Lua Nova não é o filme do ano. Definitivamente não. Não tem os melhores efeitos especiais (todavia superiores ao primeiro filme), não é bem cuidado, não é bem tratado, o roteiro de Melissa Rosenberg é premeditado e as interpretações passam longe de algo convincente, fazendo até o pior ator de Malhação enrubescer. Mesmo assim é um sucesso. Como explicar? Sem falar que nem o próprio romance dos protagonistas, tão badalado e alardeado, tem tanta ênfase na trama. Lua Nova é um lixo de luxo, um produto desleixado com excesso de autoconfiança. Presunçoso, prepotente e um enorme sucesso. E no meio dessa história toda sinto que o chato sou eu. Investiram mais dinheiro, corrigiram os erros, melhoraram o pouco que tinha de bom, intensificaram a ação (embora ainda dê certa aparência de descaso), puseram um diretor mais experiente no comando (Chris Weitz, dono de um currículo eclético que vai de American Pie a A Bússola de Ouro) e no frigir dos ovos deram vida a um filme vazio, sem conteúdo significativo, que aposta (e apela desmedidamente) no retorno do público feminino. É um upgrade do mais do mesmo.
A trama dessa vez enfoca o relacionamento de Bella e Jacob Black (o péssimo Taylor Lautner). O elitismo caucasiano vampiresco é deixado um pouco de lado para o surgimento da raça dos lobisomens. Após um fora de Edward e de noites infindáveis de depressão e pesadelos, a insossa heroína encontra refúgio na amizade sincera de Jacob. Daí sai a metáfora sobre a castidade e entra quase que indiscretamente uma nova sobre a afloração dos hormônios. Jacob se metamorfoseia num lobo raivoso depois de sentir atração (excitação?) por Bella. Corta o cabelo, se tatua, começa a comportar-se de forma mais rude (ui!) e ganha massa muscular. Isto, é bom ressaltar, é mera desculpa esfarrapada para a exibição gratuita e sem fundamento de tórax e abdomens sarados para levar o mulheril ao ensandecimento. Entenda-se, apelação.
De alguma forma, isto pode até fazer algum sentido. Vejamos: Edward é romântico, cavalheiro e culto. Jacob é solitário e bruto, porém apaixonado. E na confusão de sentimentos, Bella se vê dividida entre o pálido e gélido vampiro e o bronzeado e aquecedor lobisomem. A tradução do sonho de qualquer adolescente, que é ser disputada por dois homens que carregam consigo as características opostas que elas tanto admiram. Mas vamos falar sério, o que diabos esses dois caras viram na Bella? Ela é uma garota sonsa, lerda, desequilibrada, desastrada e carrega sempre a mesma expressão compungida. Se a Bella é o arquétipo das adolescentes de hoje, Deus, que raios de mulheres elas serão no futuro? Mas há alguns momentos de ação! E eles, de certo modo, compensam a falta de algo mais interessante no enredo. Porém não apagam o constrangimento da hemorragia de frases clichês que escorre da tela. No fim, a única coisa digna de nota no filme é a presença enigmática e andrógina dos Volturi, a casta mais nobre dos vampiros. Ali, naquele instante em que roubam a cena, esquece-se um pouco do sentimentalismo piegas e concentra-se na mitologia atualizada dos sugadores de sangue. Fim. Quer ir com sua namorada, boa sorte, o risco é seu. Mas lembre-se de levar um I-Pod junto. Ele pode lhe ser de grande valia.
NOTA: 7,5