de ser ex-marido de Madonna. Claro, isto pouco tem a ver com o filme - ou melhor, nada tem a ver, mas o peso do nome da pop star o afastou um pouco da mídia como bom cineasta, culminando num descrédito junto ao público. Ô carma...

Como nos outros filmes do diretor, a trama cheia de personagens surreais gira em torno de um objeto. Depois de duas espingardas e um diamante, o da vez é um quadro que nunca é mostrado. E desta vez, há tanta informação jogada ao mesmo tempo que deixa a história um tanto confusa até mais ou menos sua metade. Com mais personagens em cena que de costume, as várias sub-tramas que se interligam chegam um pouco a atrapalhar. Pelo menos Ritchie acerta no tom de suas criaturas, ainda os fazendo perigosos, excêntricos e atabalhoados. E ainda imprime bem a violência, outra marca registrada sua. Esta, inclusive, foi injustamente criticada por exceder no exagero. Neste ponto discordo de quem criticou seu excesso. Ritchie foi até mais suave que de costume. Não temos, por exemplo, um Vinnie Jones espancando ninguém na porta de um carro. No fim temos uma boa reciclagem de filmes bons. Palmas para Guy Ritchie! Que o diretor se mantenha no topo e faça mais. E menos do mesmo agora. Também, com Sherlock Holmes seria impossível...

NOTA: 7,5

segunda-feira, 16 de março de 2009

Se Eu Fosse Você 2

Em time que está ganhando não se mexe. A máxima do futebol também é aplicada com sucesso no cinema. E, num caso raro para o cinema nacional - o país do futebol, é bom ver um mesmo time vencer de novo. E de goleada. Em meio à eterna disputa da indústria cinematográfica brasileira em busca de espaço na longa fila de filmes comerciais norte-americanos, Se Eu Fosse Você 2, seqüência do maior sucesso nacional de 2006, surgiu como um trator e tirou do caminho alguns arrasa-quarteirões ianques (ou “enlatados americanos” para os ufanistas xiitas) e se tornou a maior bilheteria do país desde a retomada. Surpresa? De maneira alguma. Faro popular. Coisa que o diretor Daniel Filho, com sua larga experiência, tem de sobra. Dar ao público o que ele quer e pronto.

Longe de ser chato ou enfadonho, Se Eu Fosse Você 2 consegue arrancar risadas até daqueles que não botam fé alguma em produções nacionais com elenco global. Apesar de roteiro carecer de originalidade (digamos que o filme é uma mistura liquidificada de Sexta-Feira Muito Louca com Um Espírito Baixou em Mim e O Pai da Noiva) a dupla central consegue, graças a uma química perfeita, nos fazer esquecer este importante detalhe. Tony Ramos e Glória Pires retomam o papel do casal que troca de corpo e agora, bem mais a vontade, entram de cabeça nos personagens e seguram o filme inteiro nas costas, não se intimidando em realizar cenas constrangedoras para fazer o público rir. E ainda parece que se divertiram a beça. Principalmente Tony, que desde o Manolo da novela As Filhas da Mãe de Sílvio de Abreu não fazia um personagem cômico tão cativante. As cenas em que ele, encarnando a esposa, entra no apartamento de um amigo para urinar e a que entra como reserva num jogo de futebol são de chorar de tanto rir.

Já entre os coadjuvantes o destaque vai para Isabelle Drummond. A ex-Emília faz a filha do casal, então com 18 anos, que tem a ingrata tarefa de comunicar aos pais que está grávida. A partir daí a trama gira em torno dos preparativos do casamento da mesma. Mas as piadas, visuais e verbais, ainda continuam a saltar da tela como sapos na sua porta num dia de chuva. Algumas até forçadas, é verdade, mais ainda assim fazem a platéia rir. Se Eu Fosse Você 2 também é atrativo por ser uma continuação independente, ou seja, não precisa exatamente dos eventos do filme original para deslanchar. O filme só peca realmente no final, clichê e piegas, e ainda deixa uma descarada brecha para uma terceira parte, para quem sabe fechar com louvores a primeira franquia de sucesso do cinema brasileiro. Quem não gosta nem um pingo destes filmes de apelo popular (tipo os cinéfilos “cabeça” que só querem ver arte para divagar baboseiras em seus blogs sobre a lógica da arte) vai chiar bastante. Mas vendo pelo lado bom, esta é a fórmula do sucesso. Sucesso de público que há muito não se via. Deixe o preconceito de lado e corra pra ver enquanto ainda dá tempo.

NOTA: 9,5

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Corrida Mortal

Você colocaria uma arma na mão de uma criança? Não, óbvio. Porém, ao fim da sessão de Corrida Mortal, a sensação que ficou foi que a Universal havia feito este absurdo com o diretor Paul W.S. Anderson. Anderson, claro, não é mais nenhuma criança, mas tem idéias tão malucas quanto uma. Dono de uma filmografia irregular pontuada por adaptações de vídeo-games, continuações bastardas de séries mortas e refilmagens desnecessárias (neste balaio apenas um filme original e verdadeiramente bom, O Enigma do Horizonte), além de idéias pra lá de bizarras, o cara ao menos tem autoridade de ter fazer o que bem entende com suas obras. E depois de assistir o ultra-divertido e exageradamente violento mais novo filme dele fica a questão: o que ele tem de tão especial para o estúdio financiar uma insanidade dessas? No frigir dos ovos, puseram uma arma na mão de uma criança.

Que fique bem claro: Corrida Mortal não é uma obra-prima do cinema. Por isto mesmo tratei de deixar meu senso crítico no sofá e entrei na platéia do público-alvo: aqueles moleques nerds loucos por adrenalina. Diversão escapista? Não. Diversão descerebrada. O filme é uma re-imaginação do clássico cult Corrida da Morte - Ano 2000, e por ser o que é, pouco lembra o original. Aqui realmente as corridas são mortais e acontecem dentro de um presídio de segurança máxima. Daí vocês tiram os tipos de competidores. E em meio a um bolo de clichês prisionais, temos Jason Statham como protagonista. Statham, bem se sabe, é uma espécie de Marcos Pasquim inglês - por fazer sempre o mesmo papel, só que com mais “talento” e mais agressividade (ou seria agressividade menos cômica?). Um legítimo anti-herói brutamontes do século XXI. Resumindo, uma escolha acertada para o papel. Sai da frente dele, então.

A trama em si é uma mera desculpa para as corridas, estas sim o óxido nitroso do filme. Parecidas com um jogo de vídeo-game live action, cada volta é mais carregada de ação e violência que muito filme inteiro por aí. Difícil conter o entusiasmo com as “batalhas” dos carros. As corridas são tão insanas que causam um torpor de euforia em qualquer ser humano que as assistas. Sem falar nos carros, verdadeiras máquinas de matar. A cena com o Encouraçado é impressionante de tão absurda. Ah, o filme ainda tem Joan Allen, canastrona até o último fio de cabelo, como a durona diretora do presídio e uma decotadíssima Natalie Martinez para elevar ainda mais a taxa de testosterona sanguínea. Mas, quem liga para elas quando Jason Statham está ao volante!? O filme só perde o fôlego no dispensável final feliz com um discurso paterno visivelmente pessoal do diretor. Depois de tanto corre-corre, tanto faz. Vale a pena assistir.

NOTA: 8,0

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Fim dos Tempos

A lei natural diz que devemos aprender com os nossos erros. E mais: o dito popular acrescenta que insistir no erro é um atestado de burrice. Quando isto acontece com reles mortais como nós, às vezes ninguém nem se importa. Quando acontece com fenômenos intelectuais como o diretor descendente de indianos M. Night Shyamalan, autor de filmaços como O Sexto Sentido e Corpo Fechado, um simples descontentamento vira uma discussão infindável. O fato é que Shyamalan passou de gênio a genioso, de intelectual a burro em meros 4 anos. Seria praga? Não. Tudo culpa do próprio ego. De ambições maiores que as necessidades. Pois é.

Chegamos a Fim dos Tempos. O suposto pedido de desculpas aos fãs por ter concebido o (exageradamente) criticado A Dama n’Água, seu fracasso anterior. Sim amigos, sei que não é mais nenhuma novidade, mas Fim dos Tempos fracassou também. E mereceu. Não estou aqui para destronar o longa como fizeram alguns críticos especializados, e sim para atestar o fato de não ter gostado da obra. A começar, a escolha equivocada de Mark Wahlberg para encabeçar o elenco. Se Shyamalan conseguiu extrair ótimas performances de Bruce Willis, Mel Gibson, Joaquin Phoenix e Paul Giamatti é porque eles tem talento para isto. Já Wahlberg não passa de um atorzinho limitado dono de uma única expressão facial (canastrona). O mesmo pode ser dito de Zooey Deschanel, que faz a esposa em crise psicológica de Wahlberg. O diretor errou até na inserção do coadjuvante rouba-cena. Neste caso, não que John Leguizamo seja um ator ruim, mas seu personagem tem pouco destaque e sai de cena cedo demais. Até um dos grandes méritos do diretor – o de conduzir crianças com excelência – parece ter se perdido com o seu toque de Midas. A menininha da trama é péssima e sua personagem chata. Que saudades da Abigail Breslin.

Shyamalan só não perdeu a mão para a condução da trama. Nisto posso tirar o chapéu. Seu domínio de câmera ainda perfeito e seu dom de criar tensão em momentos aparentemente banais valem a locação. Porém, a história que tinha tudo para ser uma de suas mais assustadoras, acabou por esconder o pouco talento que lhe restou. Perdido entre situações chatas, acontecimentos sem explicações (continue lendo) e diálogos vergonhosos, o filme vai perdendo seu impacto a medida que seu fim se aproxima. Não faltou esforço, só boas intenções. E se sua real intenção foi criar um filme B ao estilo das produções paranóicas que pipocavam nos cinemas dos anos 1950 (tipo Os Invasores de Corpos), ficou só na intenção. Afinal, aquelas produções de outrora tinham razão para existir. Fim dos Tempos não. Passar uma mensagem ecológica? Hum, é bom prestar bem atenção caso alguém venha com essa desculpa. Em momento nenhum, incluso a explicação estapafúrdia do final, isto é evidenciado. E só. Fim dos Tempos é um caso em que o trailer é melhor que todo o filme. Ao mostrar as cenas chocantes (essas sim valem nota e não sairão tão cedo do inconsciente) em poucos minutos, o diretor deixava qualquer um salivando. Ao misturá-las a uma trama tola, a expectativa vira decepção. Bons eram os tempos antes desse "acontecimento". Fim de carreira? Bem, ainda tenho fé nele. Quem sabe na próxima vez...

NOTA: 5,0

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ressaca de Amor

Há uma nova tendência no cinema norte-americano: a dos filmes cada vez mais calcados na realidade. Ok, não falei nenhuma novidade. Só que não são apenas os filmes de ação que querem ser críveis ao grande público. A tendência anda abrangendo também as comédias românticas. Se antes as namoradas nos forçavam a assistir filmes melosos com piadas femininas sem graça e com um final clichê que as faziam suspirar e a nós corar, com essa nova onda de comédias, é bem provável que em breve o oposto venha a acontecer. O motivo mais evidente para esta reviravolta talvez seja o fato de as histórias sejam mais voltadas aos protagonistas masculinos e que os mesmos, vá lá, andem fugindo dos padrões atuais de beleza. Não é piada não.

Foi-se o tempo em que os Tom Hanks e os Freddie Prinze Jr. da vida faziam as mulheres sonhar com os homens perfeitos que interpretavam. Belos, bem decididos e românticos ao ponto de largarem tudo para ficarem com a mulher que aprenderam a amar ao longo da metragem do filme. Este tempo, claro, ainda teima em não acabar, contudo, a realidade tende a tomar conta dos sentimentos. As bilheterias estão aí para provar. Agora, não que esses anti-galãs andem atraindo o público masculino ou tenham um feromônio irresistível às mulheres, mas o fato de serem mais ‘comuns’ os torna mais identificáveis conosco. É mais fácil crer que um cara desses consiga externar seus sentimentos do que um improvável homem perfeito. O amor, como bem sabemos, também pode ser feio e nem sempre a dor leva a redenção.

Ressaca de Amor é um achado em meio tanta baboseira que é lançada mensalmente nos cinemas. A história é simples - depois de 5 anos de relacionamento, cara leva fora da namorada e terá que passar pelo longo suplício de ter que esquecê-la -, mas consegue envolver, mesmo ao longo de quase duas horas. Claro que, momentos chatos não faltam (uma ou outra sub-trama sem graça), mas o roteiro bem sacado do ator Jason Segel faz as compensações necessárias para não matar ninguém de tédio. Se o público não riu com determinada piada, ele manda uma mais engraçada na seqüência. Aliás, o próprio Jason é o protagonista da obra. Fazendo a linha ‘Will Ferrel menos histérico’, ele não tem vergonha de se expor ao ridículo e se submete com prazer a todas as humilhações as quais seu personagem é agraciado. Ponto para ele.

O filme também ganha pontos por mostrar o ponto de vista masculino (sem machismos) em relação a um fora. Em outras palavras, nos torna também vítimas. Homens também sofrem. E sofrer também pode ser engraçado. No fim, quando tudo parece se resolver, sentimentos de incertezas e contradições tomam conta dele e de sua ex-amada Sarah Marshall (Kristen Bell, também abraçando com amor sua personagem megera), eis que o que iria descambar para o previsível acaba fugindo do óbvio. A moral da história é que, para acabar com a tristeza nem sempre é necessário voltar atrás. Ou que o verdadeiro amor nem sempre está onde nós pensamos que deve estar. E isto também não é nenhuma novidade.

NOTA: 8,5